quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Os ventos e a sustentabilidade

Mapa do potencial eólico brasileiro.

Desde o século V a.C., na Pérsia, sabe-se que os ventos podem gerar energia limpa e abundante. É de lá que vem o moinho de vento, invenção originalmente utilizada para mover água e irrigar os campos de arroz e trigo. Os mecanismos básicos que movimentam os moinhos não mudaram desde então; o vento atinge uma hélice que, ao movimentar-se, gira uma polia que impulsiona outro equipamento. Na antiguidade, um monjolo. No século XXI, um gerador de eletricidade.

Os séculos que separam o moinho persa dos atuais parques eólicos foram marcados por grandes descobertas científicas. Elas, inclusive, explicaram o que é vento. Não é o sopro dos deuses, como os antigos imaginavam. O vento é o resultado da diferença de temperatura entre a água e a terra, planícies e montanhas, nas regiões tropicais, equatoriais e polares. A força do vento – e a quantidade de energia nele contida – depende da época do ano, da hora do dia e da vegetação e topografia local.

O litoral brasileiro, por suas características, é considerado um local “abençoado” por ventos que podem gerar milhões de quilowatts de energia elétrica. Desde os anos 1990 há empreendedores fincando hastes e hélices em alguns locais especialmente beneficiados pelos regimes de ventos, como o litoral de Santa Catarina e do Ceará. No entanto, as iniciativas não têm prosperado, porque a energia eólica nunca foi vista como viável.

Mas essa idéia vem mudando, principalmente depois que a questão das mudanças climáticas entrou na pauta dos governos, das empresas e da sociedade. O Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa) listou a energia eólica como alternativa às hidrelétricas, em épocas de seca, mas favoreceu a construção de termelétricas movidas a óleo combustível ou a gás natural. A explicação era o alto custo de instalação das usinas eólicas, que encarecia o preço do megawatt.

Com a retração das economias européias, no entanto, os investidores e fabricantes de equipamentos voltaram suas atenções para o Brasil, e o preço baixou em poucos meses. No primeiro leilão de fontes renováveis alternativas, realizado em dezembro de 2009, o preço da eólica havia ficado em R$ 148 o megawatt. No segundo, ocorrido em agosto deste ano, esse preço baixou para R$ 130,60, menor até do que o da energia gerada por bagaço de cana.

O resultado surpreendeu até mesmo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e firmou a energia eólica como alternativa viável à obtida por meio de combustíveis fósseis no Brasil.

Como a estimativa é de que os preços baixem ainda mais nos próximos leilões, as usinas eólicas poderão quintuplicar sua capacidade instalada até 2013, segundo a Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeolica). O setor, que hoje tem 744 MW instalados e 1.806 MW em processo de instalação, poderá ter mais 2.047 MW até 2013, contando com um total de 161 usinas, caso cumpra os contratos vendidos no leilão de agosto. Os investimentos previstos são de R$ 18 bilhões.

Com leilões regulares de energia eólica e o interesse dos grandes fabricantes de trazer para cá as indústrias de equipamentos, o Brasil poderá tornar-se, em pouco tempo, uma “potência eólica”. Um novo mapeamento mostra que o potencial eólico do país é de 300 mil MW, quase o dobro da capacidade instalada no mundo todo, que é de 158 mil MW. O Nordeste tem sido a região preferida para a construção das novas fábricas, justamente porque o maior potencial eólico encontra-se nessa área do país. Por isso, a maior parte dos investimentos está sendo dirigida para lá. Assim, em pouco tempo, o Nordeste poderá ter não apenas muitas usinas eólicas, mas um parque industrial avançado para a fabricação de componentes.

Por Cristina Spera (Instituto Ethos)

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