sexta-feira, 13 de junho de 2025

GIORNALE DELLA VELA: Entrevista de Torben Grael na Itália

 


Torben Grael: “L’essenza della vela? Le olimpiadi. L’oceano? Ora lo farei con i miei figli”

Venti minuti di chiacchierata in banchina con Torben Grael, durante la tappa in Toscana della Vela Cup, parlando di Coppa America, Giro del Mondo e Olimpiadi ma anche di barche, di mare e marinai.

Assista à entrevista de Torben Grael.

5 medaglie olimpiche (di cui due d’oro) in 5 diverse edizioni, 7 ori mondiali (di cui 2 sulle Star), un primo posto al Giro del Mondo su Ericsson 4 nel 2009, l’indimenticabile vittoria della Louis Vuitton Cup del 2000 con Luna Rossa.

Timoniere, tattico, comandante, “l’uomo che parla col vento” è uno dei grandi, se non il più grande, della storia della vela.



domingo, 8 de junho de 2025

CELEBRAÇÃO DOS TRÊS ANOS DA ASSOCIAÇÃO DOS PESCADORES E AMIGOS DA LAGOA DE PIRATININGA - APALAP

Cerimônia de entrega do certificado de Utilidade Pública da APALAP, proposto pelo vereador Binho Guimarães, líder do Governo na Câmara Municipal.


Com o prefeito Rodrigo Neves, a primeira-dama Fernanda Sixel, vereador Binho Guimarães, a administrador regional da Região Oceânica, Rodrigo Tininho e dirigentes da APALAP.

Com o vereador Binho Guimarães e o presidente da APALAP Luiz Mendonça, aniversariante do dia.

Vista da sede da APALAP.

Sede da APALAP, vista de drone sobre a Lagoa de Piratininga.

Pescadores deixam a sede da APALAP para uma atividade de congraçamento dos pescadores na Lagoa de Piratininga.  

Pescadores se encontram na Lagoa de Piratininga.
 
Pescadores da APALAP se unem em um círculo na Lagoa de Piratininga.

Feliz de ser agraciado com a miniatura de um barco de pescador feito por um pescador-artesão.

Encerrando a Semana Mundial do Meio Ambiente, hoje foi mais um dia de curtir o Parque Orla de Piratininga Alfredo Sirkis - POP e celebrar os primeiros três anos da Associação dos Pescadores e Amigos da Lagoa de Piratininga - APALAP. E a celebração foi em dose dupla, pois também foi o aniversário do presidente da APALAP, o pescador Luiz Mendonça.

Idealizamos o POP em 2014, quando desenvolvemos o projeto do Parque Natural Municipal de Niterói - PARNIT (Decreto 11.744/2014),  que elevou as áreas protegidas a mais de 56% do território do município. O POP faz parte do PARNIT. Posteriormente, desenvolvemos o Programa Região Oceânica Sustentável- PRO Sustentável, por determinação e estímulo do então prefeito Rodrigo Neves. Captamos recursos junto ao Banco de Desenvolvimento da América Latina - CAF. O PRO Sustentável foi conduzido pela equipe da UGP/CAF, vinculado ao meu gabinete e teve a eficiente coordenação da geógrafa Dionê Marinho Castro. O parque começou a ser implantado em 2021, após uma contratação e Ordem de Início das obras ocorridas no final de 2020.

A APALAP surgiu na época que o POP estava em implantação, mas os pescadores já acompanhavam nas etapas anteriores. Portanto, os pescadores de Piratininga são parceiros e acompanharam o POP desde a época do seu planejamento e elaboração de projetos e emprestaram a sua experiência e vivência na lagoa para ajudar a desenvolve-lo. Enquanto muita gente tentava desacreditar a iniciativa, os pescadores sempre estiveram conosco, mesmo quando trouxeram as suas críticas e sugestões, sempre muito bem-vindas.

Atendendo às reivindicações dos pescadores, construímos a sede da organização, os seus "ranchos" locais, píeres de atracação e desembarque da produção e outros equipamento de apoio à atividade. O próximo passo será a implementação de um espaço para conservação, beneficiamento e comercialização da produção, cujo planejamento iniciamos em 2024.

O presidente Luiz Mendonça sempre me manda notícias da Lagoa, mostra o resultado da sua pesca e relata o aumento da produtividade pesqueira daquele ecossistema. Segundo fomos informados, a produção dos pescadores já está por volta de 60 toneladas/ano. Tal fato também é um indicador do resultado das medidas de recuperação da lagoa implementadas pela Prefeitura, como os jardins filtrantes do POP, a ampliação do saneamento e a realização do programa Ligado na Rede, a obra de restauração e melhorias do Túnel do Tibau e outras medidas.

Em março de 2025, Luiz Mendonça nos convidou para um passeio no seu barco na Lagoa de Piratininga. O passeio era parte de uma programação de Turismo de Base Comunitária que a APALAP desenvolveu com o apoio da Fiocruz, uma bela iniciativa que precisa ser continuada. É bom para os pescadores, para o parque, para a lagoa e, portanto, é bom para a cidade!

Na visita de hoje, estivemos com o atual prefeito Rodrigo Neves, a primeira-dama Fernanda Sixel e o vereador Binho Guimarães (PDT), líder do governo na Câmara de Vereadores, que entregou o certificado de Utilidade Pública da APALAP, concedido pelo Legislativo Municipal, através da iniciativa do vereador.

Vemos com orgulho e admiração o avanço da organização dos pescadores, que já contam com cerca de 80 associados.

Sucesso para a APALAP e parabéns para o Luiz Pescador.

Axel Grael
Prefeito de Niterói (2021-2024)

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sábado, 7 de junho de 2025

Brasil lança nova estratégia para proteger biodiversidade

Epanb apresentará metas e ações para conservação da biodiversidade, uso sustentável de recursos e repartição justa dos benefícios derivados

Nova Epanb prevê articulação com outras políticas públicas, como o Plano Nacional de Recuperação de Vegetação Nativa (Planaveg), que estabelece a meta de recuperação de 12 milhões de hectares até 2030 - Foto: Acervo MMA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou, nesta terça-feira (3/6), ao lado da ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, o decreto que estabelece a nova Estratégia e Plano de Ação Nacionais para a Biodiversidade (Epanb). Com isso, a iniciativa passa a ser reconhecida como instrumento orientador para a implementação de metas e ações de conservação da biodiversidade, uso sustentável dos recursos naturais e repartição justa dos benefícios derivados da diversidade biológica para todo o país, com integração de diferentes setores do governo e da sociedade.

O ato, realizado no Palácio do Planalto em Brasília (DF), abriu as celebrações ao Dia Mundial do Meio Ambiente, que ocorre na próxima quinta-feira (5/6). O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) é responsável pela coordenação da Epanb.

A nova Epanb prevê a articulação com outras políticas públicas, como o Plano Nacional de Recuperação de Vegetação Nativa (Planaveg), que estabelece a meta de recuperação de 12 milhões de hectares até 2030, e o Programa Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa), que promoverá a inclusão socioeconômica das comunidades locais, entre outros programas.

Essa será a primeira revisão realizada desde 2017, quando o primeiro estratégia foi publicada pelo MMA. Agora, a Epanb passa a ser norteada pelas 25 metas nacionais recomendadas pela Comissão Nacional de Biodiversidade (Conabio), alinhadas ao Marco Global de Kunming-Montreal e à Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), compromissos internacionais assumidos pelo Brasil.

Metas

A primeira meta da Epanb prioriza a redução da perda de áreas importantes para a biodiversidade e foi subdividida em duas metas. Uma tem o objetivo promover o planejamento espacial, terrestre e marinho, e outra busca zerar o desmatamento ilegal e a conversão da vegetação nativa.

A segunda e a terceira miram a restauração, a conservação e o manejo dos ecossistemas. As demais têm o objetivo de deter as extinções de espécies e a perda de variabilidade genética, reduzir a introdução e os impactos das espécies exóticas invasoras, diminuir a poluição e seus impactos sobre a biodiversidade, minimizar o impacto da mudança do clima sobre a biodiversidade.

A promoção do uso sustentável da biodiversidade, da bioeconomia, das atividades produtivas sustentáveis, da sustentabilidade na pesca extrativa, das atividades empresariais sustentáveis e das medidas de biossegurança também estão contempladas nas metas. Acesse a relação completa aqui.

No conjunto de objetivos da política, está o engajamento dos povos indígenas, povos e comunidades tradicionais e agricultores familiares na implementação das metas nacionais. Essas populações desempenham papel crucial na preservação da biodiversidade, a partir de suas práticas sustentáveis e conhecimentos tradicionais.

Monitoramento

Além de articular a implementação da estratégia, o MMA será responsável por monitorar a execução da Epanb. A diretriz será elaborada em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Os resultados serão consolidados em relatórios nacionais a serem enviados para a CDB.

Já o processo de implementação será estabelecido em até 90 dias, após a publicação do decreto. A nova Epanb estará vigente até 2030. Ao fim desse período, deverá ser revisada. Depois disso, a atualização será realizada a cada dez anos.

Implementação nos estados e municípios

O decreto prevê ainda ações do MMA para estimular que estados, Distrito Federal e municípios desenvolvam suas próprias estratégias e planos de ação estaduais e locais, alinhadas à Epanb e consideradas as especificidades de cada região.

Processo participativo

O processo de revisão da Epanb foi desenvolvido de forma participativa e em parceria com diversos setores da sociedade. Durante meses, foram realizadas oficinas para reunir contribuições de representantes da sociedade, entre eles, governos federal, estaduais e municipais, ONGs, iniciativa privada, setor acadêmico, povos indígenas, povos e comunidades tradicionais e agricultores familiares.

Fonte: Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima



Cenário global traz incerteza para resultado da COP30, dizem especialistas

Brasil enfrenta receios quanto aos impactos negativos de propostas como o projeto que flexibiliza o licenciamento ambiental e a exploração de petróleo na foz do Amazonas.


Com a COP30 se aproximando, o cenário internacional se mostra cada vez mais desafiador para as negociações climáticas. A saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris e o atual recuo da União Europeia (UE) em sua liderança ambiental agravam a incerteza no panorama global.

Para Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa, “já houve outras conferências em tempos muito delicados, mas a singularidade do que estamos vivendo agora é que há uma incerteza institucionalizada, e muito por conta do que tem feito Donald Trump. Parece que a instabilidade virou a norma”. Ela também alerta que a atuação da UE está enfraquecida por fatores geopolíticos e comerciais, o que pode prejudicar seu papel nas negociações, noticiou a Folha.

Outro ponto de preocupação é o atraso generalizado na entrega das NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas), que deveriam conter metas atualizadas para 2035. Apenas 21 dos 194 países que ratificaram Acordo de Paris apresentaram suas propostas, apesar do prazo oficial ter se encerrado em fevereiro. Essa defasagem pode comprometer o esforço coletivo pela limitação do aquecimento global em 1,5°C.

As poucas propostas nacionais já submetidas também levantam alertas: segundo o Climate Action Tracker, apenas a proposta do Reino Unido está alinhada aos objetivos do Acordo de Paris. A NDC do Brasil, por sua vez, foi considerada incompatível com as metas climáticas. As atenções se voltam agora para os demais países do G20, responsáveis por 80% das emissões globais, especialmente para a China.

O Brasil, como anfitrião da COP30, tem buscado acelerar a entrega das metas por meio de articulações com a ONU. Em cúpula virtual convocada por Lula e António Guterres, o presidente chinês Xi Jinping afirmou que a NDC chinesa para 2035 incluirá todos os setores da economia e todos os gases de efeito estufa. Unterstell considera que a relação entre Brasil e China pode ser estratégica, especialmente na cooperação sobre florestas.

No entanto, a presidência brasileira da COP30 enfrenta desafios internos. Apesar da boa reputação diplomática, há receios quanto aos impactos negativos de propostas como o projeto que flexibiliza o licenciamento ambiental e a exploração de petróleo na foz do Amazonas. “A tensão está altíssima, e todos esses elementos tiram, sim, o nosso brilho. E mais do que isso, vão tirar muito a atenção sobre as coisas que precisam acontecer”, afirma Unterstell.

Meghie Rodrigues lembra na Folha que apesar dos retrocessos, neste momento sintetizados pelo avanço do PL da Devastação (2159/2021), o Brasil registrou avanços significativos no combate ao desmatamento em 2024, com queda de mais de 30% em todos os biomas, exceto na Mata Atlântica, que manteve a mesma taxa do ano anterior — após uma redução de 60% em 2022. Segundo o MapBiomas, essa é a primeira redução em seis anos, atribuída a políticas como o Fundo Amazônia e ações do governo federal. Para Carlos Rittl, da Wildlife Conservation Society, o país caminha para o terceiro ano consecutivo de queda expressiva no desmatamento, o que reforça o papel da ministra Marina Silva.

Além disso, o governo tem trabalhado na reconstrução da governança ambiental, com iniciativas como o Plano Clima, que estabelece medidas de combate às mudanças climáticas até 2035. Taciana Stec, do Instituto Talanoa, ressalta que o plano, ainda em desenvolvimento, passou por ampla consulta pública e representa um avanço importante, podendo se tornar uma das principais contribuições do Brasil para a COP30. Esses esforços indicam uma retomada das políticas ambientais após anos de desmonte, com foco em adaptação e mitigação dos efeitos do clima.

Lideranças da Sociedade Civil e de Organizações Indígenas, por sua vez, seguem temendo não ter espaço de fala proporcional à sua importância para o debate dos temas climáticos em Belém, como noticia a Folha. Já a expectativa dos cientistas amazônidas é que a COP30 deixe um legado de valorização de povos tradicionais e da ciência feita na região.

UOL Ecoa, Nexo, Folha, entre outros, noticiaram as expectativas de diferentes grupos para a COP30.

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Em tempo: A secretária de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Tatiana Rosito, afirmou à CNN que há uma "grande expectativa" de que o grupo de 30 ministros das Finanças, formado a pedido da presidência brasileira da COP30, consiga superar impasses históricos no financiamento climático. O "Roadmap Baku-Belém", que visa canalizar US$ 1,3 trilhão para financiar ações climáticas em países em desenvolvimento até 2035, será finalizado até outubro e objeto de debate na COP30. "Estamos muito encorajados", disse Rosito, ressaltando a importância do multilateralismo em meio a conflitos globais, embora os EUA ainda não integrem a iniciativa. O grupo, liderado por Fernando Haddad, busca mobilizar recursos por meio de bancos multilaterais, mercados de carbono e reformas regulatórias, com próxima reunião marcada para junho em Sevilha.

Fonte: ClimaInfo



“O tempo é curto. A janela está se fechando”, diz Thelma Krug sobre as metas do Acordo de Paris

 

A conferência ocorreu 30 de maio na sede da FAPESP (foto: Daniel Antônio/Agência FAPESP)


Na 4ª Conferência FAPESP 2025, a ex-vice-presidente do IPCC afirmou que o segmento de energia renovável cresce mais rapidamente do que o da energia fóssil. E disse não perder a esperança de que se consiga limitar o aumento da temperatura média global em 1,5 °C em relação aos níveis pré-industriais.

José Tadeu Arantes |Agência FAPESP – A transição energética não está alinhada com a meta de conter o aumento da temperatura global em 1,5 °C; os combustíveis fósseis continuam dominando o mix de energia das maiores economias do mundo, que são também as maiores emissoras de gases de efeito estufa; por isso, a cada ano fica mais difícil atingir os objetivos do Acordo de Paris. Estas duras constatações foram apresentadas pela pesquisadora Thelma Krug durante a quarta Conferência FAPESP 2025: “Contribuições para a COP30: Transição Energética”, realizada em 30 de maio.

Krug foi vice-presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU) no período 2015-2022 e integra o Conselho Superior da FAPESP. PhD em estatística espacial pela University of Sheffield, no Reino Unido, ela participou da Coordenação de Observação da Terra do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e atualmente dirige o Departamento de Políticas para o Combate ao Desmatamento do Ministério do Meio Ambiente.

Vale lembrar que o Acordo de Paris, ratificado em 2015 por 194 países e a União Europeia (os Estados Unidos se retiraram em janeiro deste ano, já no contexto do segundo governo Donald Trump), estabeleceu o objetivo de limitar até o fim deste século (2100) o aumento da temperatura média global abaixo de 2 °C em relação aos níveis pré-industriais, com esforços para restringir esse aumento a 1,5 °C.

Apesar das constatações nada auspiciosas que apresentou, Krug classificou-se como “otimista” e afirmou que “não perde a esperança de que as metas de Paris venham a ser cumpridas”. Uma sinalização nesse sentido é o crescimento do segmento de energias renováveis no suprimento total de energias primárias dos países do G20. “No ano de 2023, houve um recorde na implementação de nova capacidade instalada de energia renovável. Nós tínhamos 308 GW em 2022 e passamos para 473 GW em 2023. Do total de renováveis adicionadas, 63% ocorreram na China, 15% na União Europeia e 7% nos Estados Unidos”, disse.

A pesquisadora apontou uma desaceleração no uso de energias de origem fóssil em contraposição a uma aceleração no uso de renováveis. No entanto, a predominância das energias de origem fóssil ainda é acachapante. “Praticamente 80% do consumo global de energia está atribuído aos países do G20, que dependem de combustíveis fósseis para mais de 70% de sua geração de energia primária”, informou.

Com vista a viabilizar a meta de 1,5 °C, o Primeiro Balanço Global do Acordo de Paris, de dezembro de 2023, exortou os países participantes a triplicar a capacidade instalada de energia renovável, dobrar a taxa de melhoria em eficiência energética e zerar as emissões líquidas de gases de efeito estufa até meados do século.

“Uma análise recente indica que triplicar a capacidade instalada de energia renovável é uma meta ambiciosa, mas alcançável. Dada a implantação anual recorde que está ocorrendo, principalmente com a crescente incorporação de energia fotovoltaica, e a competitividade com os combustíveis fósseis, daqui a pouco vai ser muito mais vantajoso partir para energias renováveis do que manter a matriz energética baseada em fósseis”, argumentou Krug.

Segundo a pesquisadora, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), que ocorrerá em novembro deste ano em Belém, no Pará, será um momento crítico para os países avaliarem suas ambições em termos de energias renováveis e atualizarem as suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) – compromissos voluntários que cada país apresenta no âmbito do Acordo de Paris com o objetivo de combater as mudanças climáticas. “Nem tudo está perdido. O IPCC dizia no seu relatório sobre mitigação que a gente já tem hoje disponíveis tecnologias que possibilitam reduzir, até 2030, metade das emissões de 2019. O problema não é a inexistência dessas tecnologias, mas as barreiras para sua implementação. Barreiras financeiras, de capacitação, políticas, que precisam ser superadas”, sublinhou Krug.

No encerramento da sua fala, a pesquisadora enfatizou: “O tempo é curto. A janela está se fechando. Já passamos momentaneamente dos 1,5 °C. Isso não significa que fracassamos. Significa que precisamos agir. Urgentemente”.

A 4ª Conferência FAPESP 2025, “Contribuições para a COP30: Transição Energética”, foi aberta pelo professor Oswaldo Baffa Filho, coordenador da Comissão Organizadora das Conferências e Escolas Interdisciplinares FAPESP, e teve a participação do professor Gilberto Jannuzzi, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). "Uma coisa de que a gente ainda não fala muito e que tem grandes implicações para a transição energética é a questão dos minerais críticos. Esse tema entrou em evidência agora, porque há uma corrida internacional. Só consigo ter mais energia solar ou eólica se tiver também os minerais que preciso para fazer as baterias, para fazer os componentes do carro elétrico, e assim por diante. O Brasil tem minerais críticos, a América do Sul tem minerais críticos, e a gente precisa rapidamente também desenvolver um pouco mais a ciência desses minerais, a engenharia desses materiais", avaliou Jannuzzi.

Também participaram do evento como debatedores os professores André Furtado, da Unicamp, e Helder Queiroz, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Gilberto Jannuzzi e André Furtado participaram do debate, mediado por Sabine Righetti (foto: Daniel Antônio/Agência FAPESP)

Furtado ressaltou o papel dos biocombustíveis na transição energética brasileira. “O setor de biocombustíveis vai ser o componente central dessa transição. Terá que haver etanol de segunda geração e outras formas de biocombustíveis baseadas em resíduos. Isso exige muitos investimentos em pesquisa e desenvolvimento, que ainda não estão disponíveis”, falou. Já Queiroz apontou que a transição energética não será homogênea no mundo, nem sequer dentro de um mesmo país. “Não vai existir uma transição energética única. As soluções têm que ser encontradas por todos, mas serão diferentes nos planos nacionais – e até subnacionais”, enfatizou.

A quarta Conferência FAPESP 2025 “Contribuições para a COP30: Transição Energética” teve a moderação de Sabine Righetti, assessora da Coordenadoria Geral – Mídia Ciência da FAPESP. E pode ser assistida na íntegra em: www.youtube.com/live/EOxAGZv6Jmk.

Fonte: Agência FAPESP





Fogo e agricultura impulsionam a degradação do solo no sul da Amazônia

 

Floresta degradada pela queima no chamado Arco do Desmatamento da Amazônia (foto: Mário Lucas Medeiros Naval/Cena-USP)

Estudo mostra que perdas de carbono e nitrogênio do solo persistem por quase uma década após queimadas e que a conversão para agricultura causa impactos ainda mais severos

José Tadeu Arantes | Agência FAPESP – Incêndios florestais frequentes e expansão agrícola estão degradando a saúde dos solos do sul da Amazônia, com danos duradouros sobre os estoques de carbono (C) e nitrogênio (N) e sobre a funcionalidade geral do solo dos ecossistemas. É o que mostra um estudo realizado por pesquisadores brasileiros e estrangeiros na Estação de Pesquisa Tanguro, localizada na região de transição entre a Floresta Amazônica e o Cerrado, no Arco do Desmatamento Amazônico.

“Estamos falando de um fogo que não é natural. No Arco do Desmatamento, as queimadas recordes resultam da combinação da expansão agrícola e pecuária, degradação de florestas nativas vizinhas e secas prolongadas provocadas pelas mudanças climáticas – todas promovidas pela ação humana”, afirma o pesquisador Mário Lucas Medeiros Naval, primeiro autor do estudo. “Nosso trabalho mostra como essas queimadas sucessivas têm impacto de longo prazo na matéria orgânica e em outros atributos essenciais do solo e como isso se compara à agricultura da região”, comenta.

O estudo, publicado na revista Catena, analisou os efeitos da conversão da floresta para agricultura e da frequência de queimadas sobre a matéria orgânica do solo, além de diversos indicadores físico-químicos de saúde do solo. Foram comparados quatro cenários: floresta intacta, floresta queimada anualmente, a cada três anos e área convertida para agricultura, sob sistema de plantio direto e com rotação de culturas.

“Nossos resultados mostram uma diminuição nos estoques de carbono no solo de 17% com queimas anuais, 19% com queimas trianuais e 38% com a conversão agrícola”, diz Naval. “Mesmo quando a agricultura adota boas práticas, como rotação de culturas e plantas de cobertura, ainda assim gera perdas mais severas de carbono do solo do que o fogo que incide sobre florestas nativas.”

O pesquisador explica que a área estudada é uma floresta de transição, que se assemelha ao cerradão, com árvores de 20 metros de altura em média. “Ela não é tão alta como a floresta do centro da Amazônia, mas também não é cerrado stricto sensu. E é justamente nessa região que a fronteira agrícola tem avançado com mais força, principalmente com a soja”, afirma.

A pesquisa foi realizada em uma área experimental de 150 hectares, gerenciada pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), dentro da reserva legal de uma propriedade privada, onde há a Estação de Pesquisa Tanguro. “Tivemos acesso a uma área grande, com 50 hectares para cada tipo de tratamento, o que nos permitiu uma amostragem representativa”, destaca o pesquisador.

“Um aspecto importante do estudo é que avaliamos os solos nove anos após a última queimada. Mesmo com o tempo de recuperação da floresta, os estoques de carbono e nitrogênio ainda estavam significativamente reduzidos”, acrescenta. Segundo Naval, as perdas de carbono e nitrogênio comprometem propriedades essenciais, dados os múltiplos benefícios da matéria orgânica para diversos indicadores de saúde do solo. “Por exemplo, nossos resultados evidenciam que, diminuindo os estoques de carbono, grande parte da capacidade de troca catiônica [CTC, uma das formas de mensurar a capacidade de retenção de nutrientes do solo] é perdida”, explica o pesquisador. Assim, o estudo também revelou impactos sobre outros indicadores físicos e químicos, evidenciando uma degradação mais ampla da saúde do solo.

A pesquisa demonstrou que a perda de carbono total – somando o carbono armazenado na biomassa acima do solo e o carbono armazenado no solo – chegou a 33% na queima anual e 48% na queima trianual. “Isso mostra que, do ponto de vista do ecossistema como um todo, as frequências de fogo têm impacto diferenciado, ainda que no solo a diferença estatística entre os dois regimes não tenha sido significativa”, explica.

“Ao contrário do Cerrado, onde o fogo é natural do ecossistema e exerce um papel ecológico, na Amazônia nós estamos falando de um elemento que é exógeno e induzido pela mudança no uso do solo, não de queimadas naturais. Queimar a Floresta Amazônica significa interferir em um ambiente não adaptado ao fogo”, resume Naval.

Os autores recomendam a adoção de políticas de contenção da fronteira agrícola, prevenção de incêndios florestais e implementação de sistemas agrícolas mais biodiversos, como as agroflorestas. Segundo eles, essas práticas armazenam grandes quantidades de carbono, essenciais para a estabilidade climática global, e preservam a saúde dos solos amazônicos.

“A busca por alternativas ao modelo convencional de produção agrícola é essencial não apenas para a preservação ambiental, ao evitar novas queimadas, mas também para garantir a segurança alimentar da população” esclarece o pesquisador Plínio Barbosa de Camargo, um dos coordenadores do estudo.

O trabalho integra o projeto internacional Amazon PyroCarbon, financiado pela FAPESP e pelo Natural Environment Research Council (NERC) e UK Research and Innovation (UKRI), ambos do Reino Unido. A iniciativa estuda os impactos do fogo em diferentes regiões da Amazônia e é coordenada por Camargo e Ted Feldpausch, da Universidade de Exeter. “Esse trabalho na Estação de Pesquisa Tanguro é apenas parte de uma iniciativa mais ampla que está mapeando como o fogo afeta os solos amazônicos em vários pontos do bioma”, diz Naval, atualmente mestrando no Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena-USP). O financiamento do estudo também contou com bolsa de pós-doutorado fornecida ao segundo autor, Wanderlei Bieluczyk.

O artigo Impacts of repeated forest fires and agriculture on soil organic matter and health in southern Amazonia pode ser acessado em https://doi.org/10.1016/j.catena.2025.108924.

Fonte: Agência FAPESP



quarta-feira, 4 de junho de 2025

VEJA ALGUNS REGISTROS DOS TRABALHOS DE MANUTENÇÃO E MELHORIAS CONTINUADAS DO PARQUE ORLA PIRATININGA - POP

Você já conhece o Parque Orla de Piratininga Alfredo Sirkis - POP, a premiada iniciativa da Prefeitura de Niterói que fica cada dia mais belo e atrai mais visitantes?

A nova geração e o futuro

No Dia Mundial do Meio Ambiente, 05 de junho, celebramos uma das maiores conquistas de Niterói na busca pela sustentabilidade urbana: o Parque Orla de Piratininga Alfredo Sirkis - POP, uma das mais importantes entregas do Programa Região Oceânica Sustentável - PRO Sustentável. Apresentamos aqui uma atualização dos avanços na sua conservação, a expansão dos seus jardins e a iniciativa Fruta no Pé - a implantação de um grande pomar espalhado pela área do POP, oferecendo mais uma atração para o visitante e frequentador.

A infraestrutura do parque foi inaugurada em setembro de 2024 e conta com jardins filtrantes e outras técnicas de drenagem sustentável idealizadas para ajudar a despoluir e recuperar o Sistema Lagunar de Piratininga e Itaipu. O POP possui 680 mil metros quadrados, conta com 8 píeres e 17 praças, e uma ciclovia cênica de 11 km no entorno da Lagoa. O Centro EcoCultural Sueli Pontes - sede do parque, é também o primeiro equipamento cultural público da Região Oceânica, oferece uma exposição sobre os ecossistemas da Lagoa de Piratininga e da Região Oceânica de Niterói e oferece uma programação de educação ambiental. Na Ilha do Tibau, acontece o Núcleo Avançado de Sustentabilidade, Cultura e Esporte - NASCE, que oferece uma programação permanente de atividades esportivas, culturais e ambientais para a comunidade.

O caráter inovador do POP, com os seus jardins filtrantes e outras técnicas de drenagem sustentável, é considerado o maior investimento na América Latina em Soluções Baseadas na Natureza - SBN e em fitorremediação. . 

Ciclovia.

A trabalho de manutenção do POP é de responsabilidade da Secretaria Municipal de Conservação e Serviços Públicos - SECONSER e é desenvolvido com o apoio da empresa especializada Viveiro Campo Lindo, vencedora da licitação realizada em setembro de 2024. A Ordem de Início do contrato foi dado ainda na minha gestão como prefeito de Niterói, no dia 15 de novembro, e desde então, estamos realizando um trabalho de conservação e ampliação da área verde do parque. 

Hoje, a empresa realiza o trabalho de plantio de árvores e jardins, mantém a rotina de limpeza e manutenção, conserva e gerencia os jardins filtrantes e atende a demandas do cotidiano. Para isso, gera emprego para 102 profissionais de jardinagem, limpeza e manutenção, além das equipes técnicas e gerenciais. 

Veja o trabalho que está sendo realizado no POP:

JARDINAGEM:

Canteiros

Jardinagem ao lado da ciclovia

Jardinagem

Implantação de canteiros.

Jardinagem.

PLANTIO DE POMAR E ARBORIZAÇÃO:

Preparação para o plantio

Projeto Fruta no Pé: pomar urbano

Pitanga já frutificando.

Pitanga-amarela.

Arborização

MANUTENÇÃO DOS JARDINS FILTRANTES:

Manutenção dos jardins filtrantes

Manutenção dos jardins filtrantes

Vertedor do sistema com a saída do efluente dos jardins filtrantes: água limpa para a Lagoa de Piratininga.

Tanque de sedimentação

FAUNA:

Berçário de jacaré.

Garça

Biguá

Avifauna já usufrui das mudas plantadas.

Parabéns a todos que viabilizaram esse grande legado de Niterói. Parabéns à geógrafa Dionê Castro e toda a equipe do PRO Sustentável, parabéns à secretária Dayse Monassa, ao biólogo Alexandre Moraes e ao saudoso Carlos Boechat, que sem dúvidas também tem a digital dele nesse projeto.

O POP é um orgulho e uma garantia que Niterói seguirá avançando para a sustentabilidade urbana e para uma qualidade de vida melhor para a sua população.

Axel Grael
Engenheiro florestal
Prefeito de Niterói (2021-2024)


segunda-feira, 2 de junho de 2025

Agressão à ministra Marina e a tentativa de desmonte da política de licenciamento ambiental no Brasil

Nos últimos dias, dois episódios ocorridos no Senado causaram indignação e grande preocupação: a agressão contra a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, e a aprovação do Projeto de Lei 2.159/2021.

AGRESSÃO À MINISTRA MARINA

Causou indignação a agressão contra a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, que no dia 27 de maio foi convidada a comparecer a uma audiência na Comissão de Infraestrutura do Senado, para tratar da criação de quatro unidades de conservação marinhas no Amapá. Marina foi questionada também sobre temas como a exploração de petróleo na Foz do Amazonas, o Projeto de Lei do Licenciamento Ambiental e a extensão da BR-319. A ministra foi rudemente ofendida por três senadores, sentiu-se desrespeitada e retirou-se da audiência. 

Ministra Marina Silva reage às ofensas dos senadores.

Ao ouvir do senador Marcos Rogério (PL-RO), "ponha-se no seu lugar", Marina respondeu com altivez e sabedoria:

"...defender meio ambiente, este é o meu lugar. É um lugar que eu ocupo não por ser ministra, mas por ter compromisso com essa agenda desde que me entendo por gente. E talvez eu só esteja no ministério porque tenho esse compromisso e essa prática. Então, o meu lugar, em primeiro lugar, é o de defender o meio ambiente. E, ao defender o meio ambiente, eu estou defendendo o combate à pobreza; ao defender o meio ambiente, eu estou defendendo o agronegócio; ao defender o meio ambiente, eu estou defendendo a indústria; ao defender o meio ambiente, eu estou defendendo os interesses estratégicos do Brasil, porque, hoje, tudo passa pelo meio ambiente. Esse é o meu lugar.”
A iniciativa do Ministério e do ICMBio de criar quatro unidades de conservação que protegerão o litoral e o território marinho do Amapá é correta e necessária e não interfere com a eventual exploração de petróleo na Margem Equatorial, como mostra o mapa abaixo:

Os limites das reservas Flamã, Bailique, Amapá-Sucuriju e Goiabal ficam entre 130 km e 447 km do Bloco FZA-M-59, na Margem Equatorial.

O litoral do Amapá é um dos mais bem conservados, rico em biodiversidade e produtivo em toda a costa brasileira. Foi próximo a aquela região - Ilha do Marajó, na foz do Amazonas - que vi os mais pujantes manguezais, que se espalham também ao longo do litoral do Amapá e, certamente, dão o suporte a rica vida marinha da região. Independente do prosseguimento ou não do licenciamento da Margem Equatorial, a região precisa de ordenamento e proteção. Marina tem razão.

Manguezal na Ilha do Marajó, próximo a Soure. Os manguezais da Foz do Amazonas impressionam pela exuberância. Foto Axel Grael.

Os senadores detratores de Marina não estavam interessados verdadeiramente em conhecer a sua proposta para a área, mas sim armar uma arapuca para constranger a ministra e ganhar alguma repercussão em seus currais eleitorais, notórios pela incidência de crimes ambientais. Que erro de avaliação, que desrespeito, que falta de civilidade, que falta de decoro!

A nossa solidariedade à ministra, mulher de luta e com inegável história na militância, na gestão e política ambiental no país. A agressão contra Marina agride a toda a sociedade. É inaceitável. 

Licenciamento Ambiental

Outro episódio de agressão aconteceu contra a política ambiental do país, com a aprovação pelo Senado, no dia 21 de maio - 54 votos a favor e 13 contra - do PL 2.159/21, que propõe a Lei Geral do Licenciamento Ambiental, ou seja, estabelece um novo marco legal para o licenciamento ambiental no Brasil, com alguns ganhos, mas com sérios retrocessos. 

Com origem na Câmara de Deputados, o PL 3.729/04, de autoria do ex-deputado federal Luciano Zica (PT-SP), foi aprovado em 2021 e encaminhado ao Senado. Portanto, já tramita há 21 anos, tendo ficado em discussão na Câmara por 17 anos e mais quatro anos no Senado. No Senado, recebeu 141 emendas nas comissões de Meio Ambiente (CMA) e Agricultura (CRA) e, depois, mais 56 em Plenário. Agora, o projeto volta para a Câmara dos Deputados, que poderá aceitar ou não as emendas do Senado e, depois, segue para a sanção do presidente Lula.

O Projeto de Lei (PL) tem o apoio da oposição, da bancada ruralista e segmentos empresariais. Seus defensores criticam a demora e o rigor do licenciamento ambiental e argumentam que a lei vai "destravar" e agilizar o licenciamento, acusando os órgãos ambientais de serem "responsáveis por obras paradas no país" (!) 

Por outro lado, ambientalistas, profissionais do setor ambiental, cientistas e ativistas ambientais, contrários ao PL, chamam a iniciativa de "PL da Devastação” e a “mãe de todas as boiadas", pois consideram um retrocesso que implodirá toda a lógica vigente para o licenciamento e poderá permitir muitos danos ao meio ambiente e à população do país.

Licenciamento ambiental

Conheço o licenciamento ambiental sob diversas perspectivas, o que me permite avaliar o Projeto de Lei com olhares bem variados. 

Presidi por duas vezes (1999-2000 e 2007-2008) a Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente - FEEMA, primeiro órgão ambiental do país, fundado em 1975 no estado do RJ. Através do Decreto nº 1.633 de 21.12.77, a FEEMA instituiu o Sistema de Licenciamento de Atividades Poluidoras - SLAP, com um procedimento escalonado, contando com as etapas da Licença Prévia - LP, Licença de Instalação - LI e Licença de Operação - LO. A experiência fluminense inspirou a legislação federal e de outros estados. No âmbito nacional, o licenciamento ambiental foi instituído através da Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981

Hoje, é uma responsabilidade compartilhada pelos órgãos ambientais da União, estados e municípios, de acordo com a magnitude e abrangência dos impactos ambientais. Em 2007, houve a fusão da FEEMA, do IEF-RJ (gestão de florestas e biodiversidade) e a SERLA (responsável por rios e lagoas), dando origem ao  Instituto Estadual do Ambiente - INEA.

Como presidente do órgão ambiental, representei o Estado do Rio de Janeiro como conselheiro do CONAMA, fui vice-presidente da Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Meio Ambiente - ABEMA e da Frente Nacional de Prefeitas e Prefeitos - FNP, através dos quais pude debater as políticas ambientais do país.

Também trabalhei como consultor em licenciamento e projetos ambientais na Amazônia (Pará, Amazonas, Amapá, Rondônia, Tocantins e Roraima), Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica, versando sobre projetos na área de energia (hidrelétricas), mineração (Projeto de Recuperação de Áreas Mineradas - PRAD), remediação de áreas contaminadas (a mais importante foi a área da antiga Indústria Ingá, no Porto de Itaguaí - RJ, recuperado para a implantação de empreendimento da USIMINAS), instalações portuárias e grandes projetos lineares, como rodovias, dutos, linhas de transmissão etc.

Também tive a oportunidade de viajar e conhecer as práticas de licenciamento ambiental em outros países, como EUA e Alemanha.

Críticas

Ao defender o PL, a senadora Tereza Cristina (PP-MS), ex-ministra da Agricultura no governo Bolsonaro e que foi a relatora da matéria na Comissão de Agricultura, afirmou que o licenciamento ambiental é "um cipoal normativo com mais de 27 mil normas ambientais". Não sei se o número está correto, mas é claro que o número de normas tem que ser elevado! Um país de dimensões continentais, de configuração federativa, dividido entre 26 estados (um distrito federal), 5.569 municípios, tão diverso culturalmente, ecologicamente e geograficamente como o Brasil, conseguiria ter uma regra única? Ainda mais para regulamentar uma atividade tão ampla e complexa como a politica ambiental? Como estabelecer procedimentos do Pampa à Amazônia, de norte-a-sul, de leste-a-oeste no nosso país? O modelo gerencial da política ambiental brasileira é federalista e consolidada no Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, portanto é compartilhado pelas três instâncias de governo.

Os detratores de Marina na Comissão de Infraestrutura do Senado, assim como outros parlamentares que defendem o PL, acusam os órgãos ambientais de lentidão, de rigor excessivo e de ideologização do processo de licenciamento e, por esse motivo, pretendem mudar as regras.

Demora?

Quando fui presidente da FEEMA, considerei que o tempo de tramitação dos processos de licenciamento eram realmente excessivos e tomei medidas para a simplificação de vários procedimentos e celebramos uma parceria com a FIRJAN, para resolver o passivo de licenças ambientais que existia no órgão. Mas, o problema tinha também outras dimensões. Determinei uma avaliação dos processos de licenciamentos mais importantes para entender o motivo dos atrasos. Verificamos que 80% dos processos com tempo de tramitação acima da média tinha baixa qualidade de projeto o que inviabilizava a análise. Nesse caso, a equipe da FEEMA solicitava a complementação de informação ou a revisão de projetos. Também havia conflitos com a legislação, o que acabava causando a judicialização dos processos, com a ação dos ministérios públicos e outras reações.

Outro motivo que agrava a percepção de demora dos órgãos ambientais é um erro recorrente no próprio planejamento dos empreendimentos. Normalmente, providencia-se a licença ambiental no final do cronograma do projeto, quando é premente começar a implantação. Isso gera uma pressão por celeridade no licenciamento.

Para mais informações, recomendo acessar uma postagem anterior que fiz aqui no Blog: Por que Licenças Ambientais demoram tanto?

Check list de políticas públicas

O licenciamento ambiental tem história. O SLAP surgiu como uma grande inovação cidadã e democrática, quando o Brasil ainda vivia sob a ditadura militar. Mesmo naquele contexto, o procedimento já previa audiências públicas e a tomada de decisão acontecia em uma instância colegiada, no caso, na Comissão Estadual de Controle Ambiental - CECA. Era revolucionário para aquele momento! 

Ainda hoje, diferente de outras práticas autorizativas governamentais, o processo decisório ambiental não é "na canetada", mas de forma mais transparente, participativa e democrática. Essa característica, fez com que a expectativa social em torno do licenciamento ambiental fosse muito acima do previsto originalmente. A demanda da sociedade, do Ministério Público e outros atores sociais, passaram a cobrar do licenciamento ambiental um papel de "check-list" de políticas públicas. Ou seja, o órgão ambiental passou a ser obrigado a exigir pareceres de outras instâncias, como por exemplo: certidões de zoneamentos municipais, pareceres de órgãos de patrimônio (IPHAN, INEPAC) e outros. Portanto, o licenciamento ambiental assumiu a responsabilidade de ser uma mediação entre os empreendedores e a sociedade, analisando a pertinência da intervenção, a eficiência da tecnologia adotada, garantindo assim o cumprimento da legislação, além da segurança da população, da biodiversidade e do meio ambiente. Este procedimento passou a ser uma salvaguarda para sociedade, mas sobrecarregou ainda mais os órgãos ambientais.

Ideologia nas emissões das licenças ambientais?

Eu sou um ser ideológico! Tenho as minhas convicções e por isto estou na vida pública. A grande maioria dos servidores é como eu: cada um com a sua ideologia e compreensão da sua responsabilidade social e visão de mundo. Mas, acima de tudo, o servidor público é regido pelas leis e regras da administração pública. Na área ambiental, há um rigor legal que difere de outras áreas da administração pública. Trata-se da Lei de Crimes Ambientais. Uma lei dura!, que responsabiliza criminalmente (vai preso!) tanto o poluidor (ou degradador ambiental), o agente financeiro que apoia atividades em desacordo com a legislação ambiental, bem como a autoridade pública que se omite ou prevarica. 

E, no caso do servidor público, caso seja questionado perante a legislação criminal, dificilmente será defendido pelo estado. Ou seja, responderá "com o seu CPF"! Por isso, o servidor precisa se proteger e ser protegido contra as pressões políticas e administrativas para que decida com respaldo na legislação e de acordo com a sua convicção.

LEI GERAL DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL - O QUE PROPÕE?

O PL apresenta algumas modalidades de licenças ambientais, mas sem grandes novidades, uma vez que já são praticadas por órgãos ambientais:

Tipos de licenciamento
  • Licenciamento ordinário: será feito pela modalidade trifásica, ou seja, com LP, LI e LO. Conforme procedimento vigente atualmente, o EIA será exigido na fase de LP.
  • Licenciamento simplificado: será feito pela modalidade bifásica, unindo LP e LI, ou LI e LO, a critério do órgão ambiental licenciador. Também prevê a licença única, ou seja numa única etapa.
Tipos de licenças
  • Licença de Operação Corretiva - LOC: regulariza atividade ou empreendimento que esteja operando sem licença ambiental, por meio da fixação de condicionantes que viabilizam sua continuidade em conformidade com as normas ambientais;
  • Licença por Adesão e Compromisso - LAC: a lei estabelece o procedimento autodeclaratório  para empreendimentos de pequeno ou médio porte e de baixo ou médio potencial poluidor. Eu já vi essa modalidade em execução nos EUA, adotei na FEEMA e defendo a ideia. Mas, a declaração não pode ser um mero ato burocrático. Para funcionar, o compromisso - caderno de encargos, deve ser muito bem detalhado e a penalidade para o descumprimento deve ser rigorosa. Nos EUA a penalidade pelo descumprimento é tão grave que os empreendedores evitam essa opção.
  • Licença Ambiental Única - LAU: licença que, em uma única etapa, atesta a viabilidade da instalação, da ampliação e da operação de atividade ou de empreendimento, aprova as ações de controle e monitoramento ambiental e estabelece condicionantes ambientais para a sua instalação e operação e, quando necessário, para a sua desativação.
  • Licença Ambiental Especial - LAE: trata-se de um "jabuti", casuístico e oportunista, motivado a criar atalhos e enfraquecer o licenciamento da polêmica exploração do petróleo na margem equatorial do Rio Amazonas. 

CONSIDERAÇÕES SOBRE FRAGILIDADES DO PL

Em artigo intitulado "Projeto de licenciamento ambiental é grande retrocesso, diz ministério", publicado no dia 14/05/2025 (portanto antes da aprovação pelo Senado) pela Agência Brasil, da Empresa Brasil de Comunicação - EBC, uma empresa pública federal, o secretário executivo do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, João Paulo Capobianco, apresenta as suas preocupações sobre o PL:
Para o secretário executivo do MMA, o texto fragiliza os licenciamentos e traz retrocessos ambientais já rejeitados pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

"A possibilidade de autolicenciamento ambiental para obras de médio porte, o fim da responsabilização por impactos ambientais indiretos e a redução da participação social nos processos de licenciamento foram alguns dos retrocessos do Projeto de Lei (PL) 2159/2021 citados, nesta quarta-feira (14), pelo secretário executivo do Ministério do Meio Ambiente (MMA), João Paulo Capobianco."
Para o secretário do MMA, o projeto de lei trará insegurança jurídica porque os licenciamentos via LAC serão judicializados. “Temos vários casos em estados que o Supremo já derrubou leis estaduais que estabeleceram LACs, declarando essas legislações inconstitucionais”, acrescentou.

Capobianco disse ainda que é “absolutamente incompreensível” que o projeto inclua a possibilidade de licenças via LAC para empreendimentos de médios portes e impactos. Ele criticou ainda a ausência de regulação para o setor da mineração.

“Vai ficar um vácuo legal. Terá que haver uma outra lei para regulamentar a mineração. Enquanto isso, nós vamos ter um vácuo legal”, disse.

Outro ponto do projeto de lei “absolutamente gravíssimo”, segundo Capobianco, é o que exclui da responsabilidade do empreendimento pelos impactos ambientais indiretos.

“O empreendedor que fará uma obra que irá provocar impactos indiretos conhecidos, demonstrados ao longo da história, não terá nenhuma responsabilidade de adotar medidas ou investir recursos para minimizar esses impactos indiretos. Nós vamos transferir para o Estado, para o poder público, o custo total de se fazer as medidas mitigatórias”, destacou.

Acrescento outras preocupações sobre o disposto no PL: 

Prazos

Certamente, preocupado em agilizar os procedimentos, o legislador pretende estabelecer prazos para as etapas. Por exemplo, no Art. 24°, sobre a elaboração do Termo de Referência - TR para o EIA, estabelece o prazo de 30 dias (§ 4°), "prorrogável por igual período". É um prazo razoável para muitos casos, mas não para licenciamentos mais complexos como os que realizei quando presidi a FEEMA, como empreendimentos como o Comperj, Arco Metropolitano, polidutos etc. São licenças que deliberam sobre atividades de impactos regionais. A qualidade do TR é fundamental para o resultado do estudo, que permitirá uma correta tomada de decisão do órgão ambiental quanto à licença e poderá evitar conflitos e a posterior judialização. O Artigo prevê ainda que o TR seja apresentado ao empreendedor que poderá contestá-lo, ganhando prazo para a sua manifestação (§ 2°). Surpreendentemente, a lei federal fixaria ainda o que está disposto no: "§ 5º - Extrapolado o prazo fixado no § 4º deste artigo, faculta-se ao empreendedor o protocolo dos estudos para análise de mérito com base no termo de referência padrão da respectiva tipologia, disponibilizado pela autoridade licenciadora".

Isenções do Licenciamento Ambiental

Os artigos 8° e 9° listam várias atividades isentas do licenciamento ambiental, sendo que muitas são impactantes e poderão oferecer riscos ao meio ambiente e à saúde pública:


Art. 8º Não estão sujeitos a licenciamento ambiental as seguintes atividades ou empreendimentos:

I – de caráter militar previstos no preparo e no emprego das Forças Armadas, conforme disposto na Lei Complementar nº 97, de 9 de junho de 1999, nos termos de ato do Poder Executivo;

II – considerados de porte insignificante pela autoridade licenciadora;

III – não incluídos nas listas de atividades ou de empreendimentos sujeitos a licenciamento ambiental estabelecidas na forma do § 1º do art. 4º desta Lei;

IV – obras e intervenções emergenciais de resposta a colapso de obras de infraestrutura, a acidentes ou a desastres;

V – obras e intervenções urgentes que tenham como finalidade prevenir a ocorrência de dano ambiental iminente ou interromper situação que gere risco à vida;

VI – obras de serviço público de distribuição de energia elétrica até o nível de tensão de 69 Kv (sessenta e nove quilovolts), realizadas em área urbana ou rural;

VII – sistemas e estações de tratamento de água e de esgoto sanitário, exigível neste último caso outorga de direito de uso de recursos hídricos para o lançamento do efluente tratado, o qual deverá atender aos padrões de lançamento de efluentes estabelecidos na legislação vigente;

VIII – serviços e obras direcionados à manutenção e ao melhoramento da infraestrutura em instalações preexistentes ou em faixas de domínio e de servidão, incluídas dragagens de manutenção;

IX – pontos de entrega voluntária ou similares abrangidos por sistemas de logística reversa, nos termos da Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010;

X – usinas de triagem de resíduos sólidos, mecanizadas ou não, cujos resíduos devem ser encaminhados para destinação final ambientalmente adequada, nos termos da Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010;

XI – pátios, estruturas e equipamentos para compostagem de resíduos orgânicos, cujos resíduos devem ser encaminhados para destinação final ambientalmente adequada, nos termos da Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010;

XII – usinas de reciclagem de resíduos da construção civil, cujos resíduos devem ser encaminhados para destinação final ambientalmente adequada, nos termos da Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010; e

XIII – ecopontos e ecocentros, compreendidos como locais de entrega voluntária de resíduos de origem domiciliar ou equiparados, de forma segregada e ordenada em baias, caçambas e similares, com vistas à reciclagem e a outras formas de destinação final ambientalmente adequada.



No artigo seguinte (Artigo  9°) o PL acrescenta mais atividades, evidentemente atendendo demandas ruralistas::

Art. 9º Quando atendido ao previsto neste artigo, não são sujeitos a licenciamento ambiental as seguintes atividades e empreendimentos:
 
I – cultivo de espécies de interesse agrícola, temporárias, semiperenes e perenes;

II – pecuária extensiva e semi-intensiva;

III – pecuária intensiva de pequeno porte, nos termos do § 1º do art. 4º desta Lei;

IV – pesquisa de natureza agropecuária, que não implique risco biológico, desde que haja autorização prévia dos órgãos competentes e ressalvado o disposto na Lei nº 11.105, de 24 de março de 2005.

Licença Ambiental Especial - LAE

É a mais grave "inovação" do PL. A emenda foi apresentada pelo presidente do Senado Davi Alcolumbre, com o objetivo explícito de facilitar o licenciamento da exploração de petróleo na Margem Equatorial, no seu estado do Amapá. A modalidade de licença é voltada para empreendimentos considerados estratégicos pelo Conselho de Governo, composto pelos ministros que compõem a equipe do próprio governo. A LAE será "monofásica", ou seja, feita em apenas uma fase e terá o prazo máximo de 12 meses para a análise da emissão da licença. Na justificativa, Alcolumbre argumentou que a lentidão no licenciamento ambiental gera entraves ao desenvolvimento e que a emenda busca “eficiência, celeridade e sustentabilidade”. Segundo ele, o modelo atual é burocrático e desestimula investimentos. 

A LAE, portanto, é prevista para politizar o licenciamento dos projetos mais significativos e pressionar a autoridade ambiental. Quem já dirigiu um órgão ambiental sabe que o maior desafio é licenciar justamente os projetos dos colegas de governo.

Importante lembrar que as obras que mais causaram impactos ambientais na história do país foram de iniciativa governamentais e eram consideradas estratégicas. Muitas foram feitas antes da existência dos procedimentos do licenciamento ambiental que, caso tivesse sido submetido a este processo poderiam ter sido evitados muitos dos seus impactos. Exemplos destes projetos são: a TransAmazônica, o Polo Noroeste (Rondônia), Hidrelétrica de Itaipu etc.

Atividades licenciáveis através da Licença de Adesão e Compromisso

A senadora Tereza Cristina, relatora, acatou emenda que autoriza que os empreendimentos de saneamento básico sejam objeto de Licença Ambiental por Adesão e Compromisso (LAC) e um Relatório de Caracterização do Empreendimento (RCE). Esse é um ponto de atenção, pois mesmo tendo função ambiental relevante, estas atividades precisam de cuidados quanto aos seus efluentes e corpos receptores e é bom lembrar que a sua implantação costuma dar conflitos de vizinhança.

Desmatamento na Floresta Amazônica ao longo de estrada próximo ao Rio Madeira, Rondônia. Foto Axel Grael. 

Pelo texto, a LAC também poderá ser utilizada em obras de ampliação de capacidade e à pavimentação em instalações preexistentes. Importante lembrar que as estradas são os principais vetores de desmatamento e degradação na Amazônia e outras regiões e a pavimentação, quando realizada sem os devidos cuidados, potencializa os problemas. Imagina o que poderá acontecer com procedimentos autodeclaratórios para esses casos?

O que os parlamentares não se preocuparam

O PL não faz qualquer alusão às mudanças climáticas. Também chama a atenção que a ênfase é toda na simplificação e no estabelecimento de prazos buscando a celeridade do licenciamento. Os parlamentares poderiam se inspirar num dos princípios constitucionais dos EUA que estabelece a regra "Law and Enforcement", ou seja, a Lei e a sua Aplicação. O que se preconiza é que estabelecida uma obrigação deve ficar claro quem vai proceder e fiscalizar aquela política pública e, principalmente, definir de onde viráo orçamento para que aquela politica funcione. O nosso PL, que deseja agilidade no licenciamento, não faz qualquer referência a necessidade de fortalecimento dos órgãos ambientais, por meio de meios e equipes, para cumprir o objetivo de um licenciamento ambiental mais eficiente e rápido. O Congresso nunca se preocupou em dar um orçamento adequado para estruturar a politica ambiental. 

NEGACIONISMO AMBIENTAL E OS EMBATES NO CONGRESSO

Estamos acompanhando as discussões no Congresso Nacional e vemos que a legislação ambiental, assim como as políticas de meio ambiente e clima estão na mira dos setores mais conservadores da oposição e até mesmo da própria base do governo.

Vivemos um momento de extrema radicalização ideológica no pais e no mundo, em todos os sentidos. O Congresso Nacional brasileiro espelha essa realidade, mas com um agravante: a representação da postura ideológica conservadora, negacionista climática e ambiental está superdimensionada. Não é proporcional ao tamanho desse segmento ideológico na sociedade brasileira e chegou lá inflado pela conturbada conjuntura política e eleitoral de 2022.

A polarização ideológica também se expressa com relação aos temas ambientais, da sustentabilidade e climáticos. São visões de mundo antagônicos e excludentes, dificilmente conciliáveis. A ética da sustentabilidade é conflitiva com a visão antropocêntrica exacerbada e a atitude meramente utilitarista da natureza que encontramos no "pragmatismo desenvolvimentista (?)" que hoje tem grande força no parlamento. 

Até há pouco tempo, essa visão estava no poder. No governo Bolsonaro, o então ministro do Meio Ambiente era um negacionista que pregava "aproveitar o momento das atenções voltadas para a COVID-19 e abrir a porteira para passar a boiada" ou seja, promover o desmonte da legislação ambiental. Ambientalistas, técnicos, cientistas e profissionais do meio ambiente eram execrados e enfrentados como inimigos do desenvolvimento.

Essa visão extemporânea teve o seu auge por volta da década de 1970 e perdurou até 1992. Naquele ano, o Rio de Janeiro sediou a segunda grande conferência do meio ambiente: a Rio-92. Interessante observar que o nome oficial era Conferência da ONU para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento. O próprio nome expressava a dicotomia entre os dois objetivos. O termo "sustentabilidade" surgiu às vésperas da Rio-92. Portanto, setores da sociedade, um grande número de parlamentares e tomadores de decisão sobre políticas públicas ainda estão apegados a conceitos e visão de mundo de quatro décadas atrás.

Hoje, diante das evidências das mudanças climáticas e suas consequências, o mundo se mobiliza para promover a transição para a sustentabilidade, passando pela transição energética, a construção de uma nova economia descarbonizada ou de baixa emissão de carbono. O Brasil sediará a COP30 em Belém, em novembro de 2025 e as principais lideranças mundiais estarão entre nós debatendo os caminhos para essa transição. Algumas pessoas seguem na contramão da história, mas o mundo cada vez se engaja mais com essas mudanças que garantirão a qualidade de vida das futuras gerações. 

A transição é inexorável e temos que seguir perseverando. O futuro será sustentável ou não teremos futuro!


Axel Grael

Engenheiro florestal
Prefeito de Niterói (2021-2024)
Presidente da FEEMA (1999-2000 e 2007-2008)

Ex-vice-presidente da Frente Nacional de Prefeitas e Prefeitos - FNP
Ex-vice-presidente da Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Meio Ambiente - ABEMA