O Observatório do Clima divulgou a matéria abaixo sobre um estudo da universidade de Sun Yat-sen, de Taiwan, que mostra que o mundo teria 398 milhões de hectares aptos para receber plantios de florestas, que ajudariam no enfrentamento da crise climática. Desta área, 20% estariam no Brasil. Caso fosse totalmente reflorestado, a área resultaria na retirada de 40 bilhões de toneladas de carbono da atmosfera até 2050.
A estimativa é bem menor do que um estudo anterior realizado pelo Instituto Federal de Tecnologia de Zurique, que estimava que a área disponível seria de 900 milhões de hectares, o que resultaria na retirada de 25% do carbono na atmosfera. O estudo suíço de origem ao número emblemático de uma meta de plantio de 1 trilhão de árvores.
O estudo agora lançado alerta que dos 398 milhões de hectares disponíveis globalmente, apenas cerca de 30% (120 milhões de hectares) são passíveis de reflorestamento de acordo com os compromissos atuais dos governos mundo afora. Mesmo muito abaixo do possível, caso esse número seja atingido, ou seja, que os países de fato cumpram o que prometeram, atingiríamos apenas 12 bilhões de toneladas em 25 anos, mas que já seria um ganho.
Em 2019, a Assembleia Geral da ONU proclamou a Década da Restauração de Ecossistemas (2021-2030), embalado pelo Desafio de Bonn, lançado pelo governo alemão em 2011, desafiando os países a chegar a uma meta de restauração de 350 milhões de hectares de ecossistemas degradados até 2030. Pelo ritmo atual não chegaremos perto da meta traçada.
O Brasil tem avançado para fazer a sua parte e lançou um ambicioso programa de restauração de áreas degradadas, o Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa - PLANAVEG. O plano prevê a restauração de 12 milhões de hectares até 2030, e a sua implementação já foi iniciada e faz parte da nova NDC brasileira. A iniciativa demanda um grande esforço de planejamento, de logística e de suprimentos, mas com o PRONAVEG, o Brasil já liderará o mundo na restauração florestal, ficando atrás apenas da China.
Axel Grael---------------------------------------------------------------
Amazônia (Foto: Rodrigo Vargas/OC) |
Falta espaço no mundo para expandir florestas, diz estudo
DO OC – Conter as mudanças climáticas por meio do plantio de centenas de bilhões de árvores pelo mundo não esbarra apenas em limitações econômicas e geopolíticas. Estudo publicado na quinta-feira (28) na revista Science indica que a disponibilidade de áreas para florestamento e reflorestamento é muito menor do que o previsto.
Liderado por pesquisadores da universidade Sun Yat-sen (Taiwan), o trabalho afirma que cerca de 398 milhões de hectares estariam aptos globalmente a abrigar tais iniciativas, dos quais 20% deles concentrados em áreas desmatadas do Brasil.
O número equivale a pouco mais de um terço da estimativa feita em 2019 pelo Instituto Federal de Tecnologia de Zurique, na Suíça, segundo a qual o planeta poderia abrigar 900 milhões de hectares de novas florestas e, por meio delas, capturar 25% do carbono então presente na atmosfera. À ocasião, ficou famoso o cálculo de que o espaço seria suficiente para 1 trilhão de novas árvores.
O plantio maciço de florestas é uma das técnicas para atingir as chamadas “emissões negativas”, ou seja, para o mundo eventualmente sequestrar mais CO2 da atmosfera do que emite. Todos os modelos computacionais que simulam a possibilidade de limitar o aquecimento global a 1,5oC, como preconiza o Acordo de Paris, levam em conta muitas emissões negativas. A indústria fóssil defende o plantio maciço de florestas como uma alternativa ao abandono imediato do petróleo.
O novo estudo começou com a produção de mapas com as taxas globais de sequestro de carbono dos ecossistemas (solo e biomassa) no caso de um potencial reflorestamento. O resultado bruto foi então analisado a partir do cruzamento com uma série de fatores limitantes.
Áreas com reduzida disponibilidade hídrica para sustentar uma floresta, por exemplo, foram excluídas. Savanas e outros campos naturais, onde iniciativas do gênero colocariam em risco a biodiversidade local, também foram excluídas da conta.
O resultado dessa primeira triagem, segundo o estudo, seria capaz de retirar cerca de 40 bilhões de toneladas de carbono até 2050 se integralmente colocado em prática. Mas havia outro grande fator limitante a ser considerado: a política.
Dos 398 milhões de hectares disponíveis globalmente, apenas cerca de 30% (120 milhões de hectares) são passíveis de reflorestamento de acordo com os compromissos atuais dos governos mundo afora.
Se mantido este cenário, segundo os pesquisadores, o potencial de sequestro de carbono com o plantio de árvores despencaria para cerca de 12 bilhões de toneladas em 25 anos.
“Os 15 principais países, que representam 70% do potencial global de área, comprometeram apenas 31% do seu potencial estimado”, aponta o estudo, em um trecho.
A maior parcela de áreas sob compromissos de reflorestamento no planeta está no continente africano (50%). Ocorre que, de acordo com os pesquisadores, a maior parte dessas áreas é de savanas.
“A África, com apenas 4% do potencial global de área (16 Mha), assumiu 50% dos compromissos de florestamento (115,5 Mha). Esse potencial limitado de área deve-se principalmente a preocupações com a biodiversidade.”
O Brasil é citado com destaque no estudo pelo grande potencial para o reflorestamento. São ao todo 78 milhões de hectares disponíveis (um quinto da área global), principalmente em regiões recentemente desmatadas da Amazônia.
A ampliação da fronteira agrícola, porém, poderia anular os esforços nessa direção. “Países como Indonésia e Brasil têm potencial para reflorestamento, mas ainda estão perdendo grandes áreas de terras florestais para a agricultura e a produção de commodities”, apontou o estudo.
Entre as conclusões, o estudo destaca que a proteção e o manejo das atuais florestas é tão ou mais importante do que criar novas. E que, muito embora possam efetivamente contribuir para os esforços globais de mitigação, essas iniciativas não substituem a necessidade de uma transição para longe dos combustíveis fósseis.
Implementação difícil
Vice-presidente do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU) de 2015 a 2023, a pesquisadora Thelma Krug, do Inpe, analisou a pedido do OC os dados trazidos pela pesquisa e se disse “totalmente alinhada” às suas conclusões.
Segundo ela, o fim do desmatamento e a proteção e gestão das florestas existentes são muito mais importantes que a criação de novas florestas.
“Novas florestas demoram a crescer e sua contribuição para a mitigação é mais lenta. E a implementação de florestamentos e reflorestamentos bem-sucedidos é desafiadora, apresentando alto custo e difícil execução”, afirmou.
Entre as barreiras à implantação de novas florestas, a pesquisadora citou a alta vulnerabilidade a eventos climáticos extremos, como incêndios florestais, secas ou fortes chuvas.
“Essa vulnerabilidade é agravada pela ausência de ações concretas de redução de emissões fósseis, o que leva a um aumento esperado na intensidade e frequência de secas que, por sua vez, intensificam os incêndios florestais. Ou seja, em termos de contribuições para a mitigação, a descarbonização rápida na indústria e em outros setores é a verdadeira prioridade.”