segunda-feira, 28 de abril de 2025

NITERÓI DE BICICLETA: Uma comparação entre as ciclovias de Niterói e de outras cidades

Pedalando na Ciclovia da Avenida Marquês do Paraná - a mais movimenta do Brasil. à esquerda, o totem de contagens de ciclistas, que permite que o usuário veja a marcação da sua passagem. 

No último fim-de-semana, o programa Cidades e Soluções, da GloboNews, e uma excelente matéria no G1, mostraram que Niterói é hoje uma referência nacional em politicas públicas para a bicicleta. Também confirmaram que temos a ciclovia mais movimentada do Brasil: a Marquês do Paraná

O destaque nos motivou a comparar o que alcançamos em Niterói com a realidade de outras cidades. Fiz um levantamento da extensão da malha cicloviárias de algumas cidades no mundo e fiz a comparação com o programa Niterói de Bicicleta, criado em 2013, ou seja, há 12 anos. Numa história de implantação de uma política cicloviária não tão antiga como de outras cidades, Niterói já conta com uma razoável extensão de ciclovias.

Veja, a seguir, alguns números interessantes:

Copenhague: A ponte exclusiva para a bicicleta é chamada de Cykelslangen (traduzindo: cobra da bicicleta)
 
1- Copenhague (Dinamarca)
População: 638.790 habitantes
Malha cicloviária: 397 km
Proporção: 6,21 km/10.000 habitantes
OBS: Alguns dados sobre o uso da bicicleta em Copenhague:
- 45% de todos os deslocamentos para o trabalho e estudo são feitos de bike.
- 34% utilizam bikes nas horas de lazer.
- A população possui 744.500 bicicletas: cinco vezes mais do que o número de carros.
- Metade dos alunos vão para a escola de bike. Uma boa parte vai a pé.
- Distância média percorrida diariamente: 9 km
- Praticamente, todas as ruas principais de Copenhague têm ciclovias segregadas dos dois lados da via.
- O uso da bicicleta reduz as mortes prematuras em 28%
- O retorno econômico do uso de bikes é da ordem de 6,3 milhões de Euros/dia e cerca de 2,3 bilhões de Euros/ano.
- O benefício socioeconômico do uso de bikes por km é de 7,11 DKK (coroa dinamarquesa) no deslocamento por bicicleta e 4,08 DKKno caso do uso de bike elétrica.
- 66% dos dinamarqueses possuem uma bicicleta.
2- Amsterdam (Holanda)
População: 918.100 habitantes
Malha cicloviária: 515 km
Proporção: 5,61 km/10.000 habitantes

3- Distrito Federal
População: 2.817.381 habitantes
Malha cicloviária: 711,4 km
Proporção: 2,52 km/10.000 habitantes

OBS: Os dados acima reproduzem algumas peculiaridades locais. Incluem calçadas compartilhadas (57 km), infraestrutura em parques (72,5 km) e Zona 30 km (3 km). Fonte: Secreteria de Transporte e Mobilidade - SEMOB. O Plano Piloto de Brasília possui 138,08 km de ciclovias. Fonte: também SEMOB. A primeira ciclovia de Brasília foi implantada em 2006.

4- Florianópolis (Santa Catarina, Brasil)
População: 537.211 habitantes
Malha cicloviária: 142,32 km
Proporção: 2,65 km/10.000 habitantes

5- Fortaleza (Ceará)
População: 2.428.678 habitantes
Malha cicloviária: 497,8 km
Proporção: 2,05 km/10.000 habitantes.

6- Boston (EUA)
População: 653.833 habitantes
Malha cicloviária: 123,11 km
Proporção: 1,88 km/10.000 habitantes
OBS: As ciclovias de Boston são consideradas dentre as mais bem planejadas dos EUA. Saiba mais aqui.
7- Niterói (Rio de Janeiro)
População: 481.749 habitantes
Malha cicloviária: 86 km
Proporção: 1,78 km/10.000 habitantes
OBS: Niterói possui as duas ciclovias mais movimentadas do Brasil: avenidas Marquês do Paraná e Roberto Silveira.
8- Barcelona (Catalunha, Espanha)
População: 1.686.208 habitantes
Malha cicloviária: 264 km
Proporção: 1,57 km/10.000 habitantes
OBS: O site oficial de Barcelona considera que existem 2.000 km de ruas com limites de velocidade de 50 km que, de acordo com a legislação, também consideram cicláveis ("itinerários ciclistas").
9- Salvador (Bahia)
População: 2.417.678 habitantes
Malha cicloviária: 308,58 km
Proporção: 1,3 km/10.000

10- Nova York (EUA)
População: 8.478.072 habitantes
Malha cicloviária: 1.046 km (é a maior dos EUA)
Proporção: 1,2 km/10.000 habitantes 
OBS: É considerada a maior malha cicloviária dos EUA.
11- Belém (PA)
População: 1.303.403 habitantes
Malha cicloviária: 150,58 km
Proporção: 1,16 km/10.000 habitantes

12- Toronto (Canada)
População: 2.832.718 habitantes 
Malha cicloviária: 270,9 km
Proporção: 0,96 km/10.000 habitantes 

13- Recife (PE)
População: 1.488.920 habitantes
Malha cicloviária: 128,75 km
Proporção: 0,86 km/10.000 habitantes

14- Curitiba (Paraná)
População: 1.773.718 habitantes 
Malha cicloviária: 146,4 km
Proporção: 0,8 km/10.000 habitantes 

15- Bogotá (Colômbia)
População: 7.937.898 habitantes
Malha cicloviária: 630 km
Proporção: 0,79 km/10.000 habitantes

16- Porto Alegre (RS)
População: 1.332.845 habitantes
Malha cicloviária: 87,65 km
Proporção: 0,66 km/10.000 habitantes

17- São Paulo (SP)
População: 11.451.899 habitantes
Malha cicloviária: 710,9 km
Proporção: 0,62 km/10.000 habitantes

18- Belo Horizonte (MG)
População: 2.315.560 habitantes
Malha cicloviária: 114,85 km
Proporção: 0,50 km/10.000 habitantes

19- Rio de Janeiro (RJ)
População: 6.729.894 habitantes
Malha cicloviária: 316 km
Proporção: 0,47 km/10.000 habitantes

20- Buenos Aires (Argentina)
População: 15.369.919 habitantes
Malha cicloviária: 304,7 km
Proporção: 0,20 km/10.000 habitantes

SOBRE OS NÚMEROS ACIMA

Ao analisar os números apresentados, é importante considerar as peculiaridades de cada cidade, os processos históricos que permitiram que a cultura da bicicleta se fortalecesse a ponto de permitir desenvolver a infraestrutura cicloviária. Algumas cidades têm experiências de mais de um século. É o caso de Copenhague, a cidade campeã da bicicleta, que começou a implantar a sua primeira ciclovia em 1892! Hoje, conta com viadutos só para as bicicletas e se destaca com os números que apresentamos acima. Segundo o texto "Como os dinamarqueses desenvolveram sua cultura do ciclismo", de Constanza Martínez Gaete, publicado no site ArchDaily, "...em 1900 foi realizada a contagem do número de carruagens e ciclistas: o resultado foi esmagador, 18 carruagens contra 9.000 ciclistas percorriam as ruas da cidade diariamente. Esses números serviram de respaldo para que, dois anos depois, fosse construída uma ciclovia de 3 metros de largura".

Já em Amsterdam e outras cidades holandesas, o impulso para implantar as ciclovias veio a partir da década de 1970, com a mobilização da sociedade civil que exigiu mais proteção para os ciclistas e as ciclovias começaram a ser implantadas, inicialmente em atos de desobediência civil, com a própria população demarcando o espaço para as bicicletas nas ruas.

A prefeitura deu início ao programa Niterói de Bicicleta em 2013, atendendo uma reivindicação que vinha do movimento ambientalista desde a década de 1980, quando o Movimento de Resistência Ecológica, organização ambientalista de Niterói, reivindicava ciclovias. Levou muito tempo até que a voz dos ambientalistas encontrasse eco na administração municipal, o que só aconteceu em 2013. 

Inicialmente, houve resistências de setores da sociedade contra a Ciclovia da Praia de Piratininga. Com muito diálogo, superamos o ceticismo e a inauguração da ciclovia reuniu mais de 1.000 ciclistas. Hoje, a Ciclovia da Praia de Piratininga é um sucesso.

REAÇÕES INICIAIS CONTRÁRIAS E O SUCESSO DAS CICLOVIAS 

No início, houve resistência. Adversários da bicicleta chegaram a fazer manifestações contra as ciclovias. Diziam que o relevo montanhoso de Niterói seria um obstáculo, assim como o clima quente e que não haveria espaço nas ruas para a bicicleta. Niterói tem uma pequena extensão territorial e mais de 50% do seu território é composto por áreas verdes. As áreas urbanizadas têm uma grande densidade demográfica. A falta de espaço era uma das grandes críticas contra as ciclovias de Niterói, mas soubemos superar essa resistência. 

Mas, tínhamos a convicção que Niterói era vocacionada para a bicicleta e o sucesso da malha cicloviária de Niterói junto à população comprovou que estávamos no caminho certo. Na Ciclovia da Marquês do Paraná, a mais movimentada do Brasil, registramos 1.676.090 passagens de ciclistas em um ano (28/04/2024 a 28/04/2025) e um recorde de 6.810 passagens no dia 18 de março de 2025. 

A contagem é feita por 11 sensores com a tecnologia Contabike, estrategicamente posicionados, que integram um único sistema que contabiliza os dados coletados em tempo integral e abastecem um banco de dados para a apoiar a execução de políticas públicas voltadas à mobilidade na cidade. Você pode acessar os dados do ContaBike aqui.

O programa hoje está consolidado. Em fevereiro de 2021 criei a Coordenadoria do Niterói de Bicicleta, dando a necessária institucionalidade para o programa. Em 2024, os ciclistas conquistaram a tão esperada sede do Niterói de Bicicleta, que passou a funcionar no imóvel conhecido como Castelinho do Gragoatá. Inauguramos em 2024, o NitBike, o sistema de bicicletas compartilhadas que conquistou a cidade. O sistema conta com 50 estações (46 para adultos e quatro para crianças) e cerca de 600 bicicletas. Hoje esse sistema é um dos mais movimentados no Brasil. Cada bike faz 14 viagens todos os dias. Em abril de 2025, Bicicletário Arariboia, localizado ao lado da estação das Barcas, no Centro, foi ampliando em 90% o número de vagas disponíveis para os ciclistas. O espaço é totalmente gratuito e passará de 446 para 850 vagas de bicicletas.

Bora pedalar pessoal!

Axel Grael
Prefeito de Niterói (2021-2024)


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LEIA TAMBÉM:

Como os dinamarqueses desenvolveram sua cultura do ciclismo

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