segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Brasil avança na construção de diretrizes nacionais para Regeneração Natural Assistida de ecossistemas (RNA)


Oficina promovida pelo MMA reuniu especialistas de todo o país para subsidiar resolução da Conaveg sobre o tema

Entre os dias 2 e 4 de setembro, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), promoveu a oficina virtual “Regeneração Natural Assistida no Brasil”. O encontro reuniu cerca de 50 representantes de organizações da sociedade civil, órgãos governamentais e instituições acadêmicas para subsidiar a construção de uma resolução da Comissão Nacional para Recuperação da Vegetação Nativa (Conaveg).

O documento irá estabelecer diretrizes nacionais para a implementação da regeneração natural assistida (RNA), considerada uma das estratégias mais promissoras para a restauração florestal no país

O debate foi realizado em parceria com o Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS), com apoio do Fundo Bezos Earth.

Conteúdo da oficina

Entre os assuntos debatidos, estiveram o marco legal da RNA, conceitos e definições técnicas, diretrizes e diagnósticos sobre o tema, além do mapeamento do potencial de implementação no Brasil. Os participantes também discutiram metodologias de monitoramento da regeneração natural e a proposta de estruturação de uma estratégia nacional de RNA.

Foram ainda apresentadas análises sobre as condições ecológicas e socioeconômicas locais que podem garantir a efetividade da regeneração natural, trazendo benefícios ambientais e sociais relacionais, como conservação da biodiversidade, mitigação da crise climática e geração de renda em territórios rurais.

Importância estratégica

A oficina destacou que o Brasil dispõe de milhões de hectares aptos à regeneração natural, capazes de contribuir de forma decisiva para o alcance das metas nacionais de restauração e para compromissos internacionais assumidos pelo país no âmbito da Convenção sobre Diversidade Biológica e do Acordo de Paris.

Fonte: MMA


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Floresta secundária com aproximadamente 12 anos de idade regenerando em área que foi previamente usada para roça de mandioca. Distrito Agropecuário da Suframa, Manaus, AM, Brasil. A foto mostra uma paisagem típica da Amazônia, que é composta por plantios permanentes (banana, frutíferas, etc), roçados de mandioca, florestas secundárias e remanescentes de florestas maduras ao fundo. Foto: Catarina Jakovac

A restauração das florestas tropicais pela regeneração natural é uma solução de baixo custo

As florestas em regeneração natural alcançam, depois de 20 anos, quase 80% da fertilidade e estoque de carbono do solo e da diversidade de árvores das florestas maduras

A década entre 2020 e 2030 foi escolhida pelas Nações Unidas como a década da restauração. O objetivo é inspirar e apoiar iniciativas que auxiliem a reverter a degradação dos ecossistemas. Um dos caminhos para restaurar as florestas tropicais é por meio da regeneração natural, que acontece quando se garante que as florestas voltem a crescer naturalmente após o desmatamento. Um estudo publicado esta semana na Science mostra que, por esse processo de regeneração natural, as florestas podem atingir, após 20 anos, quase 80% da fertilidade do solo, do estoque de carbono do solo e da diversidade de árvores das florestas maduras. O estudo conclui que a regeneração natural é uma solução de baixo custo para a mitigação das mudanças climáticas, conservação da biodiversidade e restauração do ecossistema.

Segundo os autores, proteger ativamente as florestas maduras e impedir o desmatamento é essencial, mas também é muito importante considerar as florestas em regeneração e suas contribuições para as metas locais e globais de restauração de ecossistemas. Atualmente, mais da metade das florestas tropicais do mundo não são maduras, mas florestas em processo de regeneração natural. Na América Latina tropical, essas florestas em regeneração cobrem até 28% da área terrestre.

A equipe internacional envolvida neste estudo, composta por mais de 90 pessoas, teve a participação de pesquisadores do Centro de Síntese em Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (SinBiose) do CNPq . A equipe analisou mais de 2.200 fragmentos de florestas em regeneração e maduras em 77 locais da América tropical e subtropical e da África Ocidental. O objetivo foi analisar como essas florestas se recuperam durante esse processo natural por meio do acompanhamento de características relacionadas ao solo, o funcionamento do ecossistema, à estrutura da floresta e à biodiversidade das árvores.

Catarina Jakovac , da Universidade Federal de Santa Catarina e vice-coordenadora do projeto Regenera, do SinBiose, explica que o grande diferencial deste estudo é ter analisado como a recuperação dessas diferentes características estava inter-relacionada e em uma escala continental. “Nós descobrimos que o tamanho máximo da árvore, a variação na estrutura da floresta e a riqueza de espécies de árvores são indicadores robustos de recuperação de múltiplos atributos da floresta. Esses três indicadores são relativamente fáceis de medir e podem ser usados ​​para monitorar a restauração florestal. Atualmente já é possível utilizar sensoriamento remoto para monitorar o tamanho e a variação das árvores em grande área espacial e temporal, por exemplo”, explica a pesquisadora.

Recuperação das florestas tropicais ao longo do tempo. Mais informações em: science.org/doi/10.1126/science.abh3629

Segundo o estudo, em áreas que tiveram um histórico de uso do solo pouco intensivo, a recuperação da fertilidade do solo da floresta em regeneração acontece mais rápido: em menos de 10 anos. Características funcionais das plantas são recuperadas em menos de 25 anos e a estrutura da vegetação e diversidade de espécies entre 25 a 60 anos. Já a recuperação da biomassa acima do solo e a composição de espécies exige um período maior, de cerca de 120 anos. De maneira geral, as florestas em regeneração natural alcançam, depois de 20 anos, quase 80% da fertilidade e estoque de carbono do solo e da diversidade de árvores das florestas maduras, o que foi considerado surpreendentemente rápido pelos pesquisadores.

Para Catarina Jakovac o marco de 20 anos é bastante importante, “há uma ideia que circula na sociedade de que uma floresta demora muito mais tempo para se recuperar, o que estamos mostrando é que em 20 anos muita coisa já se recupera”. Os resultados também reforçam a importância da adoção da regeneração natural como uma solução de baixo custo baseada na natureza para cumprir as metas de desenvolvimento sustentável e da década da restauração da ONU.

A pesquisadora Rita Mesquita , do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, coordenadora do projeto Regenera do SinBiose e co-autora do estudo, ressalta que “o potencial de regeneração das florestas secundárias é dependente da presença de florestas maduras como fontes de sementes e fauna dispersora na paisagem. Sem as florestas maduras a diversidade de espécies não será recuperada tão rápido. Portanto, é preciso atrelar a conservação de remanescentes florestais a ações de restauração e recuperação de áreas degradadas.”

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