Estamos mais uma vez no período de seca no Brasil e as cenas de queimadas, do trabalho duro dos brigadistas, florestas protegidas se perdendo e de sofrimento dos animais, voltam ao noticiário. Ardem o Pantanal, o Cerrado, a Caatinga e a Mata Atlântica.
Desta vez, temos a notícia divulgada pelo Governo Federal, no dia 01 de outubro, que a área de florestas perdida para o fogo no mês de agosto é bem menor do que nos anos anteriores. Veja, a seguir:
O Brasil alcançou uma redução histórica no número de queimadas registradas no mês de agosto. De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foram contabilizados 18.451 focos de calor, o menor índice desde o início do monitoramento, em 1998. O resultado representa uma queda de 61% em relação à média histórica para o mês (47.348 focos) e de 13,8% em relação ao recorde anterior, registrado em 2013 (21.410). Esta é a primeira vez que o número fica abaixo de 20 mil focos em agosto (gov.br).
O resultado é muito importante e foi ajudado pelas condições atmosféricas atuais e, importante lembrar, também graças a muito trabalho das autoridades para estruturar uma estratégia de prevenção e respostas ao fogo. Este serviço havia sido desmantelado na gestão federal anterior. Enfim, a queda do número de focos é uma boa notícia e alimenta as nossas esperanças. Mas ainda são 18.451 focos de queimadas no país!
Queimadas: o que vai pelos ares é muito mais do que fumaça.
Para quase todas as pessoas (exceto para aqueles que causam as queimadas), ver um incêndio em vegetação é uma imagem de tristeza e sofrimento.
Para mim, como engenheiro florestal e ambientalista, além da indignação, os incêndios representam a extinção de espécies, a perda da biodiversidade e é a certeza de muito esforço e custos pela frente para a recuperação dos ecossistemas perdidos.
Você sabe como os incêndios começam? Existe combustão espontânea? Um caco de vidro pode causar uma queimada? Saiba as respostas aqui: Queimadas: mitos e verdades
Também para mim, que me dedico a estudar as mudanças do clima, as queimadas são a representação da maior causa de emissões de gases de efeito estufa do nosso país.
Além de tudo isso, o fogo em larga escala ainda:
- diminui a quantidade de chuvas, desregula as bacias hidrográficas, diminui a oferta de água, causa erosão, empobrece o solo e, portanto, prejudica a produtividade agropecuária e a produção de alimentos;
- causa sérios problemas para a saúde humana. De acordo com pesquisas, viver em uma cidade próxima aos focos de incêndio aumenta em 36% o risco de se internar por problemas respiratórios;
- aumenta riscos de acidentes rodoviários;
- etc.
- Fundo Clima (tem como alguns dos seus eixos a Restauração de Florestas e o Desenvolvimento Urbano Resiliente e Sustentável - que inclui a infraestrutura verde das cidades),
- Mercado de Carbono o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões foi aprovado em 11 de dezembro de 2024. Conforme consta no site do programa: "o Mercado de Carbono estabelece um teto para emissões de gases do efeito estufa - reduzido anualmente - em atividades econômicas de grande porte. Empresas de grande porte terão que obter quotas para atividades poluentes e as que reduzirem suas emissões poderão negociar as licenças excedentes com outras empresas que necessitam de quota adicional. Além disso, algumas atividades poderão resultar em compensações e gerar créditos, como a captura e a estocagem de carbono e o reflorestamento".
- BIP: Através dos ministérios da Fazenda; do Meio Ambiente e Mudança do Clima; do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e de Minas e Energia (MME), com a participação do BNDES, o Governo Federal lançou também a Plataforma Brasil de Investimentos Climáticos e para a Transformação Ecológica – BIP, com o objetivo de ampliar os investimentos na transformação ecológica rumo à descarbonização da economia, o uso sustentável dos recursos e a melhora da qualidade de vida da população.
- Eco Invest: programa já citado acima.
- Outras iniciativas de estímulo a ações sustentáveis.
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Recuperar florestas pode custar US$ 1,2 bilhões por ano
Céu do Cerrado: Vista do cerrado em Alto Paraíso-GO. © Roberto Fantini/Concurso de Fotos TNC 2019 |
Estudo mostra que o Cerrado tem situação mais delicada que a Amazônia e a Mata Atlântica.
Para cumprir a meta de recuperar 12 milhões de hectares em áreas degradadas na Amazônia, no Cerrado e na Mata Atlântica até 2030, o investimento que o Brasil deverá fazer será entre US$ 700 milhões e US$ 1,2 bilhão ao ano, dependendo da técnica utilizada.
O cálculo para implementar o compromisso brasileiro no Acordo de Paris foi feito por pesquisadores da The Nature Conservancy (TNC) junto com técnicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e das universidades de São Paulo e da Califórnia.
Segundo o estudo “What makes ecosystem restoration expensive? A systematic cost assessment of projects in Brazil”, publicado na revista “Biological Conservation”, é mais caro regenerar a vegetação do Cerrado que a da Amazônia e da Mata Atlântica, considerando o plantio total da área.
O custo médio, por hectare, pode ser próximo a US$ 2 mil no caso da Amazônia, US$ 2,1 mil para a Mata Atlântica e US$ 3 mil no Cerrado. Na técnica de plantio total é preciso preparar o solo, retirar gramíneas e aplicar nutrientes.
ESCASSEZ DE MUDAS NO CERRADO Apesar da consolidação da cadeia da restauração em alguns biomas, no Cerrado ainda existem poucos projetos de restauração e uma cadeia pequena. © Felipe Fittipaldi |
“No caso do Cerrado, a cadeia de restauração é pequena, ainda estamos em processo de conhecimento de como regenerar o bioma”, diz Julio Tymus, Especialista em Restauração da TNC e um dos autores do estudo. “Não existe disponibilidade de mudas para o Cerrado”, completa.
Além do desafio em implementar cadeias de restauração dos biomas que consigam dar conta do objetivo brasileiro, há um atraso em iniciar a implementação. É preciso ter um plano e incentivos para cumprir a meta, além de estratégias e cadeias de produção de mudas e sementes.
O estudo dos pesquisadores, contudo, indica potencial de investimento e inovação no setor. Os métodos mais econômicos para expandir a vegetação nativa no mundo são a regeneração natural, quando a vegetação se recupera sozinha desde que a área seja delimitada, e a regeneração assistida, que exige ações específicas para acelerar o processo de recuperação do bioma.
Estes métodos, entretanto, estão presentes em apenas 15% dos projetos em curso no Brasil. Os mais usados são os mais caros, com plantio de mudas e semeadura direta. Estes casos, em que mudas e sementes são usadas na área total a ser recuperada, correspondem a algo entre 60% e 90% de todos os projetos de restauração em andamento no país.
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