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domingo, 1 de maio de 2011

Turismo náutico: o Brasil ainda não acordou para o seu enorme potencial


Antigua, país caribenho, tem no turismo náutico a base da sua economia.
Iniciativas governamentais

Em 2008, a Embratur lançou um portal para divulgar o turismo náutico no país. Foi um passo..., mas apenas um passo tímido, já que é uma ferramenta ainda muito desproporcional ao tamanho do potencial que a atividade tem no país.

Tão impreciso e incompleto é o site que, por exemplo, cita que no Rio de Janeiro conta apenas com uma opção de destino: a Marina da Glória. Ora, a Baía de Guanabara oferece a Marina da Glória, é verdade, mas também muitas outras opções para o turista náutico, principalmente para os que pretendem fazer escala aqui com seus barcos (outra possibilidade, a disponibilidade de embarcações para aluguel ainda é pequena). Só em Niterói, existem seis iate clubes (Rio Yacht Club, Clube Naval-Charitas, Iate Clube Brasileiro, Iate Clube Icaraí, Praia Clube São Francisco e Iate Clube Jurujuba, além do Projeto Grael). No Rio de Janeiro outros tantos, com destaque para o Iate Clube do Rio de Janeiro, com excelente infraestrutura.

Todos estes clubes têm longa experiência em receber turistas náuticos vindos de outras partes do Brasil ou do exterior. Porque então o site oficial do setor não reconhece e recomenda estes serviços?

O Ministério do Turismo também dedica um link do seu site ao setor. Mais uma vez, apesar de algumas poucas informações úteis, ainda é um serviço precário, superficial, desatualizado e incipiente. Tão pouca importância lhe foi dada na página do Ministério, que é difícil de acha-lo até com a ajuda das ferramentas de busca da internet.

Estes sites oficiais divulgam alguns poucos destinos, sugestões de roteiros, lista marinas disponíveis e outras informações úteis aos navegantes. Mas, ao verificar-se a qualidade destas informações, vemos que não há referências às atrações da Baía de Guanabara e suas imediações, como:
  • a Enseada de São Francisco e Itaipu - ambas em Niterói,
  • um aprasível passeio pelas famosas praias da Zona Sul,
  • ou um passeio pelas belas ilhas oceânicas próximas ào Rio de Janeiro, inclusive o Arquipélago de Cagarras (hoje uma unidade de conservação federal: Monumento Natural, criado pela Lei 12.229, de 13 de abril de 2010).
Em vez disto, encontramos a sugestões para que o turista náutico conheça as cidades serranas de Petrópolis e Teresópolis. Nada contra, ...até acho uma boa dica para o visitante, ... mas os elaboradores do site esqueceram que o turista náutico que aqui chega, pode até querer fazer passeios por terra, mas se escolheu o turismo náutico, quer utilizar a embarcação e conhecer as atrações por mar, ou quer chegar ao Rio de Janeiro e saber onde alugar um barco e para onde ir.

Assim são as informações turísticas para os navegadores em outros países. Os exemplos são fartos, sejam na internet ou nos ótimos manuais para os viajantes.

Um filão negligenciado

O que temos é um bom começo, mas a timidez dos recursos oficiais disponíveis representam bem a precariedade do turismo náutico no Brasil. Com cerca de 8.000 km de litoral, praias e ilhas belíssimas, temperaturas amenas que permitem a navegação o ano todo, o Brasil tem um potencial enorme ainda sub-aproveitado.

Segundo a própria EMBRATUR, cada turista náutico estrangeiro gasta por mês cerca de US$ 3.000 e cada turista de cabotagem US$ 130/dia em cada escala. O turismo náutico movimenta, portanto, cerca de US$ 50 milhões anuais, atraindo cerca de 500.000 turistas/ano. O Brasil poderia se beneficiar muito mais do turismo náutico, setor considerado mundialmente como aquele que mais gera empregos por dólar investido.

Segundo dados do governo francês, para cada barco com mais de 25 pés são gerados 3 empregos diretos, e que um barco gasta em manutenção e estadia por ano o equivalente a 8% do seu valor de compra. A Bahia é o estado que mais investiu no turismo náutico, oferecendo uma crescente infraestrutura e atraindo eventos.

Tivemos notícias que o Município do Rio de Janeiro contratou serviços especializados para estudar o potencial do turismo náutico na Baía de Guanabara. Búzios, Angra dos Reis e Ilhabela também mostram avanços importantes, mas falta uma política para o setor.

Que estas iniciativas e os próprios interessados - empresários do setor, velejadores, profissionais do turismo, sindicatos e governos locais - unam forças e ajudem a alavancar o turismo náutico brasileiro.

Eventos náuticos

O Rio de Janeiro, que abriga o maior frota de embarcações de recreação e parte da região de maior concentração da atividade náutica no Brasil (de Búzios a Santos-SP), não possui uma política estruturada para o setor.

Gradativamente, o Rio de Janeiro, que ainda é a maior referência do esporte náutico no país, foi perdendo espaços e até eventos tradicionais migraram para outras águas. A perda mais recente foi a Volvo Ocean Race (Regata de Volta ao Mundo), que teve o Rio como parada ao longo de quase toda a sua história. Nas duas últimas edições, a competição atraiu uma multidão de pessoas que se aglomeraram às margens da Baía de Guanabara para assistir a regata local, com a presença de brasileiros, comandados por Torben Grael.

Publico na Marina da Glória prestigiando a Volvo Ocean Race no Rio de Janeiro.

Regata local da Volvo Ocean Race na Baía de Guanabara, 2009. Um espetáculo que o Rio de Janeiro não repetirá em 2013.

Por falta de interesse local, a próxima Volvo Ocean Race (2012-2013), terá o litoral catarinense como escala.

Alguma reação tem surgido e pode representar um futuro mais promissor para a náutica e para o turismo náutico no Rio de Janeiro. Graças a uma bem sucedida mobilização de esforços, a tradicional Regata Cape Town – Rio que, após décadas tendo o Rio como destino, chegou a ser disputada para Salvador, voltou ao Rio de Janeiro agora em 2011. Foi uma volta triunfal, pois a regata foi vencida por uma tripulação composta por velejadores sul-africanos e do Projeto Grael.

Em março de 2011, os governadores Martin O'Malley (Maryland, EUA) e Sérgio Cabral (Rio de Janeiro) assinaram um Memorando de Entendimentos para a cooperação no setor náutico. O setor tem grande importância na economia daquele estado americano, cuja capital, Annapolis, ostenta o título de Capital Americana da Vela e terá em breve, o Hall of Fame do esporte. Nos últimos anos, a cidade apostou na náutica, uma reconhecida vocação natural e cultural da cidade que abriga a US Naval Academy. A estratégia deu certo e aproveitando as oportunidades, Annapolis conseguiu atrair muitos negócios. Agora, oferece a sua experiência ao Rio de Janeiro. Cabe a nós saber aproveitar a oportunidade

Que estes bons ventos impulsionem a náutica no RJ e no Brasil rumo um futuro mais promissor.

Axel Grael

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3 comentários:

  1. Caro Axel,
    Parabéns pela postagem clara em seu Blog.
    Precisamos continuar, mesmo que sem uma política governamental bem orientada.
    O turimo náutico em todo o Estado do Rio de Janeiro está sem norte.
    Criamos muitos empregos e receitas e continuamos abandonados.
    Um grande abraço.
    Hugo Nunes
    Marina Bracuhy
    Diretor

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  2. Muito bem Cabral. Estamos Juntos!

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  3. Prezado Axel,
    Obrigado pelo pastagem, e conta comigo para ações futuros.
    Vamos pedir mais atenção ao Marina da Glória e apoiar Lobato que sabemos é muito criativo, talvez resolve até o inacreditável saída do esgoto impossibilitado pernoite. Deve ser a marina mais fotografado do mundo, com menos barcos cada vez.
    Desde meus primeiras tentativas, com excursoes, aulas ao comunidades e festas no mar, notei a boa vontade da Capitania e PF, como a Prefeitura quando devidamente contactado.
    Tenho tido interesse do multinacional em investir, tem casco, soluções inovadoras, cooperação do Saveiros Tour e Fundação Cultura de Exército e deve deslanchar nos anos agora de Copa e Olympiade, não é.
    Vamos trabalhar juntos com modelos de Dinamarca, tipo escolas Tvind e Fulton e teremos successo.

    Forte abraço

    Jan Nikolaj Jensen

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