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domingo, 3 de março de 2019

New Deal Verde: discurso pela sustentabilidade lidera o antagonismo político a Trump



COMENTÁRIO:

O movimento New Deal Verde ganha força no cenário político dos EUA com a liderança de setores mais à esquerda do Partido Democrático e tem sido considerado a reação às maluquices megalomaníacas e sectárias de Donald Trump.

A porta-voz do movimento é a deputada Alexandria Ocasio-Cortez, de 29 anos, a mais jovem eleita para o Congresso dos EUA tornou-se um fenômeno de popularidade, vista como a representante da nova geração, dos latinos e da renovação da política americana.

Em oposição a Trump, que insiste na tese negacionista e refratário às iniciativas em favor do combate às mudanças climáticas, Ocasio-Cortez usa os relatórios do IPCC - Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU e, através do New Deal Verde propõe mudanças radicais na economia americana em dez anos, fazendo com que 100% da demanda por energia nos EUA seja atendida por meio de fontes energéticas limpas, renováveis e com zero emissão de carbono e reformar todos os prédios do país, assim como construir novos, “para atingir o máximo de eficiência energética, eficiência de água, segurança, preços acessíveis, conforto e durabilidade”.

Ação e reação: sustentabilidade x retrocessos civilizatórios

O debate está aberto e incendiando a política e o processo pré-eleitoral nos EUA. O interessante é que vemos o discurso da sustentabilidade como oposição ao obscurantismo da extrema direita de Trump, que turbinou candidaturas populistas e radicais de direita mundo afora, como foi o caso de Bolsonaro no Brasil.

O confronto que se delineia é a sustentabilidade x "business as usual", nova economia com bases sustentáveis x lobby do petróleo, responsabilidade global x o isolacionismo segregacionista do muro de Trump.

A reação republicana, dos apoiadores do presidente americano procuram desqualificar as ideias de Ocasio-Cortez insistindo nas mesmas teses reacionárias que levaram Trump ao poder.

Podemos estar vendo o início de um processo histórico de transição para a sustentabilidade. Vamos acompanhar com interesse e aprender com a evolução dos debates norte-americanos e trabalhar para que inspirem ventos saudáveis de inovação e renovação por aqui também, para que o Brasil avance para o caminho da sustentabilidade e não continue retrocedendo, como estamos vendo na atual gestão federal.

Axel Grael




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New Deal Verde, o antagonista do muro de Trump

A congressista Alexandria Ocasio-Cortez e o senador Ed Markey durante a apresentação do "New Deal Verde" em Washington Foto: Jonathan Ernst / REUTERS


Impulsionado pela congressista democrata Alexandria Ocasio-Cortez, plano ambicioso é visto como 'caro e irrealista', mas suscita debates em Washington

Paola De Orte — Especial para O GLOBO

WASHINGTON — O gabinete de Alexandria Ocasio-Cortez chama a atenção de quem passa pelos longos corredores do Edifício Cannon, um dos prédios que abrigam escritórios de parlamentares perto do Capitólio, a sede do Congresso americano em Washington. Em vez de ostentar apenas bandeiras dos Estados Unidos e do estado de origem da deputada do Partido Democrata, a porta do escritório está cercada de post-its coloridos, com recados de seus apoiadores. Eles não param de chegar ao local, e tiram fotos ao lado da placa com o nome da parlamentar, conhecida pelas iniciais AOC.

— Ela representa as latinas no Congresso — diz Brimady Ramirez-Garcia, estudante de ensino médio que veio de Berwyn, Illinois, a mais de mil quilômetros de Washington, para conhecer a capital — Isso nos incentiva a participar da política.

Mulher mais jovem eleita para o Congresso americano, AOC, de 29 anos, é um fenômeno de popularidade da era das redes sociais. Com mais de 3 milhões de seguidores no Twitter, a deputada de origem porto-riquenha que representa os distritos nova-iorquinos do Bronx e do Queens supera nesse quesito a veterana democrata Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Deputados. E, já no início da legislatura, aproveita a atenção para emplacar seu primeiro projeto.

No dia 7 de fevereiro, ao lado do senador Ed Markey, Ocasio-Cortez apresentou ao Congresso uma resolução que propõe um “New Deal Verde”. Citando estudos do IPCC, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU, o texto propõe reformas radicais na economia americana. Entre elas, “fazer com que 100% da demanda por energia nos EUA seja atendida por meio de fontes energéticas limpas, renováveis e com zero emissão de carbono”, e reformar todos os prédios do país, assim como construir novos, “para atingir o máximo de eficiência energética, eficiência de água, segurança, preços acessíveis, conforto e durabilidade”. O projeto prevê um prazo de dez anos para sua implementação.

— É uma declaração de desejos — diz Alex Brill, especialista em política fiscal do centro de estudos conservador American Enterprise Institute, ao explicar que uma resolução, mesmo que aprovada, não é de aplicação obrigatória.

Ainda assim, o New Deal Verde ganha espaço no debate político em Washington e tende a ser uma referência dos debates que ocorrerão até a corrida presidencial de 2020, assim como foi o muro de Donald Trump em 2016. Tanto democratas quanto republicanos acabaram se posicionando publicamente sobre a proposta.

O plano de Roosevelt

O Green New Deal é uma versão atualizada do New Deal de Franklin D. Roosevelt, série de programas implementados entre 1933 e 1937 nos EUA com o objetivo de recuperar a economia do país após a recessão gerada pela crise de 1929.

Segundo o historiador Eric Rauchway, autor de “A Grande Depressão e o New Deal”, o programa foi prometido por FDR em sua campanha eleitoral em 1932. Ao GLOBO, Eric afirmou que, para compreender as circunstâncias atuais, é preciso entender que o New Deal “prometia um programa de vastas obras públicas, particularmente para criar novas formas de eletricidade, conservar os recursos ambientais, ao mesmo tempo em que promovia justiça social”.

O programa propunha uma rede de usinas hidrelétricas que geraria empregos e iria atender a regiões desassistidas. Ele afirma que o paralelo entre o New Deal de FDR e o Green New Deal está justamente no objetivo de financiar maciçamente obras públicas para implantar “formas sustentáveis de energia” que também gerem empregos.

“Socialistas”

O interesse pelo tema ambiental cresce nos EUA. Segundo uma pesquisa das universidades de Yale e George Mason de 2018, 72% dos americanos dizem que o aquecimento global é importante para eles pessoalmente, um aumento de 16 pontos desde a pesquisa anterior.

Entre os republicanos, a rejeição ao New Deal Verde era esperada. O presidente do Senado, Mitch McConnell, disse que vai pôr o projeto em votação, em uma provocação aos democratas, que se veriam obrigados a votar em um texto que poderia desagradar suas bases menos progressistas.

AOC responde às críticas com humor. Quando o senador republicano John Barrasso acusou-a de querer acabar com os sorvetes e cheeseburgers, respondeu:

— Gosto demais de sorvete para fazer isso.

Trump também se pronunciou. Em um comício, disse que o texto parece “um trabalho de ensino médio que recebeu uma nota baixa”. Ele tenta associar o projeto à ideia de que os novos democratas são radicais demais, “socialistas”.

Não está claro se a pecha de socialista teria impacto tão negativo quanto aposta o presidente. A revista “The Economist” estampou em sua capa que o socialismo é tendência na geração millennial. A própria Ocasio-Cortez se diz uma “socialista democrática”, e uma pesquisa do Gallup mostra que parcela crescente dos democratas vê o socialismo como positivo: 57% hoje contra 53% em 2010. Já sua visão positiva do capitalismo, no mesmo período, caiu de 53% para 47%.

Mesmo entre os democratas, o New Deal Verde não é consenso. Apesar de ter recebido apoio de alguns dos pré-candidatos do partido à Presidência — Kamala Harris, Kirsten Gilibrand, Elizabeth Warren, Corey Booker e Bernie Sanders —, a resolução deve enfrentar resistência interna.

— Há democratas que vêm de áreas onde se produz carvão ou onde a geração de eletricidade depende do gás natural — diz Kenny Stein, diretor de políticas públicas do centro de estudos pró-mercado Instituto para Pesquisa sobre Energia, ao argumentar que o projeto não tem chance de ser aprovado no Congresso.

O projeto inclui, além das prescrições ambientais, uma série de recomendações econômicas. Uma das propostas é “criar milhões de empregos bons com alta remuneração e garantir a prosperidade e a segurança econômica para todas as pessoas dos EUA”.

Quem já demonstrou reservas foi a própria Nancy Pelosi. Em entrevista ao site “Politico”, a presidente da Câmara chegou a chamar a resolução de “sugestão”. Na mesma entrevista, se referiu ao projeto como “o sonho verde”. Mais tarde, no entanto, voltou atrás no tom desdenhoso e disse que o entusiasmo com o projeto é bem-vindo.

— É mais uma plataforma política para uma campanha do que uma legislação de fato — ressalta Stein, que afirma que o projeto traz proposições vagas e não explica como colocá-las em prática.

Ele também alega que haveria impactos ambientais negativos: seriam gastos muita energia e material para reformar todos os prédios do país, e a poluição visual e a escassez de espaços adequados são entraves à disseminação de usinas de energia eólica.

— Uma usina comum ocupa 607 hectares, enquanto para uma usina eólica precisamos de milhares de hectares.

Ainda segundo Stein, para atingir o objetivo de suprir todo o consumo energético americano com fontes renováveis seria preciso ocupar 12% da área continental do país apenas para atender à demanda atual. Implementar essas mudanças em dez anos é, para ele, “completamente irrealista”.

“Irrealista”

Alex Brill admite que as mudanças climáticas são um problema, mas diz que a solução apresentada é “muito ruim, muito cara, muito irrealista”. Segundo ele, as propostas custariam trilhões de dólares, e o melhor seria a regulamentação por meio de impostos sobre a emissão de carbono.

A conselheira para energia limpa do centro de estudos progressista Third Way, Lindsey Walter, concorda que a proposta de AOC é ambiciosa, mas se diz otimista por ela introduzir novos parâmetros na discussão ambiental:

— Nunca havíamos visto algo nessa escala nos EUA.

Lindsey admite que o projeto enfrenta obstáculos políticos, mas o vê como um “ponto de partida”, que define como serão as discussões ambientais no Congresso americano daqui por diante, mesmo que o texto não seja aprovado como foi apresentado:

— Ele estabelece padrões de como deve ser uma política ampla e ambiciosa para o clima.
Fonte: O Globo




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