OUTRAS PÁGINAS DO BLOG

sexta-feira, 4 de julho de 2014

RUÍDO AMEAÇADOR - botos sofrem com poluição sonora subaquática na Baía de Guanabara

 
Estudo inédito revela perfil acústico da baía de Guanabara e conclui que seus índices de poluição sonora subaquática são comparáveis aos piores do mundo, o que pode afetar a saúde e até a sobrevivência de animais marinhos, em especial os mamíferos aquáticos.
                    
Por: Henrique Kugler

O boto-cinza (‘Sotalia guianensis’) é uma das espécies afetadas pelos altos níveis de pressão sonora na baía de Guanabara. (foto: Lis Bittencourt)


Discutir poluição sonora pode até parecer frescura para alguns. Especialmente no Brasil – onde a lista de dramas sociais e ambientais elenca itens muito mais sérios a serem remediados. Mas se para seres humanos o ruído em excesso pode ser um mero desconforto, para mamíferos aquáticos a poluição sonora é um assunto de vida ou morte.

Afinal, esses mamíferos são totalmente dependentes dos sons para se alimentar e se reproduzir. É o caso dos cetáceos – ordem a que pertencem os golfinhos e as baleias, por exemplo. Mecanismos de ecolocalização são fundamentais à sua sobrevivência. Qualquer interferência antrópica que altere o perfil sonoro do ambiente aquático pode, portanto, ocasionar consequências sérias à preservação desses bichos.

E das águas cariocas vêm dados preocupantes sobre essa questão. Pesquisadores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) publicaram recentemente o primeiro perfil acústico da baía de Guanabara – local de expressão turística, econômica e biológica da maior importância. Segundo os autores do trabalho, é a primeira vez que análises desse tipo são conduzidas no litoral brasileiro.

Baía barulhenta

Na maior parte da baía de Guanabara, a barulheira subaquática preocupa. “Encontramos níveis de poluição sonora similares aos aferidos em áreas altamente impactadas, como a baía de Southould, nos Estados Unidos, e o estuário de St. Lawrence, no Canadá”, diz a oceanógrafa Lis Bittencourt, do Laboratório de Mamíferos Aquáticos e Bioindicadores da Uerj. “Nos locais de maior tráfego de embarcações, os níveis de pressão sonora chegam a 180 decibéis”, afirma a pesquisadora. Esse é o dobro do valor máximo esperado em condições naturais, que é de 90 decibéis.

A boa notícia é que, pelo menos na Área de Proteção Ambiental de Guapimirim, localizada na porção nordeste da baía de Guanabara, os níveis de ruído estão muito próximos dos considerados normais.

As aferições foram feitas com hidrofones – espécies de microfones à prova d'água. O trabalho de campo foi realizado entre 2011 e 2012. Ao todo, foram monitorados 10 pontos ao longo de toda a baía. E, em cada um deles, foram realizadas medições sonoras em duas profundidades diferentes: uma 2 m acima do leito oceânico; outra 2 m abaixo da superfície.

http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/2014/07/ruido-ameacador
Clique na imagem para acessar o mapa interativo.


Ao que tudo indica, é a navegação a principal fonte de poluição sonora subaquática. “Tanto o motor quanto a parte elétrica das embarcações geram grandes quantidades de ruídos em baixas frequências”, detalha a oceanógrafa da Uerj. Obras costeiras, como construções de píeres ou manutenção de portos, também produzem impacto sonoro significativo sobre a fauna aquática.

Impactos silenciosos

Na baía de Guanabara, as águas são naturalmente turvas. Por esse motivo, a sobrevivência de muitos animais depende bem mais da audição do que da visão.

“O problema é que a poluição sonora, normalmente, não é causa de morte direta para a maioria dos animais aquáticos; ela provoca efeitos bem mais sutis”, explica Bittencourt. “Ao prejudicar a comunicação, os elevados níveis de pressão sonora provocam reações metabólicas que resultam em estresse crônico, que poderá reduzir a imunidade desses mamíferos e facilitar assim o aparecimento de problemas típicos da poluição química a que está sujeita a baía.”


Pesquisadores captam sinais acústicos na baía de Guanabara, em um ponto onde há intenso fluxo de embarcações. (foto: Divulgação)

De acordo com estudos diversos, cada espécie tem respondido de maneira distinta à intensificação da poluição sonora. “Baleias em diferentes lugares do mundo estão aumentando a intensidade e alterando a frequência de suas canções para que não sejam mascaradas pelo ruído gerado por navios; algumas espécies de golfinho também já alteraram as características de seus sinais acústicos em resposta ao ruído subaquático; e muitos peixes apresentam problemas de perda de audição e de equilíbrio”, detalha Bittencourt. Segundo ela, o tema ganha cada vez mais relevância na comunidade científica.

Sinfonia da morte

Mas a poluição sonora pode ser a causa de problemas ainda maiores para os animais. É que, na busca por petróleo, é comum que as equipes técnicas de exploração promovam os chamados testes acústicos. São disparos sonoros extremamente intensos que, ao interagir com a geologia local, fornecem pistas sobre prováveis locais para prospecção.

Para alguns pesquisadores, a intensidade desses disparos sonoros pode estar relacionada a encalhes em massa de golfinhos em praias de diferentes locais do planeta. É provavelmente o que aconteceu no Peru no final de 2011. Estima-se que cerca de 3 mil golfinhos tenham morrido em decorrência, direta ou indireta, desses testes acústicos.

Henrique Kugler
Ciência Hoje On-line

Fonte: Ciência Hoje On-Line


--------------------------------------------------

LEIA TAMBÉM:
Empresário rema ao lado de baleia jubarte na Região Oceânica
Mais ecobarcos entrarão em operação para retirada de lixo na Guanabara
LARS GRAEL E AXEL GRAEL: visões sobre a Baía de Guanabara
RJTV: controvérsia em torno da utilização das UTR´s como solução para poluição da Baía de Guanabara
'Baía de Guanabara terá águas limpas até as Olimpíadas', diz presidente da Cedae
Wagner Victer, presidente da CEDAE: "BAÍA DE GUANABARA, MELHORIAS ALCANÇADAS E NOVOS DESAFIOS"
Wagner Victer afirma que a Baía de Guanabara estará limpa em 2016 (2011)

Baía de Guanabara nos Jogos de 2016
As promessas ambientais da candidatura Rio 2016 precisam ser cumpridas
Poluição na Baía de Guanabara é um desafio olímpico
AQUECE RIO - Regata teste para a Rio 2016 é oficialmente anunciada. Será na Baía de Guanabara, em agosto

Iniciativas do Governo do Estado do RJ
Projetos do Governo do Estado que prometem limpar a Baía de Guanabara até a Rio 2016
BID aprova US$ 452 milhões para programa saneamento da Baía de Guanabara
Ecobarco inicia operação entre os terminais das barcas na Baía de Guanabara
São Gonçalo terá R$ 300 milhões em obras de saneamento
BAÍA DE GUANABARA TEM O PRIMEIRO PLANO CONTRA ACIDENTES AMBIENTAIS DO PAÍS
Rio assina acordo com norte-americanos para despoluir a Baía de Guanabara
Estados do Rio e Maryland se unem para despoluir Baía de Guanabara
RJ e Maryland debatem, em Niterói, cooperação para a despoluição da Baía de Guanabara

Preocupações com a poluição e a despoluição da Baía
Entrevista com Lars Grael: "O esporte não pode representar gastos públicos desnecessários"
Despoluição da Baía de Guanabara sofre com descontinuidade
Manifestação na Baia de Guanabara alerta para a falta de saneamento
Revoada do Saneamento: praticantes de esportes náuticos protestam por uma Guanabara limpa
Botos e golfinhos ajudam a analisar a poluição do litoral fluminense
Ameaça que vem à tona. Os botos e a saúde ambiental da Baía de Guanabara
Caldeirão carioca: calor até debaixo d’água
Algas que infestam a orla carioca estão presentes em todo o litoral e são vistas até do espaço
Interfaces entre a saúde pública e a saúde dos oceanos
Entidades juntam forças para preservar manguezal da Baía

Investimentos de Niterói em saneamento
Niterói terá 100% de esgoto tratado até 2018 - Plano de Saneamento Ambiental investirá R$ 120 milhões
Município vai receber investimentos de R$ 120 milhões em saneamento básico até 2017

Saiba também sobre as iniciativas do programa Enseada Limpa:
PRIMEIROS TESTES DA ECOBARREIRA DO CANAL DE SÃO FRANCISCO, NITERÓI
Ações do programa Enseada Limpa são apresentadas a comunidades de Jurujuba, Preventório, Charitas e São Francisco
ENSEADA LIMPA: Conheça detalhes do Plano de Ação 2014 para a despoluição da Enseada de Jurujuba
Programa Enseada Limpa entra em nova etapa
Niterói lança programa para despoluir Enseada de Jurujuba
ENSEADA LIMPA - resultados de balneabilidade de Charitas são animadores





Nenhum comentário:

Postar um comentário

Contribua. Deixe aqui a sua crítica, comentário ou complementação ao conteúdo da mensagem postada no Blog do Axel Grael. Obrigado.