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terça-feira, 26 de julho de 2022

VISTORIA DAS OBRAS DE RESTAURAÇÃO DA ILHA DA BOA VIAGEM





Vistoria às obras com a equipe

Nesta segunda-feira, 25/07, visitei as obras de restauração do patrimônio histórico e cultural da Ilha da Boa Viagem, um dos mais belos recantos do litoral de Niterói. As obras estão sendo desenvolvidas pela Prefeitura, que assumiu a gestão da ilha no início do ano.

A já anunciada desapropriação do Morro do Morcego para a criação de um parque natural municipal, e a restauração da Ilha da Boa Viagem estão entre as principais iniciativas de valorização da orla e da paisagem da cidade na Baía de Guanabara. Com isso, elevam ainda mais o orgulho do niteroiense da sua cidade, além de fortalecer o turismo, lazer, recreação e cultura de Niterói. Estes investimentos, somados a outros em curso como a implantação dos seus parques, a exemplo do Parque Orla de Piratininga Alfredo Sirkis - POP, colocam Niterói na liderança da proteção de florestas e paisagens naturais urbanas no Brasil.

A ilha é protegida por legislação federal e municipal mas, apesar disso, degradou-se ao longo de muitas décadas por falta de investimentos e indefinição quanto à sua gestão. Desde 2013, me dedico a desenvolver as soluções e o detalhamento do projeto de restauração, superar os entraves burocráticos e institucionais. Foi uma longa caminhada (nove anos!) mas, em fevereiro de 2022, finalmente demos o início da tão esperada obra de restauração.

A Ilha da Boa Viagem ficou décadas fechada à visitação pública, mantendo apenas a atividade escoteira e algumas celebrações religiosas. Com as obras de recuperação, niteroienses e turistas poderão aproveitar esse, que é um dos lugares mais bonitos de Niterói. Da ilha é possível admirar boa parte da Baía de Guanabara, a nossa cidade e o MAC, que localiza-se nas suas imediações, compondo um belo contraste entre distintos tempos da história da arquitetura. Com certeza, a Ilha será mais uma grande atração turística! 

A vistoria foi realizada para verificação dos avanços das obras e fui acompanhado pelo presidente da Empresa Municipal de Moradia, Urbanização e Saneamento (Emusa), Paulo Cesar Carrera, o secretário de Obras de Niterói, Vicente Temperini, a secretária de Conservação e Serviços Públicos, Dayse Monassa, o secretário municipal das Culturas, Alexandre Santini, presidente da Niterói Empresa de Lazer e Turismo (Neltur), Paulo Novaes, e a secretária municipal de Ações Estratégicas e Economia Criativa, Mariana Zorzanelli.

História

A Ilha da Boa Viagem tem uma interessante história de lutas, júbilo e resiliência. Veja algumas efemérides relacionadas ao patrimônio arquitetônico e usos da ilha, de acordo com a obra "O Escotismo do Mar e a Ilha da Boa Viagem no Século XX", de Hélio Sodré, e com a :

1650: Construção da Ermida da Nossa Senhora da Boa Viagem.
1665/1674: Instalou-se, na ilha, uma bateria com 5 ou 6 peças de artilharia. Durante alguns anos, funcionou como ponto de observação privilegiado sobre a entrada da Baía de Guanabara
1711: A Ermida é destruída pela primeira vez. René Duguay-Troin, em investida contra o Rio de Janeiro, ataca com a sua artilharia a Ilha da Boa Viagem.
1718: a Capela é reconstruída.
1732: Primeiro grande incêndio na Capela.
1769: A bateria é convertida em Fortim, com o acréscimo de 3 peças de artilharia.
1818: Visita de Dom João VI à Ilha.
1822: Fortim rearmado por ordem de D. Pedro I.
1870: Segundo grande incêndio na Capela
1884: Capela restaurada
1893: Revolta da Armada: Capeta e Fortim bombardeados
1909: Reconstrução e luz elétrica chega à ilha
1938: Tombamento da ilha
1942: Castelo é construído sobre as ruínas da "Escola de Aprendizes".
1962: Chuvas torrenciais causaram desabamentos, com o registro do óbito do vigia da ilha.
1977: Novo incêndio na Capela
1978: Ressaca destrói a ponte de atracação
1990: Escoteiros fazem convênio com a UFF e mantiveram atividades por uma década.
2011: Obra emergencial na Capela
2013: Prefeitura de Niterói assume o compromisso de gerir e restaurar a Ilha da Boa Viagem e inicia entendimentos para fazer obras emergenciais.
2015: Prefeitura providenciou obra de recuperação da ponte de acesso à ilha
2015 e 2016: Prefeitura toma medidas para a abertura da ilha durante os Jogos Olímpicos de 2016 e ofereceu visitas guiadas a niteroienses e turistas.
2016: Assinado convênio com os escoteiros para a cooperação durante os Jogos Olímpicos Rio 2016. Com o apoio financeiro da Prefeitura, os escoteiros participaram da orientação aos visitantes à Ilha.
2019 (maio): Prefeitura contrata por licitação a empresa SANER Engenharia e Consultoria EIRELI para realizar diagnóstico dos prédios e instalações da ilha e desenvolver projeto de restauro, que, uma vez aprovado pela Prefeitura, foi apresentado ao IPHAN.
2019: Prefeitura inicia obras emergenciais de contenção de encostas. Foi constatado risco de desabamento, que afetaria gravemente o Castelo. A área havia sido interditada pela Defesa Civil de Niterói.
2020: Prefeitura obtém autorização do SPU.
2021: Prefeitura obtém primeira aprovação do IPHAN para as obras de restauração.
2022: após longo período de entendimentos com o IPHAN para a aprovação do projeto de restauração, chegamos enfim ao momento tão esperado: o início das obras de recuperação do patrimônio arquitetônico.

De acordo com o projeto de restauro, segue resumo dos incidentes relacionados à Ilha da Boa Viagem:
  • Capela: 2 bombardeios
  • Capela: 3 incêndios
  • Capela: 7 reconstruções/reformas
  • Bateria/Fortim: 2 bombardeios

Obras

De acordo com o estudos e o projeto de restauro da SANER Engenharia e Consultoria EIRELI, o Fortim e o Castelo estavam "em ruínas" (vide abaixo). A situação mais grave era o Castelo, cujo telhado já havia colapsado, aumento a deterioração do restante do prédio. A Capela tinha graves problemas de infiltração e o sino já havia sido retirado. O acesso ao Fortim estava com o acesso dificultado e coberto por vegetação. Agora, já encontra-se também em recuperação. 


No texto acima, extraído do projeto de restauro, a indicação do conceito dos trabalhos e a condição naquele momento das edificações na ilha.

Com relação às condições naturais da ilha, cabe fazer algumas considerações referentes ao embasamento e à biota:

O relevo de penhascos, que caracteriza a paisagem local, e as características da ilha e seu entorno mostram uma geologia frágil. Como pode ser visto no Mapa Geológico da Região de Niterói (CPRM, 2001), acima, a Ilha da Boa Viagem e o seu entorno próximo se difere em termos geológicos ao restante de Niterói, de predominantemente de característica granítica, sendo a sua composição mais friável, susceptível à erosão marinha e pluvial. É o que se pode ver nas escarpas da ilha, com indícios de escorregamentos e erosão. Por isso, o histórico de deslizamentos de terra e os problemas que já demandaram obras recentes da Prefeitura de contenção de encostas. 

A vegetação da ilha encontra-se bastante alterada, com a presença de muitas espécies exóticas, mas ainda contanto com exemplares de espécimes representativas do que deve ter sido a cobertura vegetal anterior. Técnicos da Prefeitura preparam estudos para a caracterização do estado da flora e fauna.






Obras em andamento

O início das obras foi possível após a superação de muitos desafios técnicos e institucionais. Por determinação do então prefeito Rodrigo Neves e na condição de vice-prefeito, em 2013, iniciamos as tratativas com o IPHAN, com o SPU e com os Escoteiros para viabilizar a restauração. A medida, que avançávamos nas formalidades institucionais, fomos avançando também em ações emergenciais, como a recuperação da ponte, contenção de encostas, manutenção e melhorias nos acessos (vide cronologia acima). 

As obras de restauração foram iniciadas no dia 10 de fevereiro de 2022, constituindo-se um investimento de R$ 5,5 milhões. A execução da obra é de responsabilidade da empresa LCD Construções e Serviços Ltda, vencedora do processo licitatório. A fiscalização da obra é de responsabilidade da EMUSA, órgão da Prefeitura de Niterói.





Vistoriando a torre do sino, fachada e telhado da Capela.

Tombamento

A ilha é um dos mais belos marcos naturais da paisagem da cidade e de toda Baía de Guanabara. Por este motivo e pela sua relevância histórica e cultural, foi tombada em 1938 pelo Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (hoje IPHAN), com despacho de Lúcio Costa, tendo sido um dos primeiros atos deste órgão histórico da cultura brasileira, que iniciou o funcionamento em 1937 (Lei 378/37). No mesmo ano, o Decreto-Lei nº. 25, de 30 de novembro de 1937 regulamentou o instrumento do tombamento de bens móveis e imóveis, designando o SPHAN como o órgão competente para gerir essa política. 

O conjunto arquitetônico e paisagístico da Ilha da Boa Viagem foi tombado em maio de 1938 (Inscr. nº 3, de 20/05/1938. Livro do Tombo Belas Artes: Inscr. nº 80, de 30/05/1938). Trata-se, portanto, do primeiro tombamento em Niterói e um dos primeiros no Brasil, uma vez que o tombamento foi oficializado no mesmo dia do tombamento do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, logo, sendo o segundo bem tombado na categoria do Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico

Intervenções atuais e o futuro

Os trabalhos de restauração, conforme autorização do IPHAN, incluem a Capela Nossa Senhora da Boa Viagem, o Fortim e o Castelo. Após as intervenções, a Ilha será reaberta para visitação. A recuperação e preservação da Ilha da Boa Viagem faz parte do Plano Niterói 450 anos, um conjunto de ações que prevê investimentos de R$ 2 bilhões em toda a cidade, entre 2022 e 2024. 

Visitas: A conclusão das obras de restauração está prevista para fevereiro de 2023. A Ilha será aberta à visitação pública seguindo os mesmos protocolos e cuidados utilizados durante a Rio 2016, ou seja, ocorrerão através de grupos com tamanho limitado, acompanhados de guias e horários pré-estabelecidos. 

Igreja: A Capela será devolvida à população totalmente recuperada. O telhado já foi restaurado, as infiltrações e áreas de umidade estão sendo tratadas, as fachadas estão sendo recuperadas. Serviços de reforma da parte elétrica e hidráulica estão em andamento. A igreja terá climatização. O piso da igreja e do pátio no seu entorno também está sendo refeito, utilizando o mesmo material original.

Castelo: O prédio estava em péssimas condições, com o telhado colapsado, infiltrações e rachaduras. Uma obra de contenção de encosta já concluída pela Prefeitura evitou o desabamento da construção. A estrutura do prédio está sendo reforçada e o telhado em recuperação no momento. O Castelo será um espaço para exibições culturais e educativa, tendo como tema principal "O Homem na Guanabara", abordando a ocupação humana da região, desde a época dos sambaquis, as culturas indígenas, a colonização europeia, o crescimento urbano e a despoluição da Baía de Guanabara. No local, haverá uma pequena cantina.

Fortim: As obras de recuperação estão em andamento, com a drenagem da área, recuperação do piso, reabertura de abrigos e paióis e outras medidas.

Acessos serão restaurados e a circulação será ordenada, recebendo pontos de descanso e de contemplação da paisagem. Uma das prioridades é a drenagem da ilha, prevenindo-se a erosão. Haverá sinalização educativa e informativa, além de iluminação. 

Biota: A Prefeitura realizará um inventário da fauna e flora, controlará a presença de espécies exóticas invasoras e áreas degradadas serão recuperadas.

CAT: encontra-se em fase final de construção, o Centro de Atendimento ao Turista - CAT, localizado no calçadão em frente à ponte de acesso à ilha.

Escoteiros do Mar: Conforme firmado em acordo com as lideranças escoteiras, contarão com uma sede e as atividades serão mantidas na Ilha.

Axel Grael
Prefeito de Niterói


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