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segunda-feira, 6 de abril de 2020

CORONAVÍRUS: isolamento social reduz muito a poluição do ar no RJ e SP





Ruas de Niterói vazias, com baixíssimo movimento de automóveis. 28 de março de 2020. Imagens da Prefeitura de Niterói.


Os dois artigos abaixo mostram que a quarentena imposta pelo coronavírus, além de preservar a vida da população por evitar uma contaminação maior do COVID-19, tem outro lado positivo: a melhoria da qualidade do ar nas cidades.

No caso de São Paulo, estudos da CETESB mostraram que a poluição reduziu-se em cerca de 50% em apenas uma semana. Já na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, o INEA encontrou reduções que chegam a 80%, em medições de NO2 realizadas em área de abrangência do Distrito Industrial de Santa Cruz.

Importante ressaltar que, como afirmou Ana Carolina Bellot, representante da Gerência de Qualidade do Ar, do INEA, em entrevista ao programa "Combate ao Coronavírus", da Rede Globo (em 06/04/2020), o transporte é responsável por 77% das emissões atmosféricas na Região Metropolitana.

O Rio de Janeiro é pioneiro no monitoramento da qualidade do ar, realizado desde 1967, e do controle das emissões por veículos, implantado pela primeira vez no país pela Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente - FEEMA, órgão que tive a honra de presidir por duas vezes.

O Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA instituiu em 1986, o Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores - PROCONVE, através da Resolução nº 18/1986. Este programa utiliza como instrumento de gestão o Plano de Controle de Poluição Veicular (PCPV), abrange o desenvolvimento e a implantação do Programa de Inspeção e Manutenção dos Veículos em Uso - Programa de I/M.

A FEEMA foi a primeira a implantar o sistema de inspeção veicular, prática esta que melhorou muito a qualidade do ar da Região Metropolitana.

Posteriormente, o programa foi complementado pelo Programa de Automonitoramento de Emissão de Fumaça Preta, além das Campanhas de Qualidade do Ar. (CONEMA 70, 2016). Este último estabelece procedimentos de monitoramento por parte das próprias empresas responsáveis por frotas de veículos (ônibus, caminhões, vans etc.).

Os programas de controle de poluição veicular e a evolução da legislação sobre a tecnologia dos veículos e a qualidade dos combustíveis, reduziram em cerca de 90% a concentração de gases e particulados prejudiciais à saúde emitidos pelo transporte na Região Metropolitana.

Infelizmente, em 2018, o governo estadual extinguiu a prática de monitoramento e de controle dos veículos automotores, um retrocesso que poderá ter consequência para a saúde da população.

Em Niterói, as medidas de isolamento reduziram o trânsito na cidade para cerca de 25% do normal, mas os movimentos intermunicipais reduziram apenas 40%. Por este motivo, a Prefeitura de Niterói iniciou no último sábado a redução para 30% da frota dos ônibus intermunicipais que utilizam o Terminal João Goulart e o controle de acesso de táxis de outras cidades a Niterói. Caso necessário, se não houver a redução do trânsito intermunicipal as medidas poderão chegar ao isolamento completo da cidade, evitando a chegada de todos os automóveis de outras cidades.

Por enquanto, vamos curtir o céu azul, respirar fundo para aproveitar a boa qualidade do ar nesse momento.

Axel Schmidt Grael
Secretário
Secretaria Municipal de Planejamento, Orçamento e Modernização da Gestão - SEPLAG.
Prefeitura de Niterói



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Rio de Janeiro apresenta melhora na qualidade do ar desde que quarentena entrou em vigor

Estação RJ- Engenhão, instalada dentro do estádio Nilton Santos




Rio de Janeiro apresenta melhora na qualidade do ar desde que quarentena entrou em vigor

Desde que foi instituído pelo governo do estado, a quarentena, que entrou em vigor no último dia 17, está contribuindo para uma expressiva melhora na qualidade do ar na região Metropolitana do Estado do Rio de Janeiro. Um levantamento feito pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea) revela que houve uma redução na concentração de Dióxido de Nitrogênio (NO2) na atmosfera.

Na estação de monitoramento da qualidade do ar localizada em área de abrangência do Distrito Industrial de Santa Cruz, na zona oeste da cidade, os resultados mostram uma redução de 80% na concentração local de NO2 entre 14 e 22/3, e de 77% entre 23 e 25 do mesmo mês, se comparado ao período de 6 a 13 de março.

No ponto de monitoramento situado em área de influência urbana do município de Itaguaí, essa diferença ficou entre 12% e 10%; e na estação de Jardim Primavera, em Duque de Caxias, os resultados indicam uma queda de 45% de NO2 na atmosfera entre 23 e 25 de março, em relação ao período anterior às ações de distanciamento social.

Recentemente, nos estudos realizados pelas instituições governamentais internacionais sobre a melhoria na qualidade do ar em períodos de isolamento, o NO2 recebeu atenção especial devido aos efeitos respiratórios adversos, que segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), está cada vez mais associado aos casos de bronquite, asma e infecções respiratórias.

Esse poluente é emitido principalmente pela queima de combustível, em caminhões e ônibus, carros e atividades industriais.

O Inea monitora a qualidade do ar por meio de 58 estações que medem continuamente parâmetros meteorológicos e as concentrações de poluentes dispersos no ar. Os poluentes analisados são óxido de nitrogênio (NOx), monóxido de carbono (CO), dióxido de enxofre (SO2), ozônio (O3) e hidrocarbonetos; compostos orgânicos voláteis, como o benzeno; e micropartículas sólidas e líquidas suspensas no ar (PTS, PM10 e PM2.5).

Em relação às condições meteorológicas, que influenciam a dispersão e a concentração dos poluentes na atmosfera, os parâmetros monitorados são: direção e velocidade do vento, temperatura, umidade, radiação solar, pressão atmosférica e precipitação.

Todos os dados gerados são transmitidos em tempo real para a central de telemetria do Inea, que também utiliza informações oriundas de estações privadas pertencentes a empreendimentos com elevado potencial poluidor. Após processados e validados, os dados são disponibilizados à população por meio de relatórios e boletins disponibilizados o portal do órgão ambiental estadual: www.inea.rj.gov.br .

Fonte: INEA




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Em uma semana, poluição em São Paulo cai pela metade, mas continua desigual entre centro e periferia

03 de abril de 2020

Redução drástica na circulação de veículos, em consequência quarentena para a contenção do novo coronavírus, teve como resultado a rápida diminuição da poluição atmosférica da cidade



Concentração de monóxido de carbono cai cerca de 50% na cidade de São Paulo em uma semana. Carros são principal fonte de emissão de CO (imagem: Mario Gavidia Calderon)

Poluição por óxidos de nitrogênio (NOx) reduz cerca de 50% em São Paulo. Poluente é emitidos sobretudo por veículos a diesel. Carros são principal fonte emissora de CO (imagem: Mario Gavidia Calderon)

Material particulado MP 2.5, formado por processos secundários a partir da queima de combustível, também reduziu em uma semana, porém de forma desigual na cidade de São Paulo (imagem: Mario Gavidia Calderon)

Poluentes secundários como o material particulado MP10 tiveram redução menor, cerca de 30% (imagem: Mario Gavidia Calderon)


Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP – Com a quarentena desde o dia 24 de março, como forma de contenção ao novo coronavírus (SARS-CoV-2), os índices de poluição atmosférica na cidade de São Paulo reduziram-se cerca de 50% em apenas uma semana. É o que mostra a comparação dos dados atmosféricos divulgados pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) entre as semanas do dia 15 a 21 e 22 a 28 de março.

Há menos ruído, consegue-se ouvir mais os passarinhos e também há menos poluição. Esse céu mais limpo que pode ser notado em São Paulo já no início da quarentena é resultado da redução na circulação de veículos, a principal fonte de emissão de poluentes na cidade. Como uma grande parte deles deixou de circular, fica clara a diminuição de poluentes primários como o monóxido de carbono [CO, emitido principalmente pelos carros] e os óxidos de nitrogênio [NOx, emitidos sobretudo por veículos a diesel], que pode ser confirmada nos dados atmosféricos”, diz Maria de Fátima Andrade, professora do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP), que analisou os dados da Cetesb especialmente para a Agência FAPESP.

Além da redução significativa dos poluentes primários, diretamente ligados à emissão veicular, também houve diminuição de cerca de 30% de material particulado inalável. Trata-se dos poluentes MP 10, material particulado com diâmetro até 10 micrômetros, relacionado à ação dos veículos que ressuspendem a poeira do solo, e MP 2.5, com até 2,5 micrômetros, formado por processos secundários a partir da queima de combustível.

Desigualdade na poluição

De acordo com Andrade, a redução dos poluentes não ocorreu de forma igual na cidade. “Os mapas mostram que a diminuição foi maior na região central da cidade. A melhora na qualidade do ar ocorreu de forma desigual na cidade. É possível também perceber que na região de Cubatão, por exemplo, houve aumento de alguns poluentes, mas lá são outras fontes de poluição, ligadas a atividades industriais”, diz.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o limite de exposição a material particulado é de 25 µg/m³ (micrograma por metro cúbico de ar), média de 24 horas. Índice que, normalmente, tende a ser superado por várias estações de monitoramento da Cetesb.

Em dias comuns, a poluição na cidade de São Paulo também ocorre de forma desigual, como mostrou outro estudo da equipe de pesquisadores liderada por Andrade.

Normalmente, é comum que algumas estações cheguem próximo a 40 µg/m³ de material particulado, como é o caso das estações de Osasco, Grajaú e Mauá. Um pouco acima de 25 µg/m³ estão as estações de Capão Redondo, Diadema e Cerqueira Cesar. Essa diferença tem relação sobretudo com a idade da frota e quantidade de veículos que circulam próximos a estas estações.

Andrade ressalta que qualquer comparação de poluição atmosférica como a realizada para avaliar a qualidade do ar na quarentena necessita avaliar períodos mais longos que duas semanas. “O ideal seria comparar períodos mais longos de diferentes anos. Porém, quando se analisam os dados de março de 2019, observa-se que, em função de ter sido um mês chuvoso, as concentrações também não estavam tão altas. A chuva é o principal mecanismo de remoção de poluentes da atmosfera”, diz.

De acordo com a pesquisadora, ao analisar eventos de poluição e comparar diferentes períodos é importante observar quais eram as condições meteorológicas que estavam atuando. “É importante ressaltar que as comparações que estão sendo feitas serão melhoradas quando tivermos mais dados e considerarmos todas as outras condições, em especial a meteorologia”, diz.

Andrade afirma que, quando começou a quarentena, no dia 24 de março, as condições meteorológicas estavam muito parecidas com as da semana anterior. “Era até para estar acumulando mais concentração de poluentes, porém houve uma queda considerável, sobretudo nos poluentes associados aos combustíveis”, diz.

Os mapas apresentados na reportagem foram desenvolvidos pelo aluno de doutorado no IAG Mario Gavidia Calderón.

Novas medições

A configuração sui generis da poluição atmosférica paulistana durante a quarentena será objeto de estudo para a equipe de pesquisadores do IAG. “Fora toda essa situação preocupante da pandemia, é como se estivéssemos vivenciando um experimento forçado inédito em poluição atmosférica. Isso vai permitir fazer medições praticamente impossíveis de serem realizadas em dias comuns”, diz Andrade.

Com isso, Andrade pretende fazer uma análise mais robusta dos dados durante a quarentena e também programar novas medições. “Como houve uma redução significativa da principal fonte de poluição na cidade [veículos] será possível monitorar melhor outras fontes, como, por exemplo, o impacto da queima de combustíveis como lenha e carvão utilizados na preparação de alimentos, a chamada poluição interna”, diz.

De acordo com a pesquisadora, essas fontes menos expressivas – e que correspondem a menos de 10% da poluição atmosférica total na cidade – tendem a ser estimadas e não medidas. “Nas medições essas fontes de poluição acabam se misturando com a veicular, que é a dominante. Com esses novos estudos, será possível quantificar melhor essas outras fontes, que geralmente acabam sendo ofuscadas pela poluição veicular”, disse.

Andrade também está realizando um projeto apoiado pela FAPESP, que tem o intuito de estudar o comportamento dos gases de efeito estufa. “Neste projeto temático da FAPESP pretendemos contribuir com o balanço de emissões de gases de efeito estufa da cidade de São Paulo”, diz.

Geralmente, as estimativas da contribuição urbana desses gases são feitas com inventários calculados de forma teórica. “Esperamos que as medidas que estamos realizando nesse período tragam informações para a melhoria desse conhecimento. Poderemos obter dados a partir de medições e não apenas de estimativas. Em São Paulo, a principal fonte de emissão de CO2 é a queima de combustível fóssil, e, portanto, esse gás é bem correlacionado com o CO nos horários de tráfego. É conhecido também que a vegetação desempenha um papel importante na absorção de CO2. Esperamos que neste período de redução das fontes veiculares seja mais fácil separar a contribuição veicular do papel da vegetação e da temperatura no balanço do CO2”, diz.


Fonte: Agência FAPESP



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