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quarta-feira, 28 de agosto de 2019

COBIÇA EXTERNA SOBRE A AMAZÔNIA: Fato ou Fake News?



Sou engenheiro florestal de formação e trabalhei um bom tempo da minha vida na Amazônia, inclusive na Área Indígena Nhamundá-Mapuera, experiência que reputo como um dos pontos altos da minha carreira e da minha própria vivência. Conheci a Transamazônica, a Perimetral Norte e muitas outras realidades dos projetos de "desenvolvimento" da Amazônia.

Conheço, por formação e por experiência "in loco", a importância deste incontestável patrimônio do povo brasileiro e, como brasileiro, sinto uma enorme responsabilidade com a perenidade deste importante ativo que pertence às atuais e futuras gerações do nosso país.

É claro que qualquer país gostaria de ter tido a sorte de exercer soberania sobre um tesouro como a Amazônia, mas apenas nove países têm esse privilégio: o Brasil é um deles e detém a maior extensão dessas terras.

Portanto, é nossa a maior responsabilidade, e devemos responder sobre isso perante a Humanidade, pois a Amazônia é essencial para todo o planeta.

Polêmicas

Tenho acompanhado com assombro e desgosto o malabarismo retórico de certos governistas e dos defensores das ideias ecocidas do atual governo brasileiro, para tentar justificar o injustificável:

  • a política anti-meio ambiente, anti-legislação ambiental, anti-ONGs, anti-indígenas, anti-parques, anti-Amazônia, anti-ajuda estrangeira, e 
  • ao mesmo tempo, pro-queimada, pro-fumaça, pro-agrotóxicos, pro-"ruralismo do atraso"

Estamos diante da extemporaneidade, xenofobia e autoritarismo explícitos!

Envolto em chamas das queimadas, o presidente da República não arrefece. Avança na sua retórica equivocada, insistindo que "parques e áreas indígenas atrasam o progresso". Em confronto com a legislação, defende a exploração mineral destas áreas por mineradoras e até mesmo pelos devastadores garimpos, com os seus impactos sociais, econômicos e ambientais! Ao defender essa ideia e fazendo jus ao seu símbolo de campanha - a arminha com os dedos -, aciona a metralhadora giratória e ataca governos passados, atuais governadores dos estados da Amazônia, desrespeita de forma chula dirigentes de outras nações, insulta ONGs, despreza técnicos e pesquisadores, chegando ao ponto de demitir o diretor do INPE, que justamente o alertava sobre os problemas do aumento do desmatamento e das queimadas que enfrenta agora.

Recorde de incêndios! Diante das críticas nacionais e mundiais, ressuscitaram os antigos fantasmas da cobiça mundial sobre a Amazônia. Segundo o presidente, por trás das críticas às suas posturas contrárias ao meio ambiente, estariam os interesses sobre as nossas riquezas minerais.

Curiosamente, o mesmo olhar que preza a riqueza do subsolo, não consegue enxergar a incomparável riqueza da biodiversidade da Amazônia que floresce na superfície. Não reconhece as oportunidades que tal riqueza oferece para o presente e o futuro do país.

Não se importam que tudo vá pelos ares na fumaça criminosa das queimadas. Afinal, para eles é só mato. Nada mais.

Cobiça internacional sobre a Amazônia. Quando?

Durante o regime militar, os generais bradavam contra a ameaça de invasão estrangeira e a propaganda oficial do governo alardeava o slogan nacionalista: "Integrar para não Entregar". Empunhando esta bandeira, avançaram tratores sobre a floresta amazônica e abriram a Transamazônica, a Perimetral Norte, a Belém-Brasília e vieram projetos de colonização como o Polo Noroeste e tantos outros. Alguma dessas iniciativa teve sucesso? Nenhuma!

O capitão-presidente, tão saudoso do período da ditadura, resolveu ressuscitar o discurso da ameaça internacional sobre a Amazônia.

Será que procede a preocupação? Sim, procede e já aconteceu. O domínio estrangeiro da riqueza mineral brasileira já aconteceu há muitas décadas e intensificou-se justamente durante o regime militar!

Há uma vasta literatura sobre o assunto, mas apresento aqui informações de publicações da década de 1980, para mostrar há quanto tempo o subsolo brasileiro já está nas mãos de empresas estrangeiras.

Gostaria de dar destaque a dois livros que li e ainda guardo em minha biblioteca sobre a questão mineral no Brasil e na Amazônia, publicados em 1987, pelo Ministério da Ciência e Tecnologia e pelo CNPq, cujas capas e referências bibliográficas encontram-se a seguir:



"A Questão Mineral na Amazônia: seis ensaios críticos" 




"O Subsolo Brasileiro: consolidação estatística da situação atual das concessões, licenciamento, autorizações de pesquisa e pedidos de pesquisa"


Ambas publicações foram lançadas em 1987, portanto ainda no processo de redemocratização do país e apresentam dados referentes justamente ao período da ditadura militar.

Minérios em mãos estrangeiras

Na publicação "Subsolo Brasileiro", os autores demonstram o quanto já havia de domínio estrangeiro das riquezas minerais. Veja a tabela abaixo:




Naquela ocasião, ou seja, há mais de trinta anos, 42% das áreas de interesse minerário já estavam sob o domínio de empresas estrangeiras. Em termos de proporção das áreas (km²), o percentual já somava 38,1% do total.

Mineração em terras indígenas

Também temos visto o presidente e membros do governo defenderem a mineração em Áreas Indígenas. É importante lembrar que a Constituição da República Federativa do Brasil, sobre a qual o atual presidente jurou lealdade, estabelece que:

Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.

Ainda assim, defende-se no atual governo a mineração e o garimpo em áreas indígenas. Quais interesses estariam em jogo?

Veja o mapa abaixo, publicado em "A Questão Mineral da Amazônia":




O mapa intitulado "Interesses de empresas de mineração incidentes na terra indígena Yanomami" mostra as uma parte dos territórios do Amazonas e Roraima e da Venezuela, e o avanço dos interesses das empresas mineradoras sobre as terras indígenas.

OPINIÃO

Em tempos de polarização das opiniões e da supremacia dos estereótipos, das respostas prontas e das "fake news", nosso interesse aqui é estimular a reflexão sobre informações e não sobre versões tendenciosas.

Na verdade, estamos mais interessados em ver o fogo da Amazônia ser apagado e que a nossa incontestável supremacia sobre a Amazônia se reflita numa atitude responsável com este bioma que é fundamental para o futuro do Brasil e do planeta. Não podemos falhar perante as futuras gerações!

Que a reflexão permita que o bom-senso prevaleça, que a atitude responsável supere o extremismo e que a razão vença o ódio.

Axel Grael
Engenheiro florestal








Um comentário:

  1. Querido Amigo Axel,
    Parabéns por seu trabalho contínuo, com ética e competência.
    Grande e saudoso abraço,
    José Américo.

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