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sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Algas que infestam a orla carioca estão presentes em todo o litoral e são vistas até do espaço


Mancha escura aponta presença de micro-organismos na costa brasileira Nasa

Nasa captou imagens dos micro-organismos que têm aparecido com frequência na costa

RIO - O aquecimento anormal das águas do Atlântico Sul neste verão ficou evidente numa imagem capturada pelo satélite Aqua, da Nasa, no último dia 19. Uma mancha escura de cerca de 800 quilômetros de extensão se formou no litoral dos estados do Rio e São Paulo, chegando a Santa Catarina. Ela é resultado da decomposição de algas, ingeridas por outros micro-organismos, e mortas pela temperatura elevada. Um sinal da onda de calor extremo que deixa meteorologistas e oceanógrafos atentos à possibilidade de ocorrência de fenômenos climáticos como grandes tempestades, que poderiam aparecer no fim do verão carioca e no outono.

A mancha escura, segundo a Nasa, foi provocada pela espécie Myrionecta rubra, um micro-organismo protista ciliado que se desloca rapidamente e produz sua própria comida por meio de fotossíntese, ao ingerir cloroplastos de microalgas. Apesar de se alimentar destes micro-organismos, o protista não é tóxico para seres marinhos ou para humanos. No entanto, seu acúmulo pode ter efeitos sobre a vida marinha, inclusive sobre espécies filtradoras do mexilhões, consumidos pelo homem.

O alerta sobre imagem da Nasa veio do oceanógrafo Heitor Augusto Tozzi, um observador atento das condições do mar do Rio e que destaca a intensidade do fenômeno.

- Florescimento seguido de mortandade de micro-organismos marinhos já aconteceu outras vezes. O que impressiona agora é a dimensão do fenômeno, não só um sinal da força dessa massa de calor quanto o que ela pode representar em desequilíbrio nos ecossistemas marinhos - destaca Tozzi.

Ele observa que a persistente massa de ar quente por trás do calor - ela esteve ativa por todo o mês de janeiro - é tão intensa que só poderá ser rompida por uma frente fria de grande potência. Isso significa a possibilidade de fortes tempestades. A massa funciona como um escudo que bloqueia ventos e frentes frias associadas à chuva.

- Nas suas bordas tem chovido torrencialmente, principalmente em certas áreas do Nordeste do Sul do país - alerta.

No centro da massa onde está o Rio de Janeiro, porém, persiste o tempo quente e seco, que deve perdurar nos próximos dias.

Professor de Engenharia Costeira da Coppe/UFRJ, Paulo Cesar Rosman avalia que a formação da mancha é resultado de uma série de eventos anormais. O principal deles é a massa de ar quente e seco que está bloqueando a chegada de ventos baixos e frentes frias ao litoral da Região Sudeste. Com isso, a temperatura da superfície do mar está beirando os 30 graus Celsius.

Também faltam correntes marítimas que garantem o trânsito normal das águas entre São Paulo e o Espírito Santo. O mar parado concentra nutrientes nitratos e fosfatos, liberados por rios poluídos por esgoto que desaguam nas baías de Guanabara e Sepetiba.

- As algas precisam de calor e nutrientes para viver. Estão, portanto, na situação ideal - descreve Rosman. - No entanto, em situação normal, as substâncias que as alimentam são dispersas por ventos, chuvas e correntes marítimas. Se eles são fracas, estes micro-organismos ficam estacionados no litoral.

Meteorologistas acreditam que, nas próximas semanas, a zona de ar seco sobre o Sudeste vai se deslocar para o meio do oceano.

Paulo Cesar Abreu, professor do Instituto de Oceanografia da Fundação Universidade Federal do Rio Grande (Furg), lembra que o acúmulo de algas mortas já foi visto na costa brasileira, mas não em quantidade tão expressiva.

- Este verão veio com um aquecimento exagerado da superfície do oceano - assinala Abreu, que também é pesquisador do Laboratório de Fitoplâncton da universidade. - A temperatura alta e a pouca movimentação da água facilitam a proliferação de micro-organismos, como algas e cianobactérias. No Rio, essa combinação gerou a espuma esverdeada nas praias.

Abreu ressalta que fenômenos como manchas negras podem provocar mudanças na cadeia alimentar.
- Alguns micro-organismos, que servem como alimento de peixes, podem deixar uma região. Assim, haveria uma grande mortalidade, o que prejudicaria a pesca - observa.

A oceanógrafa Fernanda da Frota Mattos Mazzillo explica que uma microalga que vive dentro da Myrionecta provoca a descoloração da superfície da água. Por isso o acúmulo de protistas flutuando a poucos metros de profundidade pode ser detectado pelos satélites.

- A floração da Myrionecta pode estar relacionada à interação entre duas grandes correntes, a do Brasil e a das Malvinas, mas para comprovarmos esta teoria precisamos de mais informações da temperatura da superfície do oceano - pondera. - A mancha vai se dissipar em algum momento, provavelmente pelo fim de nutrientes ou pela ação de predadores, como peixes.

Fonte: O Globo
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