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terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

PAULO NOGUEIRA NETO: agradecimento a um dos maiores nomes do meio ambiente no Brasil, que faleceu aos 96 anos.



Paulo Nogueira Neto.

O Brasil perdeu um dos maiores nomes do ambientalismo e da gestão ambiental pública: o Dr. Paulo Nogueira Neto, falecido aos 96 anos, nesta segunda-feira, 25, em São Paulo.

Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo - USP, em 1945, depois fez o curso de História Natural, na Faculdade de Filosofia e Letras, o qual ele concluiu em 1959. Além disso, foi professor emérito do Instituto de Biociências, onde também foi um dos fundadores do Departamento de Ecologia Geral.

Paulo Nogueira Neto foi um dos precursores das políticas públicas no Brasil, quando criou e dirigiu a Secretaria Especial do Meio Ambiente - SEMA, em pleno regime militar e no momento que o Brasil vivia o auge do desenvolvimentismo e pregava que estava de portas abertas para as indústrias poluidoras.

Neste contexto tão desfavorável, teve habilidade e sabedoria para formar a SEMA e unir-se aos estados para criar o Sistema Nacional do Meio Ambiente, formado por órgãos ambientais pioneiros como a Fundação Estadual do Meio Ambiente - FEEMA (RJ), CETESB (SP) e outros, que ajudaram a compor a sua base de apoio para estruturar a gestão ambiental governamental no país.

Uma triste perda. O Dr. Paulo Nogueira Neto foi a pessoa que me estimulou a ser engenheiro florestal. 

Dr. Paulo. Muito obrigado por toda inspiração e pelo legado que o Sr. deixa para o nosso país. 

Axel Grael



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Por ocasião da Crise Hídrica que assolou o Brasil, mas principalmente São Paulo, em 2015, escrevi uma postagem lembrando o alerta feito por ele em 1977, portanto 37 anos antes, que faltaria água em São Paulo: 

“E, talvez, antes do final do século, São Paulo terá que se abastecer com água transportada do vale do Ribeira.”

Na postagem, intitulada EM ENTREVISTA À FOLHA DE SP EM 1977, O AMBIENTALISTA PAULO NOGUEIRA NETO ALERTOU PARA A CRISE DA ÁGUA , lembre de como o Dr. Paulo Nogueira Neto influenciou a minha tomada de decisão pela carreira de engenheiro florestal e pela militância ambientalista.

Transcrevo o texto a seguir:


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PAULO NOGUEIRA NETO

O professor Paulo Nogueira-Neto é uma das mais importantes referências para mim.

Foi após uma conversa com este pioneiro do movimento ambientalista e da política ambiental pública no Brasil, que me decidi por seguir a carreira de engenheiro florestal e me dedicar ao ambientalismo.

A conversa foi em Brasília, na então ainda acanhada sede da recém criada Secretaria Especial do Meio Ambiente - SEMA, na década de 1970, quando eu ainda era adolescente e definia para que carreira eu faria o vestibular.

A SEMA foi o órgão ambiental pioneiro do país, criado logo após a Conferência de Estocolmo, quando a diplomacia nacional defendeu a posição que no Brasil as empresas poluidoras eram bem-vindas pois precisávamos nos desenvolver!

Praticamente sem estrutura e com pouco apoio e respaldo político no governo federal, Paulo Nogueira Neto teve a sabedoria de trabalhar com o que tinha e buscar os escassos apoios onde eles estivessem. Encontrou apoio em alguns estados, justamente os que mais poluíam: RJ, SP e MG, além de SC. Foi nessa aliança, construída com raros interlocutores sensíveis à causa ambiental que surgiram os primeiros órgãos ambientais do país: FEEMA (RJ) e CETESB (SP). Nascia aí o embrião do SISNAMA, o Sistema Nacional do Meio Ambiente.

Me lembro muito bem daquele encontro. O Dr. Paulo Nogueira Neto falou dos desafios ambientais das décadas pela frente. Meu pai perguntou: "Mas, o Sr. acha que engenharia florestal tem futuro?". A resposta foi: "Futuro tem. Não tem ainda é presente. Se você acredita no futuro, siga em frente".

Suas palavras fizeram um velejador, mas neto de um farmacêutico (na época que meu avô Romão Grael exercia o seu ofício no interior de São Paulo, farmacêuticos eram praticamente botânicos), decidir ser engenheiro florestal. Lembro que sempre que eu falava com amigos sobre a minha decisão, tinha que explicar o que era a tão desconhecida profissão.

Em 1977, ano que ingressei no curso de Engenharia Florestal, na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Paulo Nogueira Neto dava a entrevista que resultou na matéria da Folha, que o texto abaixo se refere.

É importante contextualizar a corajosa atitude do líder ambientalista. As palavras de alerta de Paulo Nogueira Neto foram proferidas numa época de ditadura militar, de forte influência desenvolvimentista e quando ainda havia uma percepção de inesgotabilidade dos recursos naturais. Na época, a população de São Paulo e da maioria das cidades brasileiras era ainda uma fração do que temos hoje. Ainda assim, enxergou longe!

Manifestações como a dele eram mal compreendidas e consideradas alarmistas e os defensores de tais ideias eram considerados inimigos do progresso e do desenvolvimento. Tempos depois, passaram a chamar ambientalistas como ele também de "ecochatos".

Pois bem. A realidade está ai para mostrar que a falta de ouvidos para o alerta do ambientalista nos trouxeram exatamente para a crise que ele antecipou.

E a falta de prudência e a falta de atitude para a transição para uma sociedade sustentável continuam a nos empurrar para outras crises e outras tragédias ambientais. Aliás, tragédias ambientais ou tragédias humanas...?

Quando começarão a ouvir os ecochatos?

Axel Grael




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Morre Paulo Nogueira Neto, pioneiro da proteção ambiental 

Criador das primeiras unidades de conservação do País, professor foi o primeiro secretário de meio ambiente do País, cargo equivalente ao de ministro, durante regime militar 

Giovana Girardi, O Estado de S. Paulo
25 de fevereiro de 2019 | 23h31


SÃO PAULO - O professor emérito de Ecologia da USP Paulo Nogueira Neto, considerado um dos patronos do ambientalismo no Brasil, morreu nesta segunda-feira, 25, aos 96 anos.

Secretário especial de Meio Ambiente entre 1973 e 1985, órgão criado pelo governo militar e que seria o embrião do Ministério do Meio Ambiente, Nogueira Neto foi responsável por introduzir no País a agenda da conservação da natureza, criando 26 estações ecológicas e áreas de proteção ambiental (APAs), num total de 3,2 milhões de hectares protegidos, em uma época em que o discurso oficial era desenvolvimentista e pregava o avanço, em especial sobre a Amazônia.


Paulo Nogueira Neto no jardim de sua casa no Morumbi em 2004 Foto: Sergio Castro/Estadão

Foi com ele que se criou, por exemplo, a primeira versão da Estação Ecológica da Jureia, ainda sob o governo federal, antes de virar estadual, e a do Jari, na Amazônia. Nogueira Neto também deu origem a alguns marcos regulatórios do País na área, como a Política Nacional do Meio Ambiente, de 1981, que criou o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e o Sisnama. Ainda na década de 1980 foi um dos dois únicos representantes da América do Sul na Comissão Brundtland, da ONU, onde foi cunhado o conceito de desenvolvimento sustentável.

Com formação em Direito e História Natural, o pesquisador, que criaria o Departamento de Ecologia da USP, iniciou sua carreira na área investigando abelhas sem ferrão, após ganhar uma colmeia do sogro. "Ele se interessou pelas abelhas e aí entra o viés do profissional. Ele entendeu qual era o problema científico intocado que estava naquele material", contou o zoólogo e amigo Paulo Vanzolini (1924-2013) na ocasião em que Nogueira-Neto foi agraciado com o Prêmio Professor Emérito – Troféu Guerreiro da Educação em 2005. A distinção é concedida desde 1997 pelo Estado e pelo Centro de Integração Empresa Escola (Ciee).

Em seu discurso de agradecimento, Nogueira Neto lembrou o momento em que foi chamado a Brasília pelo então ministro do Interior, Henrique Manoel Cavalcanti, logo após a publicação do decreto que criou a Secretaria Especial do Meio Ambiente (Sema).

"Falei que era muito fraco, não dava poder de multar, era um decreto criando uma entidade que tinha um nome importante, mas na prática era uma entidade missionária, porque não tinha poderes para agir." Ele pôde mudar os termos e foi convidado para dirigir o novo órgão.

Convencimento

O ambientalista contou que para lidar com os freios impostos pelos militares, sempre se valeu da estratégia de muita conversa e trabalho de convencimento. "Nessa luta toda nós procuramos fazer com que as pessoas fossem realmente convencidas. A impressão era que o Brasil deveria se desenvolver primeiro e depois cuidar do meio ambiente. Depois que o Brasil começou a se desenvolver mais, evidentemente que a gente teria de cuidar ao mesmo tempo da poluição", disse. 


Paulo Nogueira Neto (de cadeira de rodas) acompanha Carlos Minc, Marina Silva, Sarney Filho e Rubens Ricupero, todos ex ministros de Meio Ambiente, para entregar à então presidente Dilma Rousseff um manifesto contra mudanças no Código Florestal em 2011 Foto: ANDRE DUSEK/ESTADÃO

Foi com essa política que ele conseguiu se contrapor ao programa nuclear do regime militar e ainda proteger a Jureia, como contou ainda em seu discurso de 2005.

"Um dia me chamaram no Palácio do Planalto e falaram que tinham uma boa notícia: 'Vamos fazer oito usinas nucleares e cada uma vai ser estabelecida dentro de uma estação ecológica'. Aí pus a mão na cabeça, né? E disse a eles que era contra, que nenhum país tinha isso, mas eles não desistiram e graças a isso hoje nós temos a Estação Ecológica da Jureia, que é a joia da coroa em São Paulo em matéria de unidades de conservação. (...) No momento que o Brasil fez as pazes com a Argentina, cancelaram o programa nuclear", contou. "Aí, para proteger a Jureia, fundamos a SOS Mata Atlântica", continuou.

Quem acompanhou esse trabalho de perto foi José Pedro de Oliveira Costa, primeiro secretário de Meio Ambiente do Estado de São Paulo e ex-secretário de Biodiversidade do governo Temer. “Foi ele quem me convidou para trabalhar na Estação Ecológica da Jureia, em 1979 e concordou sem pestanejar que não deveríamos sair de lá mesmo depois do decreto que transformou toda aquela área em zona para usinas nucleares", conta.

"Ele me dizia: 'Estamos numa guerra em favor do meio ambiente, precisamos calcular cada batalha sem perder a visão do conjunto da luta. Podemos perder algumas batalhas mas precisamos ganhar a guerra'".

Segundo Costa, Nogueira Neto apoiou a criação do Parque da Serra do Mar, em 1976, a criação do Parque do Tumucumaque em 2002 e das grandes áreas protegidas marinhas no ano passado. "Além de sua importância como pioneiro da militância e governança ambiental, mostrou a todos seu amor e dedicação tanto os homens como à natureza. De forma simples, profunda e fértil."

Durante a premiação de 2005, o diretor do Estado, Ruy Mesquita (1925-2013) lembrou a importância da atuação do ambientalista na criação de uma consciência ambiental no Brasil. "Sobretudo com suas pesquisas sobre a influência das culturas humanas na natureza e a influência da natureza nos comportamentos humanos, resume ele o que de melhor as novas gerações podem aprender em termos de consciência ambiental", disse, antes de entregar-lhe o troféu.

"Faleceu nosso mais antigo e respeitado ambientalista", publicou no Instagram o atual ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles

Clima

Nogueira Neto também foi um dos primeiros no Brasil a falar abertamente sobre o risco das mudanças climáticas. "Ou se controlam as emissões de gás, ou teremos problemas seríssimos daqui para frente, não só com as tempestades. O nível do mar vai subir. As inundações serão cada vez maiores durante as ressacas." E dava a receita: "Só há uma maneira prática de parar esse processo, que é plantar floresta, que é capaz de retirar carbono da atmosfera. E o custo do reflorestamento é de quem gera carbono."


"Só há uma maneira prática de parar esse processo, que é plantar floresta, que é capaz de retirar carbono da atmosfera. E o custo do reflorestamento é de quem gera carbono." 


Imagem de 1974 de Paulo Nogueira Neto com uma anta Foto: Arquivo Estadão


TRAJETÓRIA

Governo federal


Foi secretário especial de Meio Ambiente entre 1973 e 1985, em órgão criado pelo governo militar e que seria o embrião do Ministério do Meio Ambiente.

Marcos regulatórios

Deu origem a alguns marcos regulatórios do País, como a Política Nacional do Meio Ambiente, de 1981, que criou o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e o Sisnama.

Comissão Brundtland

Foi um dos dois únicos representantes da América do Sul na comissão da ONU, onde foi cunhado o conceito de desenvolvimento sustentável.

Prêmio Professor Emérito

Ganhou a premiação Troféu Guerreiro da Educação em 2005, distinção concedida pelo Estado.


Fonte: Estadão



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