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sexta-feira, 4 de maio de 2018

TORBEN GRAEL: 'Precisamos de iniciativas que deem acesso à vela'



Torben Grael está acompanhando a Copa da Juventude (Peu Fernandes/Divulgação)


Em Salvador, maior medalhista olímpico brasileiro diz que a modalidade não é esporte de elite, mas 'classe média no país é minúscula'

Dono de cinco medalhas olímpicas, o coordenador técnico da equipe brasileira de vela, Torben Grael, está em Salvador para acompanhar a Copa da Juventude 2018, principal competição da vela jovem nacional, que está sendo disputada na Base Naval de Aratu.

Ouro em Atlanta (1996) e Atenas (2004), prata em Los Angeles (1984) e bronze em Seul (1988) e Sidney (2000), Torben Grael, 57 anos, é o maior medalhista olímpico brasileiro, empatado com o também velejador Robert Scheidt. O CORREIO fez uma entrevista exclusiva com ele nesta quinta-feira (3) e você confere a seguir:


Como você avalia o atual momento da vela brasileira?

A gente tem excelentes velejadores olímpicos, mas não são muitos. O desafio é aumentar essa base da vela olímpica. Se temos mais velejadores, fica mais fácil de conseguir realmente alguém que se sobressaia mais. Quando você tem muito poucos, a chance é menor. O objetivo nosso é fomentar, atrair mais a garotada da vela jovem, de base, para as classes olímpicas.

Como conseguir isso?

Facilitar essa passagem da vela de base para a vela olímpica, promover mais bons campeonatos de vela jovem e fazer um acompanhamento maior para que eles cheguem na classe olímpica e consigam se dedicar.

Como você vê a Bahia no cenário nacional da vela?

A Bahia tem um dos melhores clubes de vela do Brasil, que é o Yacht Clube da Bahia, tem várias marinas boas para vela oceânica e tem um lugar maravilhoso para velejar. Aqui você tem temperatura e vento pra fazer vela o ano inteiro. Tem tudo para se desenvolver ainda mais. A parceria do Yacht Clube com a Confederação Brasileira de Clubes deu mais impulso para a vela aqui na Bahia, e a gente quer ver isso ser multiplicado pelo país afora.

A vela não é um esporte barato. Há como popularizar a modalidade no Brasil?

A vela não é dos esportes mais baratos, mas o espaço que a vela poderia desfrutar e ocupar no Brasil é imensamente maior do que aquele que ela ocupa. A gente precisa de iniciativas que deem acesso à vela. Você não precisa necessariamente ser o dono do barco para velejar. Geralmente, em barcos de oceano, tem um dono e dez caras no barco. O importante é ter o acesso para aprender a velejar e fazer parte de uma tripulação. Qualquer esporte a nível olímpico, a preparação é cara. Outros esportes talvez não tenham equipamento, mas a preparação olímpica é parecida. A gente tem estruturas de clubes no Brasil que funcionam muito bem, várias praias no Brasil com acesso excelente ao mar, mas tem lugares que às vezes a gente precisa de um acesso público, a exemplo de uma rampa. A vela não é um esporte de elite. É um esporte de classe média. O problema é que a classe média no Brasil é minúscula em relação à população, mas esse é um problema de má distribuição de renda, não é um problema do esporte.

Qual foi a principal mensagem que você passou para os jovens no bate-papo que teve com eles antes da regata?

Eles estão em um começo de trajetória de competição e resultado é sempre bom, mas não é o mais importante nesse momento. Tudo depende de como você usa os resultados e os ensinamentos. O importante é não ter complexo de vira-lata, não se sentir inferior aos outros. Às vezes você não consegue o resultado porque ainda não tem a experiência, porque não treinou o suficiente, não preparou o equipamento suficiente. Você nunca pode aceitar que é inferior aos outros. Insistindo, as coisas acabam acontecendo.

Sua filha, a velejadora Martine Grael, foi medalha de ouro no Rio-2016. Como é conciliar os papéis de pai e velejador experiente?

É um orgulho muito grande você ter a filha campeã olímpica, você sendo campeão olímpico. O mais importante quando eles começaram, tanto ela como o meu filho [Marco Grael], que também participou do Rio-2016, é que eles curtissem. Ir em frente é uma coisa mais pessoal. Tem gente que gosta de competir e tem gente que não gosta muito. O nome tem o lado bom e o ruim. Aumenta um pouco a pressão neles, mas também facilita na parte técnica e nas experiências.



Fonte: Correio















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