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segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Praticantes de esportes no mar revelam encantos da Baía de Guanabara



Points na Baia de Guanabara de quem pratica esportes: mergulho no Forte da Laje - Custódio Coimbra / Agência O Globo


RIO - O pintor Paul Gauguin amou a luz na Baía de Guanabara, cantou Caetano Veloso em “O estrangeiro”. Nos primeiros raios da manhã, os contrastes de cores no espelho d’água são especiais, dignos de uma tela impressionista (ou pós-impressionista, em se tratando de Gauguin). É a hora mais disputada pelos que têm o privilégio de enxergar a baía por ângulos só possíveis a quem está dentro dela. Numa canoa ou num caiaque, sobre uma prancha de stand up paddle ou levados por uma vela, os amantes de esportes nas águas da Guanabara conseguem viajar para além do estigma da poluição.
Os destinos são vários. O Forte Tamandaré da Laje, ou simplesmente Forte da Laje, é um dos cantinhos preferidos, que une beleza e história. Nas manhãs de sol, vira parada obrigatória de remadores de diferentes esportes e ainda de pescadores. Entre as fortalezas de São João e de Santa Cruz, e sem acesso por terra, o velho forte abandonado — que já foi estratégico para a proteção da cidade e fica sobre um rochedo ocupado pela primeira vez pelos franceses, liderados por Villegagnon, em 1555 — é um ponto de contemplação da baía, da geografia do Rio e de Niterói, e também de diversão.

‘A boca da barra é imponente, lugar de muita energia. Na Baía, cada dia é um dia, cada amanhecer é um amanhecer’. Douglas Moura. Atleta.

Uma estrutura de dez metros de altura serve de trampolim para os mais corajosos. E, por uma escadinha de pedra, há quem suba para explorar as ruínas e até para fazer piqueniques. Para um grupo de remadoras de canoa havaiana que parte da Praia de Icaraí, em Niterói, o Forte da Laje ganha fácil numa eleição dos locais mais bonitos da baía. Uma bênção para quem tem preparo físico. A viagem de ida e volta dá cerca de dez quilômetros.


DE CANOA PELOS ENCANTOS DA BAÍA DE GUANABARA

— Adoro remar até a Ponte Rio-Niterói, mas o forte é sensacional — diz a advogada Rebeka Rocha.

A professora de educação física Deborah Sabino, que rema na mesma turma, é das que se aventuram a dar um tchibum:

— Quando a água está limpa, gosto muito de lá. Além de fazermos uma remada mais longa, ganhamos um salto revigorante de presente.


Canoas ao lado da Fortaleza de São João, na boca da barra. Um dos lugares preferidos de remadores para um mergulhoFoto: Custódio Coimbra / Agência O Globo

Equipe de remadoras de canoa havaiana observa as cavernas do Morro Cara de Cão: "espetáculo geológico", segundo a velejadora Andrea Grael Foto: Custódio Coimbra / Agência O Globo
 
E a remada segue costeando a Fortaleza de Santa Cruz, próximo à enseada das tartarugas, local de observação de animaisFoto: Custódio Coimbra / Agência O Globo
 
Luz na Baía de Guanabara nos primeiros raios de sol: cada amanhecer é um espetáculo diferenteFoto: Custódio Coimbra / Agência O Globo


ESCULTURAS NATURAIS

A baía é ainda cheia de atrações naturais que se mantêm preservadas, apesar da degradação provocada por esgoto e lixo. Perto do Forte da Laje, há as cavernas do Morro Cara de Cão, outro marco histórico: aos seus pés, a cidade foi fundada. Quando a maré está baixa, tem gente que entra nas formações, só vistas da água. Professor de canoa havaiana na Urca e biólogo, Paulo Cordeiro chama a área próxima à Fortaleza de São João de anfiteatro. Na boca da barra, é um point na hora de dar aquele mergulho no meio de uma remada.

— Dependendo da maré e da época do ano, a baía chega a ter água com boa qualidade — explica o biólogo.

A velejadora Andrea Grael, mãe de Martine e mulher de Torben, dois atletas olímpicos de ouro, conta que sai velejando pela baía sem hora, desfrutando o caminho.

— A volta, quem decide é o humor do vento... — conta ela, revelando alguns segredos. — Saindo de Niterói, rodando pelo Morro do Morcego, você já aprecia pontos com ninhos de aves marinhas nas rochas. Mais adiante, tem as praias de Adão e Eva, uma escultura natural e o que chamamos de restaurante das tartarugas.

Para Andrea, a entrada da baía, com as formações rochosas dos dois lados e as fortalezas, é “mágica”. O Cara de Cão, ela chama de “espetáculo geológico”. Mas a velejadora vai ainda mais longe, ultrapassando a Ponte Rio-Niterói:

— Se navegarmos rumo além-Ponte, temos uma miríade de ilhotas e lajes. Até chegar a Paquetá, tem a Ilha de Jurubaíba (em São Gonçalo), que, apesar de abandonada, ainda é linda.

Paulo Cordeiro conta que os pilares da Ponte atraem não só esportistas, mas também biólogos especializados em observação de aves, que usam as estruturas como ilhas artificiais. Atleta de caiaque e professor na Urca, Bruno Fitaroni tem como um dos programas na baía remar até Paquetá. Dorme na ilha e depois volta para a Urca.

— São muitas atrações até Paquetá. Imagine se a baía fosse limpa, se investissem em saneamento, quanta coisa legal daria para fazer... — diz, com certa tristeza.


‘RESTAURANTE DAS TARTARUGAS’

Na Olimpíada, a sujeira da baía e as promessas não cumpridas de despoluição, agora sem data, ecoaram mundo afora. Mas as águas resistem. Por trás da Ilha da Boa Viagem, em Niterói, com sorte é possível ver arraias. No cantinho que Andrea Grael chama de “restaurante das tartarugas”, uma pequena enseada junto ao Morro do Morcego, é sempre interessante dar uma parada e observar tartarugas-verdes. Aos pés do Morcego, há uma prainha popular entre os esportistas, cuja areia fica lotada de pranchas de stand up e canoas nos finais de semana e que tem uma característica surpreendente: suas águas são quase sempre transparentes. A praia dá acesso a uma piscina natural, escondida, cercada por pedras que ajudam a filtrar o lixo.

O Morcego é um entre outros locais na baía que formam o parque de diversões do atleta de canoa havaiana Douglas Moura, que só não rema em suas águas nos dias em que as condições do mar e tempo não permitem.

— Não parece a Ilha Grande? — diz, olhando para a enseadinha das tartarugas. — Gosto de ver o sol nascer ao lado da Ilha da Boa Viagem, olhar o Pão de Açúcar bem aos pés dele, de pular do Forte da Laje. E a boca da barra é sempre imponente, um lugar de muita energia. Na baía, cada dia é um dia, cada amanhecer é um amanhecer.

Fonte: O Globo








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