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terça-feira, 24 de maio de 2016

Jorge Melnick, astrônomo: 'Vamos viver um caos político'



"Todos os governos da América Latina são disfuncionais", acredita o astrônomo Jorge Melnick - Domingos Peixoto / Agência O Globo



Mario Menasce

Especialista em astrobiologia, chileno vem ao Rio a cada três meses como pesquisador especial do programa Ciência sem Fronteiras para colaborar com o Observatório Nacional

"Nasci em 1949, em Santiago, filho de um economista chileno e de uma psicóloga grega. Descendo de imigrantes judeus. Sou formado em Física, fiz doutorado na Califórnia e pós-doutorado em Genebra. Dirigi o Observatório La Silla, no Chile, e sou pesquisador aposentado do Observatório Europeu do Sul."

Conte algo que não sei.

Uma civilização tecnologicamente avançada como a nossa, provavelmente, não sobrevive mais de mil anos.

Como se sabe disso?

Graças ao Projeto Seti e ao astrofísico americano Frank Drake. A ele perguntaram quantas civilizações tecnologicamente avançadas esperava-se encontrar em nossa galáxia. E, em 1961, ele criou a famosa "Equação de Drake". Essa equação tem um monte de fatores. Ao final, há um fator chamado "L", que é equivalente ao tempo de duração de uma civilização tecnologicamente avançada como a nossa. Concluímos que o número de civilizações que esperamos encontrar em nossa galáxia é igual ao tempo de vida que dura uma civilização, o famoso "L", dividido por mil. Significa que, se uma civilização tecnologicamente avançada dura mil anos, esperamos encontrar uma. Se dura dois mil anos, duas.

O que a tecnologia avançada causa ao planeta?

Se na Terra temos períodos mais quentes, que duram entre 10 mil e 15 mil anos, depois entramos nas eras de gelo, que duram 100 mil anos, já era para termos entrado na próxima era glacial. A última acabou há 18 mil anos. Mas jogamos tanto CO2 na atmosfera que estamos indo no caminho contrário. Estamos entrando num cenário parecido com o que se via na Terra há mais de um milhão de anos, o Plioceno. Era como um El Niño que durou cinco milhões de anos.

É ruim que evitemos a próxima era glacial?

Poderia ser bom, mas, com os níveis atuais de CO2, estamos semelhantes ao Plioceno, quando o nível do mar estava 20 metros mais alto do que agora, a temperatura era 10 graus superior e não havia gelo nos polos. Era outro clima. Com essa perspectiva, significa que, se hoje temos um milhão de refugiados da Síria, amanhã teremos 200 milhões, que vêm de Bangladesh, que será inundada, e de outras zonas costeiras que desaparecerão.

Como vamos sair dessa?
Todos os governos da América Latina são disfuncionais, não são capazes de se organizar para resolver nada. Acredito que a mudança climática vai obrigar nossa espécie a evoluir em dois ramos. Um deles, será o que chamo de homo sapiens cibernético, aquele que vai se mesclar com as máquinas. O que já estamos fazendo. Muitos já não vivem sem smartphones, por exemplo. Vamos lentamente nos converter em seres metade homem, metade máquina. Por outro lado, teremos o homo sapiens amans. Já não temos tempo para soluções políticas, a sociedade terá de se organizar e resolver ela mesma.

Por que não há mais tempo para soluções políticas?

Os modelos de clima indicam que, se deixarmos o CO2 na atmosfera e não fizermos nada, demora milhares de anos para o planeta processar esses gases. Teremos que desenvolver tecnologia para tirar o gás carbônico do ar. Não basta deixar de emitir.

O que a sociedade pode fazer?
Tem que se organizar. Um problema que vejo no Brasil é que os municípios são muito grandes. O Rio é uma coisa imensa. As pessoas teriam que começar a se organizar nas esferas de bairros, amigos, famílias, porque se trata de sobreviver.

O que essas organizações menores deveriam fazer?
Imagino um futuro caótico. Não se trata só de não encontrar combustível para o carro, mas de não ter alimento disponível. O dinheiro não vai servir. Vamos viver um caos político.


Fonte: "Conte algo que não sei", O Globo










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