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segunda-feira, 13 de abril de 2015

NITEROI: UMA CIDADE CULTURAL


Arte moderna, contemporânea, popular e brasileira em saudável convivência entre as gerações, seus horizontes e aspirações. Fotos Lucas Benevides

Teatro Popular de Niterói é palco de várias eventos

A cultura presente em vários bairros, como na mostra sobre Jorge Amado, em São Domingos, a Biblioteca Pública, no Centro, e o Museu do Ingá


Vanessa Lima

Principal objetivo é ampliar acessos e atrair público

As atividades culturais não são apenas uma forma de lazer para o cidadão, elas estimulam o crescimento pessoal dos indivíduos e fornecem conhecimento através de uma didática mais lúdica e prazerosa. Por isso, as estratégias culturais têm extrema relevância no cenário municipal, porque além de viabilizar o acesso a grandes obras, as contribuições artísticas formam cidadãos mais críticos, informados e criativos. Em Niterói essa iniciativa vem evoluído e cresce a cada dia o número de frequentadores nos ambientes culturais abertos ao público.

Atualmente, os museus e galerias da cidade já contam com um coletivo de admiradores fiéis, mas a principal proposta das instituições é ampliar o potencial de frequentadores e democratizar o acesso aos recintos. Na visão dos engajadores dos projetos, o que de fato determina o progresso do viés cultural é o interesse da população, que precisa se apoderar do direito de conhecer a história e os fragmentos que tiveram papel fundamental na construção do legado histórico da sociedade. O Museu do Ingá é um dos exemplos de preservação cultural que Niterói abriga em seu território e guarda toda a memória política do Rio de Janeiro. A história do prédio teve início em 1860 e passou por diversos desdobramentos até ser comprado em 1903 por Nilo Peçanha, o presidente da Assembleia Legislativa e futuro governador. Nesta mesma época, a propriedade tornou-se a sede do governo e o município foi firmado como a capital do estado. Após 73 anos, o Palácio do Ingá transformou-se em museu voltado para a história e a arte fluminenses.

Hoje, diversas coleções fazem parte do acervo que possui exposições de longa e curta duração. Nas galerias os visitantes podem conferir a coleção original do Palacete, um conjunto de obras de Arte Popular, trabalhos do escultor Haroldo Barroso e uma coletânea do Banerj. De acordo com a coordenadora do museu, Angela Moliterno, quadros raríssimos pintados por nomes como Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Cândido Portinari e Cícero Dias, que fazem parte da coleção do antigo banco, são os que mais atraem os visitantes.

“Temos uma infinidade de conteúdo enriquecedor, porém, o museu passa por um processo de revitalização que visa recuperar seu lugar como instituição relevante para a formação cultural do estado. Ou seja, vamos transformar o edifício em um espaço de integração e difusão do pensamento, para que o niteroiense sinta a sensação de pertencimento ao pisar nesse ambiente. É importante fomentar essa ideologia, porque assim o museu ganha uma nova proposta e passa a ser uma instalação cultural onde os alunos poderão estudar, ler, pesquisar e discutir projetos”, explica a coordenadora.

A cultura também tem um papel importante no serviço de inclusão social e incentivo à coletividade. Os aspectos ligados ao fundamento artístico têm como objetivo alcançar o imaginário dos indivíduos sem fazer distinção de classe ou raça, oferecendo subsídios capazes de contribuir positivamente na formação intelectual dos seres humanos. Avaliando essa competência, o Teatro Popular de Niterói, que compõe o Caminho Niemeyer, foi reaberto em 2013, a fim de beneficiar moradores e turistas. Fazendo jus ao nome, a programação cultural do espaço se renova a cada mês com o intuito de agradar a todos os públicos e atingir a massa. Por isso, além de eventualmente pautar peças infantis em seu calendário, o teatro também investe em projetos musicais, exposições e atividades de lazer.

Famoso por sua beleza arquitetônica, o local costuma chamar a atenção daqueles que estão de passagem pelo centro da cidade devido a paisagem que abrange o Cristo Redentor e a Baía de Guanabara. Não é por acaso que o principal interesse da direção é fazer com que o ambiente seja conhecido como um centro cultural, e não apenas um ponto turístico. Segundo a diretora do Teatro Popular Oscar Niemeyer, Carla Tavares, o engajamento artístico é apenas o início de um plano estratégico que busca ampliar a capacidade de interação e diálogo com o público. Ela explica que muitas vezes o visitante vai ao espaço com a intenção de desfrutar do lazer contemplativo e não tem ciência dos benefícios enriquecedores que a cultura oferece.

“Temos um público variado que está entre a faixa etária dos 20 aos 45 anos, a maioria moradores dos municípios de Niterói, São Gonçalo e Rio de Janeiro. Considerando que essas pessoas possuem interesses distintos e são ativas na sociedade, visamos pautar programações que conquistem o cidadão de maneira visual, através das artes cênicas ou emocional, com textos que abordem temas realistas. Queremos ter acesso a todos os públicos e difundir a ideia de que o teatro popular é um lugar sem rótulos e preconceitos’’, afirma a diretora.

Embora todos os ambientes contribuam para o desenvolvimento sociocultural da população, cada espaço possui uma identidade. O Museu Janete Costa de Arte Popular, em São Domingos, estampa em sua essência a valorização das raízes nacionais, caracterizadas pelos símbolos religiosos e folclóricos. Com quatro exposições este mês, a galeria destaca de maneira rica a obra do escritor Jorge Amado e passeia pelas fases mais marcantes da carreira do grande autor baiano, na exposição “O Brasil de Jorge Amado”.

No acervo de longa duração está a coleção “Arte Popular Brasileira”, realizada em parceria com o Museu do Ingá. As peças são de figuras representativas que fazem parte do folclore brasileiro esculpidas em madeira e barro. Já a exposição “Natureza e sobrenatureza na obra de Jorge Brito” apresenta imagens de animais produzidas em materiais recolhidos na beira do Rio Visconde de Mauá. Em comemoração ao Dia do Índio, a ser festejado em 19 de abril, o museu também exibe a coleção “Fotografia Indígena”, que difunde as matrizes e heranças deixadas pelos primeiros habitantes do Brasil.

Como o público infantojuvenil é o principal frequentador do museu, as exposições costumam estar sempre relacionadas à literatura nacional. O curador Walace de Deus ressalta que a produção tem vasto respeito pelas obras que retratam a cultura brasileira. Ele revela que o museu cumpre uma missão educacional na vida dos cidadãos, pois incentiva o gosto pela arte popular, sem dar espaço para as intolerâncias religiosas ou julgamentos.

“É sempre uma batalha divulgar qualquer tipo de serviço cultural, porque ainda há a velha imagem de que museu é um ambiente elitizado. Porém, estamos estimulando as crianças que visitam o acervo a reconhecerem o valor das nossas raízes. A exposição do Jorge Amado é um exemplo de herança cultural que precisa ser preservada, por isso, fazemos questão que as novas gerações tenham acesso a esse patrimônio literário sem receios”, assegura o curador.

Outro local que se destaca é a Biblioteca Pública de Niterói (BPN), na Praça da República, no Centro. O espaço abriga acervo com mais de 60 mil itens. Após passar por várias reformas, a fim de acompanhar o avanço das ferramentas digitais, a biblioteca fortaleceu o vínculo com a população e transformou-se num ambiente voltado para informação e conhecimento.

“Recebemos cerca de 500 a 600 visitas por dia e o público vai dos estudantes jovens até os leitores da terceira idade. Essa realidade comprova a significância que o espaço possui na cultura da cidade, porque a biblioteca sempre colaborou para a formação de diversos profissionais. Acredito que o conhecimento é o único elemento capaz de garantir o progresso da região”, afirma a diretora da BPN, Claudia Ricci.

Para quem é amante do rock nacional, o Palácio dos Correios, no Centro, apresenta a exposição ‘‘Maldita 3.0”, que comemora os 33 anos de inauguração da Rádio Fluminense FM. A mostra conta com parte dos equipamentos antigos da emissora que revelou, nos anos 1980, bandas lendárias como Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, Kid Abelha, Barão Vermelho, entre muitos outros. No espaço também haverá palestras e oficina de música para os estudantes.

Seguindo as orientações do Ministério da Cultura, a Secretaria Municipal de Cultura está elaborando o Sistema Integrado de Museus de Niterói. O projeto tem como objetivo unir os ambientes museológicos fomentando a divulgação dos pontos menos conhecidos.

“Os espaços que recebem maior número de visitantes serão transformados em pontos difusores do sistema. Isto é, eles ficarão encarregados da tarefa de movimentar todos os centros culturais que fazem parte do nosso roteiro. A estratégia é solidificar a relação dos ambientes, sejam eles municipais, estaduais ou federais”, garante o secretário municipal de Cultura, Arthur Maia.

Fonte: O Fluminense - Revista






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