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domingo, 1 de abril de 2012

'O Globo no Arq.Futuro' debateu legado das olimíadas para o Rio


José Alexandre Scheikman, Mauro Ventura e Karen Stein debatem os benefícios das Olimpíadas para o Rio. Mônica Imbuzeiro

RIO - O legado de eventos como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos para o Rio, o papel do estado na revitalização das favelas e a importância de investimentos em transporte público para desafogar a movimentação em áreas densamente povoadas foram alguns dos temas discutidos no debate "O GLOBO no Arq Futuro", realizado neste domingo à tarde, na Casa do Saber, na Lagoa. O evento teve a participação da americana Karen Stein, professora da School of Visual Arts de Nova York, e do economista carioca José Alexandre Scheikman. A mediação foi do jornalista Mauro Ventura.

- A arquitetura tem um papel muito importante nesse momento de crescimento do Brasil e do Rio, em particular, motivado por esses dois grandes eventos - afirmou Karen, formada em arquitetura pela Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, e colaboradora de publicações como a "New York Magazine". - O Rio sempre teve uma presença grande no imaginário internacional pela beleza, mas hoje se destaca também pela sua economia e cultura. Por isso, a forma como a cidade está se desenvolvendo vem chamando a atenção de todos.

Um dos temas mais discutidos do Arq Futuro - debate sobre arquitetura, que teve apoio do GLOBO - foi o tipo de herança que os Jogos Olímpicos podem deixar na cidade e seu impacto futuro. Segundo Karen, as Olimpíadas têm que ser um pretexto para resolver os problemas de que a cidade precisa, citando o exemplo de Barcelona, na Espanha, sede dos jogos de 1982.

- Barcelona era uma cidade que não recebia atenção durante muito tempo e onde havia um grande atraso. Mas os investimentos ali foram muito grandes e trouxeram um resultado bastante positivo - disse ela.

- Se as Olimpíadas servirem como uma espécie de prazo para que as coisas de que a cidade precisa sejam realizadas, já será uma vitória - completou Scheinkman. - Esse tipo de evento cria um estado de urgência para a solução de problemas da cidade. Mas os investimentos têm que ser bem coordenados. Não podemos esquecer do exemplo de Montreal, que ficou anos pagando as dívidas geradas pelos Jogos Olímpicos realizados ali em 1976.

Em resposta à uma pergunta da plateia, sobre como amenizar os problemas urbanos causados pelo inchamento de grandes cidades como o Rio, cada vez mais envolvido por grandes engarrafamentos, o economista defendeu a tese de que "é preciso fazer o carro sofrer".

- Com o Rio crescendo em direção à Barra da Tijuca, por exemplo, uma área menos densamente ocupada, sem que exista investimento em transportes públicos, o que vamos ter é mais gente andando de carro, com um custo muito grande para a cidade e sua qualidade de vida - disse o economista. - Em cidades como Nova York, há um limite de criação de vagas de estacionamento e a taxação para a circulação em certos lugares. É preciso tornar a 'vida do carro' mais difícil.

A ocupação das favelas, em tempos de UPP, e a forma como a arquitetura pode atuar em áreas menos favorecidas também foram tema de perguntas feitas à dupla pelo público que lotou a Casa do Saber (uma sala extra foi aberta para que as pessoas pudessem acompanhar o debate).

- Se você visitasse uma favela no Rio há dez, 15 anos, veria que o setor privado já estava lá, em locadoras, bares e outros empreendimentos, mas o estado não estava - contou Scheikman. - Agora, o estado está marcando presença com as UPPS. Isso é importante, mas não é tudo. Um segundo passo para essa integração seria dar aos residentes a possibilidade de direito à propriedade. Assim, ela ganharia mais cuidados e poderia se valorizar. Uma terceira etapa seria a delimitação dessas áreas.

- A arquitetura ativista é uma corrente cada vez mais forte, que traz uma abordagem mais ampla para a solução de problemas em áreas menos favorecidas, como as favelas, ou áreas de desastre, como o que ocorreu no Japão recentemente - afirmou Karen. - É uma visão mais sensível à temas econômicos e ambientais, Na essência, a arquitetura é um trabalho carregado de otimismo, mas isso só pode ser desenvolvido através de um amplo diálogo com outros setores.

Fonte: O Globo

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