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domingo, 27 de novembro de 2011

Petrobras vazou duas vezes mais óleo em 2010 do que o acidente da Chevron


Para analistas, petrolíferas não investem o bastante em segurançaRIO — Os vazamentos de petróleo no Brasil são mais comuns do que se pensa. Só a Petrobras, a maior empresa do setor, encerrou o ano passado poluindo mais e recebendo um grande volume de autos de infração dos órgãos de fiscalização. Em 2010, a estatal registrou 57 vazamentos, contra 56 ocorrências em 2009. O volume de petróleo e derivados derramado cresceu cerca de 163%, pulando de 1.597 mil barris, em 2009, para 4.201 mil barris espalhados na natureza no ano passado, quase o dobro dos 2.400 barris que teriam vazado do poço da Chevron no campo de Frade (Bacia de Campos), onde a Petrobras tem 30% de participação no consórcio de exploração.

O óleo vazado pela Petrobras em 2010 foi o maior em pelo menos quatro anos, segundo levantamento do GLOBO com base em seus relatórios de sustentabilidade. O número ficou acima do Limite Máximo Admissível, índice anual usado pela estatal, de 3.895 mil barris. Especialistas dizem que as empresas não estão investindo o suficiente em sistemas de segurança e ressaltam que os desafios são maiores com o pré-sal.

Segundo o Relatório de Sustentabilidade de 2010, o Sistema Petrobras recebeu, em 2010, 21 autos de infração ambientais, que geraram multas de R$ 80,75 milhões. O número é 131,04% maior em relação a 2009, quando três autos totalizaram R$ 34,95 milhões. Esses números consideram multas com valores iguais ou superiores a R$ 1 milhão.

Presidente do IBP: empresas investem muito em prevenção
Segundo a advogada ambientalista Beatriz Paulo de Frontin, falta uma fiscalização mais rigorosa nos pequenos vazamentos que ocorrem não apenas nas plataformas, mas em oleodutos, refinarias, navios e bases. Ela ressalta que, às vezes, esses derramamentos não são nem considerados acidentes, por serem de pequeno porte, nem chegam ao conhecimento do público, mas causam grandes danos:

— Por serem pequenos, esses vazamentos não têm muito controle, mas devem ter um impacto ambiental grande. Deveria haver uma fiscalização mais constante para esses pequenos vazamentos e, principalmente, que fossem feitos de forma preventiva.

O presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo (IPB), João Carlos França de Luca, garante que as petrolíferas estão preparadas para produzir com segurança em águas profundas, como no pré-sal. O executivo destacou que as petrolíferas do mundo todo investem muito não só em novas tecnologias, mas em sistemas de prevenção e contenção de acidentes.

— As indústrias investem muito em prevenção, e em caso de acidente, em sua contenção. É quase uma obsessão, pois os custos financeiros, o impacto negativo de sua imagem, os impactos ambientais, caso aconteça um acidente, são muito grandes — destaca.

Segundo De Luca, quando ocorre um acidente, como o da BP no Golfo do México, no ano passado, e agora o da Chevron, na Bacia de Campos, inovações tecnológicas e novos sistemas são incorporados por toda a indústria. As nove maiores petrolíferas, incluindo Petrobras, que fazem parte da Associação Internacional dos Produtores de Petróleo e Gás (OGP), estão investindo cerca de US$ 2 bilhões em quatro unidades de um equipamento (capping) desenvolvido e usado para conter o vazamento da BP.

Já o especialista em petróleo Claudio Pinho, autor do livro "Pré-sal: história, doutrina e comentário das leis" (Editora Legal), acredita que as empresas não vêm investindo o suficiente. Lembra ainda que, no caso do pré-sal, há agravantes, pois não foi prevista qualquer reserva de recursos para prevenção e combate a acidentes na exploração:

— Hoje, o conceito de segurança para explorar petróleo no pós-sal e no pré-sal é igual. Estamos vivendo uma espécie de corrida tecnológica, com os equipamentos e os exames sísmicos sendo desenvolvidos de forma difusa. A questão é que um vazamento só chama atenção quando é concentrado. As multas que a Petrobras recebeu (R$ 80 milhões em 2010) são representativas.

Minc vai pedir números de investimentos em prevenção
A Petrobras não comentou em que locais ocorreram os vazamentos. Chevron, ExxonMobil, Shell, BG Group e Repsol não revelam quanto investem em segurança. O analista Adriano Pires também considera insuficientes os investimentos em segurança:

— Mas é nítido que o setor terá de investir mais com o aumento de produção que está previsto (com o pré-sal). A fiscalização deveria ser mais rigorosa, com o uso de equipamentos mais sofisticados.

As empresas, porém, poderão ter de divulgar investimentos em prevenção. É o que Carlos Minc, secretário de Ambiente do Rio, vai pedir às petroleiras.

— A Chevron será a primeira da lista. Na próxima semana, é a vez de outras empresas. Essas informações são essenciais. Não sabemos se elas estão de fato preparadas quando os vazamentos ocorrem — diz Minc.

Para Fabio Guinancio, diretor da Comtrol Beneficiamento de Resíduos, é preciso investir em pesquisa para ter equipamentos adequados aos diferentes ambientes terrestres e aquáticos:

— Uma questão que se pode apontar como problema é a falta de conhecimento das diferentes regiões aos efeitos do óleo e dos produtos químicos.

Muitos especialistas, no entanto, não sabem dimensionar se o país está preparado para um grande desastre ambiental. Para biólogos, faltam equipamentos de segurança em escala nacional. A Petrobras conta com 30 embarcações de grande porte para recolhimento de óleo, 150 mil metros de barreiras de contenção, 200 recolhedores de óleo e 200 mil litros de dispersantes.

— Esses números já incluem as atividades relacionadas ao pré-sal. Hoje, a empresa tem ainda dez centros de defesa ambiental, 13 bases avançadas e 130 embarcações de apoio — diz uma fonte ligada à empresa.

Ainda segundo o Relatório de Sustentabilidade da Petrobras, a estatal registrou alta de 11% em gastos ambientais com produção e operação, passando de R$ 1,575 bilhão em 2009 para R$ 1,750 bilhão em 2010. Mas o total com equipamentos e sistemas de controle de poluição caiu de R$ 197,5 milhões para R$ 172,3 milhões — recuo de 12,76%.

— O Brasil vai para campos mais ousados, onde os riscos são maiores. É óbvio que a técnica para alcançar o óleo em maior profundidade, assim como seu sistema de segurança, devem ser mais estudados e desenvolvidos — afirma o biólogo David Zee.

Repasse da Petrobras para universidades cresceu só 3,4%
Especialistas criticam o pequeno avanço no volume repassado pela Petrobras para universidades em projetos para desenvolvimento de pesquisas. Entre 2009 e 2010, o repasse cresceu apenas 3,4%: de R$ 500 milhões para R$ 517 milhões.

— Não acho viável um crescimento tão baixo com todo o desafio do pré-sal batendo na porta — afirma um professor de uma faculdade do Rio.

Fonte: O Globo

2 comentários:

  1. O desafio é grande não basta uma política e legislação exemplar sem a clássica fiscalização, mas fica a pergunta: Quem irá fiscalizar no cotidiano das operações?

    Já realizei alguns trabalhos embarcados e também presenciei pequenos vazamentos, o que não é muito raro. Agora, acredito que na maioria dos casos quem primeiro presencia os vazamentos são os trabalhadores que estão no plantão, mas divulgar fica para os corajosos, que até tentam, mas não passa da gerencia. A barreira fica no medo de perder o emprego, de se tornar o réu, como em muitos casos os trabalhadores preferem esconder um acidente de trabalho, claro dependendo do incidente, pelo medo que sejam chamados e demitidos, pois a estatística dos inúmeros dias sem acidente atrai a visibilidade do gerente que não quer ver o seu nome sujo como um negligente e podendo perder seu posto.

    Somente um incidente escancarado para colocar em teste toda a política “muito bem” elaborada do Plano de Emergência para os vazamentos de óleo e derivados, exigido no licenciamento, mas que na prática permanece apenas na prateleira a espera da próxima auditoria ou fiscalização. O Plano de Emergência como está sendo levado ainda inibe uma ação efetiva, falta uma maior seriedade, comprometimento e envolvimento das altas hierarquias das plataformas, navios sonda, FPSO’s e etc. de forma a envolver, motivar e realmente treinar todos os trabalhadores a lidar nas situações reais de vazamento. Os trabalhadores podem ser os verdadeiros fiscais.

    O desafio é complexo - saber lidar com todo e qualquer incidente sem medo de esconder e evitar consequências piores. Com certeza devem existir exemplos de boas praticas e que deveriam ser amplamente divulgadas.

    Ficam as perguntas:
    Qual corporação petrolífera vai querer sua imagem associada a um incidente de pequeno ou muito menos de grande porte?
    Como não ter um incidente se tratamos de uma atividade de altíssimo risco ambiental?
    Será que todas as reais necessidades de compensações ambientais para minimizar todo e qualquer risco na pratica não irão onerar os custos e a viabilidade da exploração do ouro negro?

    Sds,

    Vinícius Palermo

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  2. Oi Vinicius

    Obrigado pela contribuição. Você tem toda a razão. Em qualquer lugar no mundo, o cumprimento das leis dependem de três coisas: educação, fiscalização e punibilidade.

    A responsabilização do profissional que atua na ponta e está perto do local do acidente tem sido apontado por muitos como uma solução. Para mim, a saída está no aperfeiçoamento dos mecanismos da Lei de Crimes Ambientais. É preciso contar com a contribuição de quem está diretamente envolvido, mas, acima de tudo, responsabilizar os grandes tomadores de decisão.

    Assim, a denúncia dos funcionários passa a ser visto como uma solução.

    Para as empresas, a saída é ter canais internos eficientes para a comunicação dos problemas e um bom sistema de gestão ambiental.

    Com isso, as empresas terão como prevenir e resolver seus problemas pelos caminhos internos, evitando assim maiores danos de imagem.

    Mas isso só funciona se houver responsabilidade e eficiência dos instrumentos gerenciais internos.

    Acima de tudo, acredito no fortalecimento do sentido de cidadania e responsabilidade coletiva da população. A poluição tem que indignar, ser considerado inaceitável - um atentado contra as gerações do presente e do futuro. Que a gente assuma a responsabilidade por compromisso com a causa e não premido por um "tacape" sobre as nossas cabeças.

    Axel

    Só assim,

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