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quarta-feira, 31 de março de 2021

GRAVE SITUAÇÃO DA COVID EM NITERÓI: entrevista do secretário municipal de Saúde, Rodrigo Oliveira

 

Rodrigo Oliveira é Secretário de Saúde de Niterói. Reprodução


'Niterói vive pior momento da pandemia, com risco de colapso hospitalar', diz Secretário


Rodrigo Oliveira alerta que Covid está, sim, mais grave e podem faltar vagas de UTI se não houver isolamento

Por Luiz Cláudio Latgé

Nos últimos dias, o Secretário de Saúde de Niterói, Rodrigo Oliveira, tem repetido à exaustão um mesmo alerta: "o Brasil vive o pior momento da pandemia." Nas reuniões do Gabinete de Crise, nas lives, nas entrevistas, ele insiste na mensagem, como uma missão. "As pessoas precisam entender que a doença está mais contagiosa, mais grave e, se nós não fizermos nada, se nós não respeitarmos o isolamento, ela pode levar ao colapso da rede hospitalar, como já aconteceu em outras cidades do Brasil."

Leia mais: Médicos do Hospital Oceânico fazem apelo para que a população fique em casa o máximo possível

Médico sanitarista, Rodrigo conhece políticas de saúde pública e a gestão de hospitais. Em Niterói, foi diretor do Hospital Getúlio Vargas Filho, o Getulhinho, antes de assumir o cargo no governo Rodrigo Neves, em 2019, para ser confirmado em janeiro pelo Prefeito Axel Grael. Ele acompanha de perto os indicadores da Covid, desde o início da doença, quando era apenas uma ameaça. Vê como a situação está se tornando grave e já provoca fila de espera nos hospitais da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. A demanda de vagas em UTIs, neste momento da doença, é quase três vezes maior do que no ano passado, na primeira onda, em maio, e depois em novembro e dezembro.

- É o pior momento. Porque a doença, com as novas variantes, se tornou mais grave. Isso exige muito da rede hospitalar. Num momento que a rede hospitalar do Rio e do estado está perto do limite. No momento em que o Brasil inteiro compete por médicos, respiradores, oxigênio, insumos hospitalares, medicamentos... Hoje, já é difícil comprar alguns medicamentos, você depende do Ministério da Saúde, da Secretaria de Saúde do Estado - explicou, em entrevista ao A Seguir: Niterói.

Rodrigo Oliveira adverte que, enquanto a vacinação não é suficiente para garantir a imunização da população, a única forma de evitar uma emergência maior é o isolamento social. Para ele, as pessoas precisam se conscientizar que, se a cidade não conseguir barrar o avanço da Covid, não haverá atendimento na rede pública, nem nos hospitais provados. "Ninguém deve pensar que está protegido porque tem um plano de saúde, porque a ocupação das UTIs particulares é até maior do que da rede pública e os hospitais particulares já informaram que encontram dificuldade para ampliar a oferta de vagas para Covid, por falta de equipamentos e insumos."

A Seguir: Niterói: Secretário, qual a gravidade da Covid, em Niterói, neste momento?

SECRETÁRIO DE SAÚDE, RODRIGO OLIVEIRA: Existem alguns fatores que indicam a gravidade do momento que nós vivemos. Tudo leva a crer que esta nova onda da doença decorre da circulação de uma nova variante do coronavírus, a P1, a variante de Manaus, como ficou conhecida. Não temos ainda a comprovação pelo sequenciamento genético da presença do vírus em Niterói. Mas um estudo da Secretaria Estadual de Saúde detectou que a P1 apareceu em 83% dos casos pesquisados no estado. Além disto, as características da doença que observamos na cidade são parecidas com o que se verifica em outras cidades.

- Quais são as diferenças do coronavírus original para a doença que vemos agora, decorrente desta variante P1 ?

- A primeira coisa que a gente observa é a alta taxa de transmissão da doença. A variante se mostra mais contagiosa. Outra característica, outro fator para acreditar que lidamos com esta variante, é a incidência da doença em um público mais jovem. Na primeira onda, havia uma forte concentração em pessoas com mais de 60 anos. Agora, atinge pessoas mais jovens. Em dezembro, na segunda onda da doença, apenas 9% das pessoas internadas tinham entre 40 e 49 anos. Agora, este número dobrou: já são 18% dos hospitalizados. Outro fator, é a velocidade das internações.

- A evolução da doença é mais rápida?

- Os relatos que nós temos é que os pacientes estão apresentando quadros mais graves, é o que temos visto em todos os hospitais. No Carlos Tortelly, por exemplo, em todo este tempo da pandemia, nunca tivemos mais de cinco pessoas intubadas; agora temos oito. A demanda por UTIs aumentou muito. Na primeira onda da doença, havia mais doentes em leitos, agora a ocupação de UTIs é maior. Em dezembro, para cada mil casos de Covid tínhamos 57 pessoas em UTIs; agora, em são 175 em mil.

- Os indicadores mostram que o aumento do número de casos não chegou ao pico registrado em maio ou em novembro, quando se chegou a mais de mil novos casos em uma semana. As pessoas estão fazendo menos testes, estão procurando direto os hospitais?

- A gente não teve um aumento de registros no que chamamos de "porta de entrada", quando o doente faz testes e procura atendimento num estágio ainda leve da doença. O doente já chega com um quadro mais grave.

(Os números aparecem nos indicadores divulgados pela Prefeitura. A ocupação de Leitos na rede Pública é da ordem de 74 %, e 82% das vagas de UTI. Na rede particular, de acordo com o SINDHLESTE, os números não são muito diferentes: ocupação de 81% dos leitos reservados para doentes de Covid e de 89% das vagas de UTI.)

- A lotação dos hospitais foi o fator decisivo para adotar as medidas de isolamento?

- Nós acompanhamos o que está acontecendo em todo o Brasil. Na primeira onda, a doença começou pelo Rio e por Niterói. Então, nós tivemos o desafio de estudar, pesquisar, testar descobrir como enfrentar a doença. Era um desafio. Mas ao mesmo tempo, os recursos estavam todos disponíveis. Os equipamento, insumos, era possível comprar. Niterói foi capaz de montar um hospital, o Hospital Oceânico. Agora, não. Nós vimos o avanço da doença no Brasil inteiro. O estado do Rio foi praticamente o último a enfrentar esta nova onda da doença.

Nós vimos o que aconteceu em Manaus. Eu tive chance de acompanhar o caso de Araraquara, a primeira cidade a entrar em colapso, e nós conversamos e vimos os efeitos da doença e a forma de enfrentar. Foi preciso estabelecer medidas fortes de isolamento, para que o número de casos, a lotação dos hospitais e as mortes caíssem na cidade. Você vê isto acontecendo em todo o país e nós estamos na Região Metropolitana do Rio, com uma intensa movimentação de pessoas, era evidente que a doença chegaria ao estado. Mas desta vez a situação é mais difícil, pela gravidade da doença e porque ela atinge o Brasil inteiro e hoje há uma competição pelos recursos hospitalares. Todo mundo demanda os mesmos recursos, oxigênio, insumos, medicamentos para intubação...

- Sem vacina, a saída então é o isolamento... Por que a ação conjunta com o Rio?

- Nós vivemos na Região Metropolitana. Há uma movimentação intensa entre as cidades. Era importante haver uma coordenação. Nós esperávamos uma liderança maior do Estado. Mas ainda assim foi importante a adesão do estado para o balizamento das ações. Estabeleceu um piso, a necessidade de se fazer alguma coisa. E houve o entendimento de Rio e Niterói, com a ajuda dos comitês científicos das duas cidades, para estabelecer medidas comuns de restrição, como o fechamento das praias, de bares e restaurantes. Esta ação conjunta dá a dimensão de uma política pública.

- O que se pode esperar das medidas de isolamento?

- Niterói tem uma adesão maior do que outras cidades ao isolamento social, uma compreensão melhor da necessidade de seguir as regras sanitárias. Durante toda a pandemia foi assim e quando a cidade foi a primeira a adotar medidas mais duras de restrição às atividades em maio do ano passado a cidade respondeu bem. Mas a gente precisa desta conscientização para quebrar a transmissão da doença. A taxa hoje no Brasil é de 1,23, a gente precisa reduzir isto. A gente sabe que há um cansaço natural depois de um período tão longo de restrições na vidada da cidade. Mas é a única forma de conter a doença, neste momento, enquanto ainda não temos vacina suficiente para imunizar toda a população

- Voltamos, então, à questão da ocupação dos hospitais. Niterói conseguiu ampliar a oferta de vagas hospitalares?

- Nós temos hoje 262 vagas na rede pública, incluindo aí disponibilidades no Antônio Pedro e UTIs pediátricas, o que não tem sido uma demanda. De acordo com o agravamento da doença, a gente ajusta a operação dos hospitais. O Carlos Tortelly tem 120 leitos. Quando tem muitos casos de Covid a gente amplia a oferta para Covid. De acordo com a evolução da pandemia. Eventualmente, vamos transferir doentes com outras enfermidades para o Orêncio de Freitas para liberar vagas.

Neste momento, o Secretário Rodrigo Oliveira repete o recado dos últimos dias, tomando a tarefa de alertar cada morador da cidade para risco que vivemos:

- ... o cenário é dramático. É o momento mais grave da pandemia. Essa nova variante está pressionando toda a rede hospitalar. A taxa de transmissão da doença é muito alta. Se não conseguirmos deter a transmissão, a rede hospitalar pode entrar em colapso. A rede públicas e a rede privada. Não adianta a pessoa achar que tem dinheiro e um bom plano de saúde e estará protegida, porque a rede particular enfrenta o mesmo problema. Esta semana mesmo ouvi relatos de hospitais particulares que tiveram dificuldade para encontrar insumos. Além disso, os profissionais de Saúde estão exaustos, depois de um ano de pandemia, muitos dando plantão em dois ou três hospitais. Hoje, não conseguem mais assumir escalas extras.

- O que vocês esperam deste período de emergência.?

- Que o isolamento consiga baixar a transmissão da doença. Os resultados não aparecem tão rápido assim, porque a doença tem um ciclo, o período de incubação, os sintomas, o tratamento... Ainda vão aparecer dados de mortes. Mas é preciso quebrar a transmissão. Nós teremos uma nova reunião na quinta-feira, a Prefeitura do Rio e a Prefeitura de Niterói, para avaliar os resultados. E vamos reunir os comitês científicos das duas cidades.

- As medidas podem ser prorrogadas?

- Vamos ver, vamos ver...

- Com relação a vacina, Niterói vai aderir ao calendário único do estado?

- O calendário de Niterói está alinhado com o calendário do estado. Mas nós administramos recursos escassos. Definimos o calendário de acordo com as doses de vacina que recebemos do Ministério da Saúde. Agora, a produção do Butantan está sendo ampliada, e a Fiocruz vai começar a produzir também numa escala maior. Então, acreditamos que vamos vacinar toda a população de mais de 60 anos até o final de abril. E pretendemos imunizar também os profissionais de educação, porque é um setor importante, e precisamos cuidar da volta às aulas, porque o prejuízo para as crianças é muito grande. E a cidade já estabeleceu protocolos que se mostraram bastante confiáveis.

Veja também: Niterói aplica 4 mil vacinas em 24 horas e imuniza 13,2% da população

(O Secretário não mencionou a vacinação para profissionais de segurança, proposta no calendário estadual. A Prefeitura de Niterói pretende manter o calendário próprio, que vem sendo anunciado à medida que garante o recebimento de novas doses da vacina)

Rodrigo Oliveira lamenta que a vacinação não tenha sido mais rápida, no Brasil. E termina a conversa com um desabafo:

- A Covid no Brasil é um fenômeno agravado pela falta de liderança e de ação do Ministério da Saúde e do Governo Federal.

Fonte: A Seguir: Niterói


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