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quinta-feira, 9 de abril de 2020

CORONAVÍRUS: Restrições retardam o avanço da doença na cidade de Niterói



O jornal O Globo dá destaque para o sucesso das medidas de isolamento social e outras providências adotadas em Niterói para combater o Coronavírus.

Apesar das três mortes já registradas, os números da doença em Niterói são muito animadores e demonstram que as medidas de isolamento precisam ser mantidos em níveis baixos.

Fique em casa!

Axel Grael
Secretário
Secretaria Municipal de Planejamento, Orçamento e Modernização da Gestão - SEPLAG
Prefeitura de Niterói



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Restrições retardam o avanço da doença na cidade de Niterói


Praia de São Francisco durante o isolamento social. 28/03/2020.


Município também investe em mais leitos e vai ajudar quem perdeu renda

Lucas Altino e Thais Sousa

RIO - No dia 17 de março, um idoso de 69 anos morreu em Niterói, o que foi, ao lado de outro caso no mesmo dia em Miguel Pereira, os primeiros óbitos no estado causados pelo novo coronavírus. Naquele momento, o alerta se acendia no município, que mais concentra famílias das classes A e B no país, palco propício para rápida propagação da doença que chegou ao Brasil trazida por pessoas que viajaram para o exterior. Mas, quase um mês depois, o cenário trágico não se confirmou, e a letalidade está em proporção menor que a média nacional — três mortes e 107 diagnósticos confirmados.

Especialistas e as autoridades da cidade atribuem os números às medidas de restrição adotadas com rapidez. Depois de ter montado barreiras sanitárias em sete acessos da cidade, fechado a maior parte do comércio e proibido a circulação por praias e parques, a prefeitura começou ontem a distribuir um milhão de máscaras nas ruas. Além disso, anunciou programas de estímulo econômico, como pagamento de até nove salários mínimos para microempresas, liberação de créditos a pequenas e médias firmas com juro zero e ajuda de R$ 500 para trabalhadores autônomos.
À espera de testes

Outra ação será a inauguração na sexta-feira do Hospital Oceânico, em Piratininga, que foi arrendado para o combate da pandemia, com previsão para 140 leitos de UTI. Já a testagem em massa, que foi anunciada há duas semanas, ainda não se concretizou. Nesse caso, Niterói atribui o problema à concorrência agressiva americana, que atravessou encomendas da China para vários países, segundo o prefeito Rodrigo Neves. Por enquanto, apenas dez mil dos 80 mil testes encomendados chegaram à cidade, mas há expectativa de que mais 50 mil sejam recebidos até o fim da semana. Dos 200 respiradores, encomendados há 40 dias, apenas 50 foram entregues.

Benefício: Cartões pré-pagos serão distribuídos para 35 mil famílias de Niterói do dia 20 a 27

— Queremos que Niterói continue na trajetória de propagação mais lenta e com taxa de mortalidade baixa — afirmou Neves. — Desde que vieram as primeiras informações da China, criamos um grupo de pronta-resposta para desenvolver protocolos, estudos e treinamentos.

Atualmente, a rede municipal de Niterói realiza apenas testes em pacientes internados. Quando os testes rápidos chegarem, a prioridade será atender grupos de risco e pessoas em situação de vulnerabilidade. O passo seguinte será levar os infectados para os centros de referência de quarentena, montados em dois Cieps com capacidade para até 600 pessoas. Além disso, foram arrendados hotéis com 70 vagas para moradores de rua.

"Eu acho que a situação estaria muito pior se não tivesse o distanciamento social", Alberto Chebabo, infectologista da UFRJ. 

Para Alberto Chebabo, infectologista da UFRJ, as medidas de isolamento adotadas por Niterói, apesar de consideradas radicais por alguns, foi importante para evitar o colapso do sistema de saúde.

— Eu acho que a situação estaria muito pior se não tivesse o distanciamento social — disse o especialista, que, por outro lado, não vê efetividade em outras medidas tomadas pelo município, como a sanitização em comunidades.

Para Ligia Bahia, especialista em saúde pública da UFRJ, Niterói é um “modelo a ser seguido”:

— A cidade está adotando medidas corretas de distanciamento social, de organização da rede de serviços de assistência e buscando utilizar bem os testes, que ainda são insuficientes.

Nesta sexta, Niterói vai abrir o Hospital Oceânico, em Piratininga, adaptado para funcionar como referência no atendimento a casos de coronavírus. Serão inicialmente 40 leitos de UTI, com previsão de quantidade máxima de 140, abertos conforme a demanda. A unidade era privada, estava paralisada há cerca de dois anos, e foi arrendada por seis meses pela prefeitura, com previsão de renovação pelo mesmo tempo e possibilidade de desapropriação caso necessário. Apesar de considerar importante a abertura do hospital, o vereador Paulo Eduardo Gomes (PSOL), presidente da Comissão de Saúde da Câmara de Niterói, discorda do modelo proposto para a administração. A O.S. Viva Rio foi contratada por R$58 milhões para operar o hospital, um custo que, segundo ele, seria menor caso fossem utilizados os profissionais contratados temporariamente para a rede.

— Temos dado todo apoio nas medidas de isolamento e nos incentivos dados até agora a trabalhadores e empresas. No entanto, somos contrários a qualquer gestão de Organização Social na saúde pública. O município poderia contratar mais profissionais pelo processo seletivo simplificado ao invés de entregar a unidade para uma O.S. por quase R$ 59 milhões — explicou o vereador, que destacou que o custo da chamada dos 456 profissionais temporários para a rede será de R$14 milhões, o que justificaria não utilizar a O.S.

O prefeito, porém, respondeu que a escolha por uma O.S. ocorreu por ser uma unidade de uso temporário, e que a rede municipal de saúde já é grande e custosa. Saindo da esfera da saúde, a prefeitura também anunciou importantes medidas econômicas, como auxílio de R$ 500, por três meses, a cerca de 35 mil famílias incluídas no Cadastro Único de Programas Sociais do Governo Federal em Niterói, e a 7 mil microempreendedores individuais. Já empresas com até 19 funcionários terão ajuda no pagamento de salários mínimos de até nove pessoas, também por três meses. Para pequenas e médias empresas, haverá créditos de R$50 mil a R$250 mil a juro zero, através de subsídio da prefeitura. Os investimentos em estímulo econômico ficarão em cerca de R$150 milhões.




No Mercado de Peixes São Pedro, um dos mais importantes mercados de Niterói, os comerciantes celebraram o auxílio financeiro. O movimento no local caiu cerca de 70%, segundo Atílio Guglielmo, diretor da associação dos comerciantes do mercado. Usualmente, a presença é de cerca de 5 a 8 mil pessoas por semana, o que subia para até 40 mil durante a semana santa.

— Nessa semana santa, a gente espera chegar a cinco mil pessoas -—explicou Gugliemo, que destacou as medidas preventivas adequadas. — Só podemos ter até 50 pessoas por vez dentro do mercado. Temos funcionários borrifando álcool gél, e os delivery aumentaram. Nos boxes que ficam mais cheios, vamos colocar marcação no chão para que as pessoas respeitem o distanciamento.
Com os gordos repasses de royalties nos últimos anos, Niterói conseguiu montar um fundo de poupança, que hoje soma R$290 milhões. Rodrigo Neves afirmou que todos os gastos durante a pandemia foram possíveis através dos exercícios superavitários anteriores, mas que não descarta utilizar dinheiro do fundo, caso isso seja necessário. Ele lamenta, porém, a falta de ajuda, até aqui, do Governo Federal.

— Os municípios não receberam recursos nem equipamentos da União. Já pedimos 140 respiradores para o Hospital Oceânico, mas ainda não tivemos retorno. É preciso chamar a atenção porque a situação é muito grave.


Fonte: O Globo






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