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sábado, 16 de março de 2019

Bancada da bala usa massacre de Suzano para faturar



Vítima do massacre de Suzano é velada em arena esportiva | Ueslei Marcelino/Reuters


FATURANDO COM A TRAGÉDIA

Coluna de Bernardo Mello Franco

O massacre de Suzano deveria impor algum constrangimento aos políticos que investem na apologia das armas. Aconteceu o contrário. A turma aproveitou a tragédia para faturar mais um pouquinho, explorando o choque e a comoção dos eleitores.

Campeão de votos em 2018, o senador Major Olímpio abriu o festival de oportunismo. “Se tivesse um cidadão com arma regular dentro da escola, professor, servente, um policial militar aposentado, ele poderia ter minimizado o tamanho da tragédia”, afirmou.

A indústria da bala deve ter gostado da sugestão. Segundo o MEC, o país tem 182 mil escolas. Em quase metade não há bibliotecas, mas o major entende que a carência mais urgente é de revólveres e pistolas.

O deputado Eduardo Bolsonaro disse que uma arma é “um pedaço de metal, que faz tão mal quanto um carro”. Faltou explicar como os atiradores teriam matado oito inocentes sem a ajuda de um 38.

O senador Flávio Bolsonaro não quis ficar atrás do irmão. Disse que a chacina comprovava “o fracasso do malfadado Estatuto do Desarmamento”. Uma hora antes do massacre, seu pai anunciou que prepara novas medidas para facilitar o porte de armas.

A experiência internacional mostra que há formas diferentes de lidar com as tragédias. Nos EUA, o presidente Barack Obama tentou restringir a venda de armas para combater a epidemia de tiroteios em escolas. O Congresso barrou a iniciativa. No ano passado, já sob o governo de Donald Trump, o país registrou um novo recorde com 97 ocorrências.

No Reino Unido, um massacre que matou 16 crianças na Escócia levou à proibição total da posse de armas em 1997. As estatísticas de mortes violentas despencaram, dentro e fora do ambiente escolar. Em 2018, o país registrou apenas 29 mortes por tiros.

Se quiserem discutir o tema a sério, os parlamentares não precisam buscar lições fora do Brasil. Em janeiro, a professora Marilena Umezu escreveu, numa rede social, que o “porte de livros” era “a melhor arma para salvar o cidadão e a educação”. Ela foi a primeira a ser morta na chacina de quarta-feira.

Fonte: Coluna Bernardo Mello Franco, O Globo








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