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quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Pergunta de menina de 5 anos inspirou cartilha sobre lixo na Baía de Guanabara



A Praia das Pedrinhas, na Baía de Guanabara, possui uma colônia de pescadores - Thiago Freitas / 10-04-2017 / O Globo


Por Élcio Braga

Mariana queria ver limpa praia em Sao Gonçalo. Publicação foi apresentada durante passeio em rebocador da Marinha

RIO - A Praia das Pedrinhas, em São Gonçalo, estava suja e com mau cheiro, nas Olimpíadas do Rio, em 2016. Inconformada, a menina Mariana, então com 5 anos, quis saber por que todos não se uniam para limpar a Baía de Guanabara. A pergunta sensibilizou ambientalistas à época, durante um evento na Orla Conde. Um mutirão recolheu quase uma tonelada de lixo da areia da praia. Três anos depois, o lugar voltou a ficar cheio de lixo, mas a pergunta não ficou sem resposta: Mariana é a personagem principal de cartilha em quadrinhos apresentada pelo Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com a Comissão Interministerial para os Recursos do Mar e com apoio da Marinha.

— A história em quadrinhos que a gente lança traz um pouco desse brilho, dessa energia, que a juventude pode trazer para a gente modificar este cenário todo. O mar vem sendo atacado por uma série de impactos. O mais evidente que a gente tem visto, e tem repercutido na mídia, é o lixo nos mares — observa o biólogo Alexander Turra, que coordenou a elaboração da cartilha.

A cartilha "Mariana e a batalha contra os supermacabros: a ameaça do lixo nos mares" é um alerta sobre os graves problemas causados pela poluição dos oceanos. A divulgação ocorreu durante passeio pela Baía de Guanabara, dia 15, organizado pela Fundação SOS Mata Atlântica e a Marinha. A finalidade do encontro foi desenvolver ações que contribuam para a despoluição e a preservação da Baía de Guanabara. Os participantes do encontro navegaram pela baía a bordo do Rebocador Laurindo Pitta, embarcação da Marinha que participou da Primeira Guerra Mundial.

— A gente teve a possibilidade de lançar um material de educação ambiental, de divulgação científica, criada em função de uma situação muito incrível, que a gente vivenciou no Rio de Janeiro, durante as Olimpíadas. Uma criança chamada Mariana foi visitar nossa atividade e perguntou ao pai dela se eles podiam limpar a praia. E daí foram Mariana, o pai e todo mundo limpar a praia, a Praia das Pedrinhas, em São Gonçalo — lembrou o biólogo.

Mariana, hoje com 7 anos, ficou empolgada ao receber um exemplar. Nos quadrinhos, ela descobre uma praia muito suja e como o lixo prejudica a vida marinha. Em sua aventura, ela ajuda a recuperar o meio ambiente. Na cartilha, há ainda palavras cruzadas, caça-palavras e outros jogos.

— Um dia, quando a gente passou pela BR-101 (Niterói-Manilha), havia um mau cheiro insuportável. Mariana me perguntou que cheiro era aquele. Falei que era da Baía de Guanabara e, devido àquele cheiro, àquele lixo que jogam no mar, os peixes morriam. Aí, ela falou assim: ‘Pai, por que a gente não faz um projeto para limpeza das praias? Porque só assim os peixes deixam de morrer e não fica esse cheiro insuportável'— conta o engenheiro elétrico Sandro Brito da Costa, o pai da Mariana.


Assista ao vídeo: http://oglobo.globo.com/videos/v/cartilha-em-quadrinhos-alerta-sobre-poluicao-na-baia-de-guanabara/7032627



Assim nasceu o projeto 'Mariana praia limpa'.

— Em duas horas, recolhemos quase uma tonelada de lixo. A minha ideia é até voltar lá para conscientizar as pessoas de novo — observa Sandro.

Alexander Turra ressalta que a cartilha será um instrumento a mais para alertar, sobretudo os mais jovens, sobre a importância de se preservar os oceanos.

— Temos muitos problemas nos mares que não são visíveis. E as pessoas desconhecem totalmente. Mesmo os efeitos das mudanças climáticas são despercebidos pela maioria da população — conta ele.

A discussão sobre a preservação dos oceanos vai ganhar mais espaço na agenda das Nações Unidas nos próximos anos. A ONU definiu que, entre 2021 a 2030, ocorrerá a Década Internacional da Oceanografia para o Desenvolvimento Sustentável. Segundo Alexander, os cientistas têm que exercer um papel de protagonistas.

— A gente vai ter dois anos de preparação para esta "Década". Vai ser discutido como esta década vai ser colocada em prática, quais as costuras, as articulações... Mas uma coisa está muito clara: a necessidade de se promover a integração, a interdisciplinaridade, as ciências a serviço das demandas dos tomadores de decisão — observa.


Fonte: O Globo











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