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sexta-feira, 1 de junho de 2018

Sem ônibus e combustível, cariocas usaram bicicleta para ir ao trabalho



O representante comercial Alex Ferreira saiu de Botafogo em direção ao Centro - Elis Bartonelli / Agência O Globo


por Elis Bartonelli

Sem alternativas, pedalar foi a única opção nesta segunda-feira

RIO — A dificuldade em abastecer os carros e a escassez de ônibus no Rio provocadas pela falta de combustível nos postos fizeram os cariocas mudarem a rotina nesta segunda-feira. Cansados de esperar pelo transporte público, muitos cariocas resolveram deixar os veículos de lado e ir para o trabalho pedalando.

O representante comercial Alex Ferreira conta que ficou cerca de 40 minutos no ponto esperando por seu ônibus. Como não apareceu, voltou para casa e pegou sua bicicleta.

— Levei cerca de meia hora de Botafogo até o Centro. De ônibus, demoro uns 20 minutos. Perdi mais ou menos uma hora na manhã de hoje. Estou chegando atrasado para trabalhar — lamenta ele.

O garçom Manoel Matias mora em Copacabana e vem para o Centro de ônibus todos os dias. Hoje, sabendo que o transporte estaria complicado, não pensou duas vezes e pegou a bicicleta.

— Demorei uns 40 minutos até aqui. Mas foi uma experiência legal. Adoro andar de bicicleta, de repente vira até hábito agora — contou ele.

O promotor de vendas Jeferson Fortes fez um esquema especial para economizar gasolina. Ele saiu da Barra às 7h, com a bicicleta no carro e estacionou em Copacabana. E veio pedalando de lá até o Centro.

— Estou economizando porque não sei quando vai ter gasolina. O deslocamento na rua está muito rápido. E quer saber? A natureza agradece — comentou.

A falta de combustível afetou também a manutenção do projeto Bike Rio. De acordo com um funcionário, que preferiu não se identificar, hoje, há apenas um carro recolhendo as bicicletas excedentes nos pontos. Por conta disso, os funcionários estão acorrentando as bicicletas que ficam sem engate nos bicicletários. Na estação do Largo da Carioca, havia 19 unidades corretamente engatadas e sete estavam presas a uma mesma corrente.

AUMENTA A PROCURA POR MANUTENÇÃO E COMPRA DE BIKES

O impacto da falta de combustível na rotina dos cariocas já começou a movimentar o mercado das bicicletas. Nos últimos dias, lojas da cidade tiveram aumento na procura por compra de bicicletas e também pela manutenção delas.

Gerente de uma bicicletaria em Vila Isabel, Neilson Soares recebeu demanda de muitos clientes que estavam com suas bikes paradas em casa. O movimento, de acordo com ele, mais que dobrou. A loja costuma receber cerca de 20 bicicletas para conserto a cada semana, mas, desde quinta-feira, dia 24, já chegaram 40 unidades para revisão. A venda das "magrelas" não é o forte da loja, mas só na última semana foram embora do seu estoque dez bicicletas.

— A faturamento desse mês deve ficar em R$ 22 mil, cerca de R$ 8 mil a mais do que a média. E o mês ainda não fechou — comemora ele.

Camilo Ramos é dono de uma bicicletaria na Tijuca há quinze anos. Segundo ele, a procura pela loja vinha caindo nos últimos três anos. O aumento do movimento nos últimos dias, para ele, é como um sopro de novos ventos se aproximando.

— Tive um aumento de cerca de 30% na manutenção de bicicletas. E as vendas também cresceram. Costumo vender 5, 6 por mês, mas só na última semana, vendi três. Estamos na expectativa de que melhore mais ainda — comenta.

O servidor federal Christiano Cantarino foi um dos cariocas que tirou a bike da garagem no último fim de semana. Preocupado com a saúde e com a falta de combustível na cidade, ele deu um banho na sua bike e foi a uma loja para trocar o banco e colocar uma cesta no guidom. A ideia é deixar o carro em casa e começar a resolver as pendências do dia a dia pedalando.

— Sempre vou ao mercado de carro, agora vim colocar a cesta para guardar as compras. Preciso me exercitar e economizar gasolina — disse.

A loja procurada por Cantarino, também em Vila Isabel, teve 30% a mais de procura para revisão.

— No sábado, tivemos muito mais movimento e vendemos três bicicletas. Em geral, vendemos uma por fim de semana — contou o dono do estabelecimento, Gilson Motta.


Fonte: O Globo


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