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quarta-feira, 11 de abril de 2018

Arsène Puttemans (1873-1937): o paisagista do Campo de São Bento



COMENTÁRIO DE AXEL GRAEL:

No ano que o Campo de São Bento completa 110 anos, reproduzimos aqui breves informações biográficas sobre o paisagista, fitopatologista e cientista belga Arsène Puttemans, conforme trabalho de pesquisa realizado e publicado no site do Clube Belga.

Arsène Puttemans é o autor do projeto paisagístico do Campo de São Bento, bem como de jardins notáveis como Jardim Francês do Parque da Independência, em São Paulo, os jardins do Instituto Biológico, também de São Paulo, além do campus da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queirós, em Piracicaba.

As iniciativas atuais tiveram uma interessante origem: a iniciativa do guarda municipal Tiago Braga, que presta serviços no Campo de São Bento e que, ao saber da origem belga do projeto daquele belo patrimônio da cidade de Niterói, teve a iniciativa de ligar para o Consulado da Bélgica no Rio de Janeiro, falar diretamente com o Sr. Cônsul Jean-Paul Charlier e pedir ajuda para a comemoração dos 110 anos do Parque.

O cônsul, sensibilizado com a iniciativa do guarda Braga e ao tomar conhecimento da obra do seu conterrâneo, esteve comigo no Parque para conhecer a ogra de Puttermans e plantar uma árvore em comemoração.

Jean Paul Charlier tomou a iniciativa de levar a informação oficialmente ao seu país e obteve a aprovação do título de Patrimônio Cultural Belga no Exterior, homenagem concedida pelo Serviço Público Federal de Relações Exteriores, Comércio Exterior e Cooperação e Desenvolvimento do Reino da Bélgica e pela Fundação Rei Balduíno. O diploma referente ao título foi entregue pelo cônsul Jean-Paul Charlier ao prefeito Rodrigo Neves, no dia 10/04/2018.

Aproveitando os 110 anos do Campo de São Bento como âncora, o prefeito me determinou que avançasse com o Sr. cônsul na construção de uma agenda de aproximação entre Niterói e a Bélgica, incluindo parcerias comerciais, intercâmbios culturais e a organização de uma programação, provavelmente em setembro, de celebração em conjunto com a Bélgica, da história do Campo de São Bento.

Mais uma vez, agradecemos a iniciativa do guarda Braga e do cônsul Jean-Paul Charlier que estão ajudando a abrilhantar as comemorações deste que é a área verde mais amada e valorizada pela população de Niterói.

Axel Grael
Engenheiro florestal
Secretário Executivo da Prefeitura de Niterói




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Arsène Puttemans (1873-1937): o paisagista do Campo de São Bento

Foto - Os passos do saber: a Escola Agrícola Prática Luiz de Queiroz / Marly Therezinha Germano Perecin. - São Paulo: Editora Universidade de São Paulo, 2004. (foto p. 358)


Arsène (Arsenius / Arsenio) Puttemans (1873 - 1937) era um patologista de plantas Belga, formado pela Escola de Horticultura de Vilvoorde na Bélgica (École d'Horticulture de l'État). Ele chegou em 07/11/1900 no Rio de Janeiro junto com (seu irmão?) Hubert Puttemans, um engenheiro de 23 anos, com o navio Ligúria saindo de La Pallice (França). Arsène trabalhou no Brasil como professor na Escola Politécnica de São Paulo (1903-1910), onde ensinou os alunos sobre doenças de plantas agrícolas e recolhidos com a Comissão de São Paulo Geográfico e Geológico.

Ele foi posteriormente nomeado o primeiro Chefe do Laboratório de Fitopatologia do Museu Nacional no Rio de Janeiro (1910). Neste cargo desaconselhou o plantío do trigo no Brasil e preferiu reservá-Io para outros países. Por isto foi severamente criticado no Rio Grande do Sul "por vêr-se um scientista, pago pelo Thesouro Nacional, entregue à defesa de interesses extranhos" ou como "phytopatha estrangeiro, em má hora ao serviço do Brasil".




Seu herbário de 7.000 fungos phytopathogeneous, coletados principalmente na área da Mata Atlântica do estado de São Paulo, foi depositado na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (RBR).

As obras realizadas no Brasil por Arsenio Puttemans são os projetos do Jardim do Ipiranga (São Paulo), da Praça da República (São Paulo), da Várzea do Braz (São Paulo), dos Jardins do Instituto Biológico (São Paulo), da Praça de São Bento (Niterói) e do Parque da ESALQ (Piracicaba).

Participou também do projeto de Aprendizado Agrícola de Barbacena (MG) e foi auxiliar do diretor dessa instituição.

Provavelmente emigrou do Brasil para a França. O "Bulletin de la Société Royal de Botanique de Belgique" em 1913 menciona seu endereço na avenue du Lycée Lakanal, Bourg-la-Reine (Seine, France).

Fontes:

http://plants.jstor.org/person/bm000057138
http://www.esalq.usp.br/parque/toppage1.htm
tese (doutorado) - Universidade de Rio de Janeiro - Faculdade de Educação 2013 de Marli de Souza Saraiva Cimino : Iluminar a terra pela inteligência: trajetória do aprendizado agrícola de Barbacena, MG (1910-1933)
Penetração econômica, assistência técnica e "Braindrain": Aspectos da emigração belga para América Latina / Eddy Stols, p. 382.


LEGADO PAISAGÍSTICO DE ARSÈNE PUTTEMANS

Campo de São Bento

Campo de São Bento.

As terras do Campo de São Bento, compradas pelo mosteiro de São Bento, no século XVII, situavam-se em uma área de restinga, frequentemente alagada pelo rio Icaraí, entre a praia de Icaraí e as encostas do atual bairro de Santa Rosa, da cidade de Niterói (RJ).

A urbanização definitiva do Campo ocorreu em 1908/9, com projeto do arquiteto belga Arsênio Puttemans. Com 50.000 metros quadrados, é a maior área verde do bairro de Icaraí.

Concebido como "Jardim Inglês" recriou a paisagem natural, canalizando o rio Icaraí de forma sinuosa, criando lago artificial, gruta e pontes, com guarda corpo imitando troncos de árvores, bem ao estilo do paisagismo romântico do século XIX. O seu desenho é assimétrico, com ondulações topográficas, gramado amplo ao redor do lago e árvores junto aos seus limites. Recebeu a construção de um belvedere para uso de seus frequentadores, de acordo com o estilo de jardim público, comum na época.

Principal jardim público urbano de Niterói, tem área com canteiros, brinquedos para crianças, um pequeno parque de diversões e, nos fins de semana, uma grande feira de artesanato.
O coreto, com suas colunas, grades e cobertura trabalhadas, foi tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), em 1985, como marco do romantismo popular de fins do século XIX e início do XX.

O Campo de São Bento, cujo nome oficial é Parque Prefeito Ferraz, foi tombado pela Prefeitura de Niterói em 1990.

Fontes:
http://mapadecultura.rj.gov.br/niteroi/campo-de-sao-bento/
http://www.urbanismobr.org/bd/documentos.php?id=766


Jardim Francês do Parque Independência, em São Paulo







Parque da Independência em São Paulo foi criado como referência civica nacional. Situado no Bairro do Ipiranga, possui uma área de 161.335 m² que inclui o Monumento à Independência, a Casa do Grito, o Riacho do Ipiranga, o Jardim Francês, o Horto Botânico e o Museu Paulista.

Em 1907, Carlos Botelho, então secretário (estadual) da Agricultura e Obras Públicas, decide solicitar a paisagiste belga Arsenio Puttemans un projeto para execução de um jardim que excedesse o ajardinamento padrão regularizado pelo governo do Estado em 1889.

O projeto de Puttemans, inspirado nas formas neoclássicas do francês Le Notre, foi entregue ao público em 1909.

Para a comemoração do Centinário da Independência, iniciaram-se em 1919 diversas obras de embelezamento do parque, entre elas a remodelação do Jardim Francês, que teve acréscimo de vários ornamentos alegóricos criados por José Auricchio.

Em 1972, a construção de uma arquibanda altera novamente o projeto. Somente em 1988 o jardim recupera sua forma original.

Fontes:
  • Parque da Independência. - São Paulo : Instituto Cultural Itaú, 1993. - (Cadernos cidade de São Paulo; 7)
  • Guia de museus e instituições culturais de São Paulo / Simona Misan e Thereza Cavalcanti Vasques. - 2001.

    Fotos: Marc Storms, março 2015

Jardins do Instituto Biológico de São Paulo


O Instituto Biológico de Defesa Agrícola e Animal foi criado em 26 de dezembro de 1927 pelo governo do Estado de São Paulo. Logo tornou-se um centro de pesquisa e discussão da ciência e referência para todos os pesquisadores do Brasil nos campos da Biologia, Microbiologia, Botânica, Zoologia, Medicina, Veterinária, Anatomia, Química e Farmacologia. O Instituto Biológico era formado por duas grandes divisões: Divisão Animal e Divisão Vegetal.

A construção do edifício, do arquiteto Mário Whately, começou em 1928 em um terreno doado pelo governo do Estado e só foi inaugurado em 25/01/1945. O edifício tem seis pavimentos, 60 metros de frente, 45 metros de fundo e 33 metros de altura, situado à frente de um parque de 332.000 m², dos quais 23.9000 m² destinados ao edifício principal e 93.000 m² reservados para o campo experimental de Biologia Vegetal. Os jardins do Instituto Biológico de São Paulo foram desenhados pelo arquiteto-paisagista belga, Arséne Puttemans.



A planta original - sem data -, que encontra-se acima, foi provavelmente nunca realizada. Não há vestigios da criação dos dois lagos. Na década de 1950, a aréa do lado acima da Avenida Brasil (atual Avenida 23 de Maio) foi ocupada pelo Parque Ibirapuera, inaugurado em 21 de agosto de 1954 para a comemoração do quarto centenário da cidade de São Paulo. E a outra parte pelo Detran, atual Museu de Arte Contemporânea (MAC USP). Na área oval foi plantado, em 1956, um cafézal que até hoje produz café. A imagem do Google Maps (virado para ter a mesma orientação que a planta de Puttemans) abaixo mostra que os traços principais da planta de Arsène Puttemans, entre a Avenida Brasil e a Avenida Conelheiro Rodrigues Alves, sobreviveram ao tempo.

Segunda Márcia Maria Rebouças, do Centro de Memória do Instituto Biológico, os vitrais do hall do edificio central vieram da Bélgica. Posteriormente foram trocados por blocos de vidro. Infelizmente ainda não foram encontradas imagens e detalhes sobre a origem destes vitrais originais.

Fonte:
  • Email de Márcia Maria Rebouças - Centro de memória do Instituto Biológico - 28/04/2016
  • Entrevista com Márcia Maria Rebouças - 02/06/2016 -para Marc Storms
  • Álbum Histórico do Instituto Biológico: 86 Anos de Ciência em Sanidade Animal e Vegetal. - São Paulo, novembro de 2013.

Parque da Escola Superior de Agricultura (Piracicaba) 




O projeto do Parque da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Campus de Piracicaba, foi desenvolvido em 1908 pelo arquiteto, paisagista e fitopatologista belga Arsène Puttemans, professor auxiliar de paisagismo da Escola Superior de Agricultura entre 1905 e 1913.

O projeto foi cuidadosamente elaborado com influência dos jardins ingleses: amplos gramados e áreas curvas demarcadas por grupos arborizados, com minucioso estudo para sua localização, possibilitando a observação de perspectivas importantes do edifício principal, de outras construções e do próprio parque. Na sua instalação e plantio, Puttemans teve a colaboração de Luiz Teixeira Mendes, professor da Escola.

A função proposta por Puttemans para o parque, “... além da ornamentação, era manter uma grande coleção de plantas com fins didáticos, permitindo observações sobre comportamento das mesmas e fornecimento de sementes para propagação”.


O parque ocupa uma extensa área fronteira à sede, cerca de 450 m, além de envolvê-la lateralmente; integra-se harmoniosamente ao edifício e, ambos compõem o principal conjunto paisagístico identificador da Escola.

O projeto original do Parque, foi quase totalmente implantado, faltando apenas a construção de um coreto, que deveria ser construído na parte frontal-direita do Parque.

Lima A.M.L.P em "Nosso Parque faz 80 anos" (Revista da ADEALQ, v.10, n.6, p.20-22, 1987) salienta a importância da conservação do Parque da ESALQ como patrimônio histórico, já que as poucas obras realizadas no Brasil por Arsenio Puttemans, ou seja, o projeto do Jardim do Ipiranga, o da Praça da República e da Várzea do Braz, em São Paulo, bem como a Praça de São Bento, em Niterói, o do Parque da ESALQ, é hoje a única que permanece praticamente inalterada.

O Edifício da Escola Superior de Agricultura também tem envolvimento de belgas.

Fonte

p. 182 – 191 do livro BENS IMÓVEIS TOMBADOS OU EM PROCESSO DE TOMBAMENTO DA USP. 2. ed. São Paulo (SP); São Paulo (SP): Editora da Universidade de São Paulo; Imprensa Oficial do Estado, 2001. 222 p. ISBN 853140486X.

Fotos: http://www.esalq.usp.br/parque/toppage1.htm


Fonte: Belgian Club



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