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segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Pesquisa inédita busca preservar a biodiversidade em centros urbanos




Projeto analisa desenho urbano de São Paulo, Berlim e Brasília buscando conciliar densidade populacional e biodiversidade


Projeto relaciona de forma inédita dados de avifauna, áreas verdes, forma urbana e densidade populacional

Estima-se que, em 2020, 90% da população brasileira viverá em cidades. Como o desenho urbano pode influenciar a vida das pessoas? Sabe-se que a forma como o ambiente é construído (ruas, edifícios, lojas, calçadas, áreas verdes) afeta diretamente o cotidiano e a qualidade de vida. Será que ocorre o mesmo com os animais que vivem nas cidades? Perguntas como essas nortearam pesquisa que relaciona, de forma inédita, dados de avifauna, áreas verdes, forma urbana e densidade. Os pesquisadores pretendem testar se diferentes arranjos de desenho urbano influenciam na quantidade de áreas verdes e, consequentemente, se as aves (um componente da biodiversidade) respondem de forma diferente conforme se altera o desenho das cidades.


"Estima-se que, em 2020, 90% da população brasileira viverá em cidades".


Realizado por uma equipe interdisciplinar que inclui o Grupo de Silvicultura Urbana da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), o estudo Biodiversidade e forma urbana no desenho de cidades mais sustentáveis está sendo feito nas cidades de São Paulo, Berlim e no Distrito Federal, uma vez que possuem soluções de desenho urbano e porcentagem de áreas verdes bem variadas. Os pesquisadores têm formação em Arquitetura e Urbanismo, Biologia, Agronomia, Engenharia Ambiental e Geografia, e são integrantes de quatro instituições: USP, com a Esalq; a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) – campus Sorocaba; a Universidade de Brasília (UnB); e a Universidade de Humboldt, na Alemanha. A coordenação do projeto, na Esalq, é do professor Demóstenes Ferreira da Silva Filho, do Departamento de Ciências Florestais.

Em um cenário que incita à reflexão sobre que tipo de hábitat estamos construindo para nós e as futuras gerações, o objetivo de estudos como esse é enfrentar o desafio de conciliar aumento de densidade habitacional e oferta de espaços verdes, buscando desenhos de cidades mais compactas que permitem manter a biodiversidade urbana e até, em alguns casos, aumentá-la. Já que as cidades recebem cada vez mais novos moradores e estão em constante crescimento demográfico, é urgente evitar o modelo de espraiamento urbano, ou seja, áreas urbanas que crescem horizontalmente sem limites, pois além de desmatar áreas naturais no entorno da cidade, os custos de infraestrutura para atender aos novos bairros e ao gasto energético tornam-se insustentáveis no longo prazo. O esforço é pela construção de cidades mais compactas, sem perda de áreas verdes e garantindo qualidade urbanística aos moradores.
Desenho urbano

Brasília, considerada como o plano piloto do arquiteto e urbanista Lúcio Costa, tem características muito peculiares e bem diferentes do seu entorno, onde estão as cidades-satélites. Foi planejada sob as diretrizes do Modernismo, tendo as superquadras como unidade mínima de desenho urbano e a preocupação constante com a qualidade urbana gerada. Apesar de todas as críticas em torno dos ideais modernistas, que não atendem por completo às necessidades atuais da sociedade, não se pode negar a diferença entre Brasília e as demais áreas urbanas do Distrito Federal em termos da qualidade dos espaços abertos e áreas verdes. As cidades-satélites são representantes do modelo de desenho urbano que estamos praticando em nossas cidades brasileiras desde o período colonial: baseada no lote individual sem um senso de um desenho urbano coletivo de maior qualidade, como em Brasília.


A contribuição dos pesquisadores virá com a recomendação de diretrizes de desenho urbano de alto desempenho em termos de áreas verdes e biodiversidade. Na imagem, o carcará – Foto: Andreas Trepte / photo-natur.net via Wikimedia Commons



O lote ou o terreno em que são construídas as edificações faz parte de uma lógica de parcelamento e uso do solo que ocorre na maioria das cidades brasileiras (com raras exceções, como Brasília). Junto com o plano diretor, o zoneamento e o código de obras municipal ditam o desenho e a forma das cidades.

Os resultados parciais obtidos até agora com relação ao Distrito Federal foram apresentados em um congresso internacional sobre biodiversidade e desenho urbano na cidade do Panamá. Eles revelaram que Brasília tem a mesma densidade de habitações que a cidade-satélite Taguatinga, porém esta última tem quase 18% a menos de cobertura arbórea que a primeira. Essa diferença se deve principalmente ao desenho urbano.

A morfologia de São Paulo é regrada a partir do lote e lembrada como um símbolo de verticalização, tendo bairros inteiramente preenchidos por altas torres residenciais, acima de 20 andares. Questiona-se se essa forma de ocupação muito mais verticalizada afeta positivamente ou negativamente as áreas verdes e, consequentemente, as aves.

Berlim é considerada uma das cidades que mais têm inovado em termos de experimentações e de novas propostas de desenho urbano desde o início do século 20, devido, em parte, à necessidade de se reinventar após duas guerras mundiais que destruíram seu território. É uma cidade construída, em geral, a partir de uma lógica de projeto urbano que considera a quadra como unidade mínima e não o lote, resultando assim, em maior qualidade dos espaços verdes e um desenho de quadras que fortalece essa ligação.

Fonte: Jornal USP 










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