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sábado, 11 de novembro de 2017

Portal disponibiliza 2.500 obras da iconografia brasileira



“Cabocle Indien civilisé”, JeanBaptiste Debret, 1834 (Acervo/Pinacoteca de São Paulo).


Brasiliana Iconográfica reúne itens dos acervos da Biblioteca Nacional, Pinacoteca, Instituto Moreira Salles e Itaú Cultural



Um conjunto de 2.500 imagens da história e da cultura brasileiras, oriundas do acervo de quatro instituições públicas e privadas de arte, está disponível para consulta online e gratuita. Lançado na última sexta-feira (27), o portal Brasiliana Iconográfica reúne desenhos, pinturas, estudos científicos, aquarelas e gravuras que datam desde o século 16, com os primeiros registros de portugueses no Brasil, até o início do 20.

A iniciativa é uma colaboração entre a Biblioteca Nacional, a Pinacoteca do Estado de São Paulo, o Instituto Moreira Salles e o Itaú Cultural, que digitalizaram a parte de seus acervos relativa à brasiliana — como são chamadas as coleções de iconografia brasileira — e que vão gerir temporariamente o site. Outras instituições, nacionais e estrangeiras, devem se somar ao portal já no ano que vem.

O projeto levou quase dois anos para ser desenvolvido, segundo Mônica Carneiro Alves. A curadora do portal pela Fundação Biblioteca Nacional conta que foram necessárias “inúmeras reuniões” para “garantir a uniformidade entre as diversas formas de tratar a informação em instituições com características distintas”. A facilidade de navegação foi assegurada, segundo Mônica, com a “elaboração de uma linguagem comum para a descrição dos principais pontos de acesso, como autoria, linha do tempo e assuntos”.


“Floresta virgem do Brasil”, Charles Othon Frédéric Jean Baptiste de Clarac, c. 1822 (Acervo/IMS)


Neste primeiro momento, o portal terá a curadoria de Valéria Piccoli, que é curadora-chefe da Pinacoteca de São Paulo. Ela destaca na iniciativa “a possibilidade de criar em ambiente virtual um museu que jamais poderia existir fisicamente”, uma vez que “reunir num mesmo local de consulta imagens que estão dispersas por vários países do mundo abre infinitas possibilidades de pesquisa e de cruzamento de dados, que hoje dificilmente podem acontecer”.

“Sabemos que muitas coleções no Brasil ainda sofrem com falta de catalogação adequada e de um inventário exaustivo de seus acervos”, comenta Piccoli ao advogar pela digitalização destas obras. “A preservação digital pode ser um instrumento importante para que essas coleções sejam plenamente divulgadas e conhecidas do público, prevenindo eventuais ocorrências e até desaparecimento de obras”.

Destaques do acervo

Pintores brasileiros e estrangeiros figuram no acervo, mas o foco do portal está nos chamados artistas viajantes — como é o caso de Leone Righini. Um conjunto de quatro pinturas atribuídas ao pintor italiano e disponíveis no site, por exemplo, revela a São Luís do Maranhão no século 19. “Os artistas, de modo geral, vinham para o Rio de Janeiro, que é, sem dúvida, o lugar mais retratado pelos estrangeiros desde sempre”, explica Valéria. “Daí a raridade dessas obras de São Luis na década de 1860”.

“Sítio Sossego ”, Leone Righini, 1865 (Acervo/Pinacoteca)


Piccoli também destaca a disponibilização de obras em papel, menos expostas nas instituições por exigirem maiores cuidados de conservação. Entre estas estão as aquarelas feitas por Félix Taunay no centro do Rio em 1823 e um mapa do Brasil produzido na Holanda em 1647, por Joan Blaeu. “Tudo isso estará disponível para consulta com um zoom excelente, que permite ver muitos detalhes”, completa a curadora.

O mais conhecido entre os artistas viajantes, Jean-Baptiste Debret, que chegou ao país com a Missão Artística Francesa, também tem obras incluídas no portal. Entre os destaques estão um exemplar de sua Viagem Pitoresca (1834-1839), da Biblioteca Nacional; a tela Casamento de D. Pedro I e D. Amélia, de 1829, cuja autoria só foi reconhecida em 2007, quando foi adquirida pela Brasiliana Itaú; e uma rara pintura a óleo feita pelo artista em 1816, do acervo da Pinacoteca.


“Dama em literia, carregada por escravos e suas acompanhantes”, Jean-Baptiste Debret (Acervo/Biblioteca Nacional)


O portal também conta com textos e análises das obras no acervo, elaborados pela jornalista Laura Greenhalgh e por profissionais das instituições. Três artigos já estão no ar: dois da equipe da Pinacoteca — sobre as Missões Francesa (1816) e Austríaca (1817) — e um da equipe do Instituto Moreira Salles sobre o pintor Manuel de Araújo Porto-Alegre (1806–1879), discípulo de Debret.

“Temos o compromisso de trazer periodicamente para o portal contribuições de estudiosos de brasiliana, para que ele se torne um repositório de imagens, bem como um site de referência em termos de reflexão e novas leituras sobre o assunto”, garante Valéria Piccoli.

A curadora também adiantou os planos de expansão da Brasiliana Iconográfica. Já no ano que vem duas coleções brasileiras e uma internacional devem ser acrescentadas ao portal. Também está prevista a tradução do conteúdo do portal para o inglês, com o objetivo de permitir o acesso a pesquisadores e curiosos de outras partes do mundo.


Veja outros itens no acervo da Brasiliana Iconográfica:


“Paisagem do Amazonas”, Franz Keller (Acervo/Biblioteca Nacional)

“Vista do Rio de Janeiro”, Enrique Casanova, c. 1883 (Acervo/IMS)



“Cidade de São Paulo”, Charles Landseer, 1825–26 (Acervo/IMS)


“Casamento de D. Pedro I e D. Amélia”, Jean-Baptiste Debret, 1829 (Acervo/Brasiliana Itaú)

“Aspecto tirado a bordo da fragata Áustria em sua viagem para o Rio de Janeiro”, Thomas Ender, 1817 (Acervo/Biblioteca Nacional)

O portal pode ser acessado no endereço brasilianaiconografica.art.br.












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