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quarta-feira, 6 de setembro de 2017

LIXO E SAÚDE: Índice de Limpeza Urbana mostra que lixões a céu aberto afetam 75 milhões de brasileiros







Amelia Gonzalez

A disposição inadequada de lixo urbano vai custar entre US$ 3,25 bilhões a US$ 4,65 bilhões ao Brasil no período que vai de 2016 a 2021, não só em perda de saúde das pessoas, como também em impactos ambientais graves. Isso acontece porque ainda há muitos lixões a céu aberto espalhados pelos municípios, sobretudo entre as 3.049 cidades que foram alvo de estudo. Os dados foram coletados em 2015 do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) e estão na segunda edição do Índice de Sustentabilidade da Limpeza Urbana (Islu), elaborado pelo Sindicato das Empresas de Limpeza Urbana e pela PwC (disponível aqui) e que acaba de ser divulgado.

São cerca de 75 milhões as pessoas afetadas pelos lixões a céu aberto espalhados pelo país. É bom lembrar que a Política Nacional de Resíduos Sólidos , sancionada em 2 de agosto de 2010, dava o prazo de quatro anos para as cidades brasileiras acabarem com os lixões, sob pena de elas terem que responder por crime ambiental. Mas a política é uma das muitas que não pegaram, como se vê. E, se o cenário permanecer como está, ou seja, se as cidades continuarem crescendo mais demograficamente do que os progressos na área de saneamento ambiental, nos próximos dez anos a situação, é claro, tenderá a se agravar.

O Sistema Único de Saúde, segundo o estudo lançado pelo Sindicato, gasta anualmente cerca de R$ 1,5 bilhão tratando de pessoas que têm doenças causadas pela falta de destinação e de tratamento correto de resíduos sólidos. Surtos de dengue, por exemplo, poderiam simplesmente não existir em alguns lugares não fossem a sujeira e a destinação inadequada de resíduos sólidos. É questão de saúde pública, e deveria ser tratado como tal. A sugestão dada pela equipe que elaborou o relatório é que a sociedade civil comece a exigir mudança – também – nesta realidade. Como se vê, não está nada fácil ser cidadão comum num país com falhas tão graves em políticas de respeito ao socioambiental.

O Sistema Único de Saúde, segundo o estudo lançado pelo Sindicato, gasta anualmente cerca de R$ 1,5 bilhão tratando de pessoas que têm doenças causadas pela falta de destinação e de tratamento correto de resíduos sólidos.


E o estudo revela ainda que há 17 milhões de brasileiros que não têm sequer coleta de lixo na porta de casa, portanto, muito mais abandonados à própria sorte no que diz respeito à saúde do que quaisquer outros. Só para ilustrar: este número equivale à população da Holanda. O que fazer?

Uma das conclusões do Índice é que as cidades que contam com um planejamento de limpeza urbana também apresentam um desempenho melhor.

“O estudo mostra que 75% dos munícipios com esse tipo de plano e arrecadação específica dispõem o lixo em aterros sanitários, ante 24% daqueles sem arrecadação e planejamento de sustentabilidade”, diz o texto do índice, que tem como objetivo suprir a falta de informações sobre a coleta de resíduos nas cidades brasileiras e mapear o cumprimento das recomendações da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).

Niterói foi classificada no ISLU 2017 como a segunda melhor cidade do país em limpeza urbana. Saiba mais aqui.


Os municípios mais bem pontuados no Islu foram os do Rio Grande do Sul, que implantaram aterros sanitários regionais, criando uma escala econômica. Esta pode ser uma boa sugestão, mas se não quisermos continuar deixando unicamente nas mãos do estado a solução do problema, de fato é preciso que os cidadãos passem a encarar os lixões a céu aberto como um problema, assim como a falta de saneamento.

O Instituto Trata Brasil, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público formada por empresas que se interessam pelo avanço do saneamento básico e pela proteção dos recursos hídricos, decidiu investir numa abordagem otimista para mostrar a importância de se levar água e esgoto tratado para todos os cidadãos. Com o minidocumentário “O Básico que salva vidas” , deixa que os moradores de várias comunidades paulistas contem como a vida deles mudou depois que a região onde moram recebeu o direito de ter tais serviços básicos à porta de casa. Da saúde das crianças - que agora não têm mais diarreia causada pela sujeira na água que bebiam – até outros benefícios, como a costureira que agora pode receber sua clientela porque não tem mais lama na porta de casa, são visíveis as transformações na vida de todos os moradores.

A pergunta é: por que, então, criar sistema de esgoto eficiente e de água tratada não é prioridade para os governantes? Em conversa com o presidente do Instituto Trata Brasil, Edison Carlos, há cerca de quatro anos, ele me respondeu a essa questão de forma bastante direta: falta vontade política.

“Uma obra por cima da terra, como construção de estádios ou postos de saúde, fica bem para a imagem do prefeito ou do governador, muito mais do que rede de esgoto, que fica debaixo da terra e ninguém vê”, disse-me ele.

Nada a comentar, a não ser concordar. Termino este texto com uma informação que não deixa ninguém orgulhoso de estar vivendo num mundo com tanta desigualdade: de acordo com documento da Organização das Nações Unidas (ONU), o número de pessoas sem acesso à água potável em casa é de 2,1 bilhões em todo o mundo. O quadro fica ainda pior se considerarmos que 860 milhões ainda passam fome em todo o mundo.

Bem, mas aí passaríamos a convocar para a reflexão socioeconomistas que pudessem nos explicar melhor a mágica que faz com que os países ricos fiquem a cada dia mais ricos enquanto os países pobres continuam pobres.


Fonte: G1



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