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segunda-feira, 15 de maio de 2017

Como deve ser a escalada mundial para cumprir as metas do Acordo de Paris



Até 2020, todas as grandes cidades devem possuir estratégias de descarbonização. (Foto: Ed Yourdon/Flickr-CC).


Paula Tanscheidt

O Acordo de Paris, o primeiro compromisso a nível global assinado para conter as emissões de gases de efeito estufa, exige medidas urgentes e mira em metas audaciosas para que ainda seja possível lidar com os impactos das mudanças climáticas. Os países signatários estão comprometidos a empreender as ações necessárias para evitar que a temperatura média do planeta aumente em mais de 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais. No entanto, na prática essa meta pode parecer um tanto abstrata. Para traduzir em detalhes o que os países precisam fazer nos próximos anos, a revista Science estruturou um mapa, um roteiro de ações a serem executadas a cada década, tendo início em 2017. O caminho pode ser um tanto assustador.

Muitas vezes é difícil compreender como o processo de descarbonização acontecerá. Um roteiro estabelecido pelos setores da indústria poderia ajudar a promover avanços tecnológicos disruptivos em direção a um mundo sem emissões, segundo os pesquisadores europeus responsáveis pelo artigo. Além de impulsionar as novas tecnologias de emissões zero e de energias renováveis, será necessária uma estratégia que retire do mercado as já usuais alternativas de origem fóssil do mercado.

O fato é que precisamos cortar as emissões de CO2 decorrentes da produção de energia e da indústria pela metade a cada década até 2050. Todos os setores – agricultura, construção, finanças, produção, transporte – precisam tomar caminhos de grande transformação. As emissões que envolvem uso do solo, agricultura e deflorestamento, precisam cair a quase zero até 2050. O roteiro desenhado pelos pesquisadores é baseado em cenários já publicados anteriormente em artigos científicos e avaliados pelos especialistas.

2017-2020: O óbvio

Todos os países devem se preparar para os enormes desafios e estipular bases de novas políticas, como impostos sobre as emissões de carbono, por exemplo. Cortar os 500 bilhões de dólares por ano em subsídios globais de combustíveis fósseis até 2020 – não 2025, como já acordado pelas nações membro do G7. Zerar qualquer investimento em novas fábricas de carvão, até mesmo em países como Índia e Indonésia. As emissões de gases de efeito estufa da China devem continuar a cair através de fortes investimentos em renováveis, abandono da expansão carbonífera e o fechamento das minas.

Até 2020, todas as cidades e grandes corporações no mundo industrializado devem possuir estratégias de descarbonização. Os 49 países já comprometidos a se tornar neutros em carbono até 2050 precisam se transformar em mais de 100. Serão necessários mecanismos inovadores para o incentivo do gerenciamento de carbono no sistema alimentício. Agroindústria, fazendeiros e a sociedade civil devem atuar juntos em uma estratégia global de sistemas sustentáveis de alimentos para um futuro mais saudável, dietas com baixo consumo de carne e redução do desperdício de comida.

2020-2030: Esforços hercúleos

Nessa década precisa acontecer a primeira onda de ações disruptivas e inteligentes. Melhorar a eficiência energética pode reduzir as emissões entre 40% e 50% até 2030 em diversos processos domésticos e industriais. Os preços do carbono em todo o mundo devem expandir para cobrir todas as emissões de GEE. O carvão deve deixar de ser usado na produção de energia global. Cidades como Copenhague e Hamburgo já estarão livres dos combustíveis fósseis, e países podem seguir o exemplo de Noruega, Alemanha e Holanda e anunciar a eliminação progressiva dos motores à combustão em veículos novos até 2030. Combustíveis renováveis e a eletrificação serão fortemente utilizados no transporte de longa distância, e o tráfego aéreo de curta distância deve ser substituído pelo transporte ferroviário rápido. Um forte impulso financeiro deve ocorrer para o reflorestamento de terras degradadas e o uso de tecnologia para a remoção de CO2 da atmosfera.

2030-2040: Muitos avanços

Depois de 2030, todas as construções devem ser neutras em carbono ou carbono negativo. A indústria da construção deve usar concreto e aço sem emissões ou substituir esses materiais por substâncias com emissões zero ou negativas, como madeira, pedra e fibra de carbono. Devemos esperar que redes de energia policêntricas usem cabos supra condutivos que forneçam energia aos países em desenvolvimento; novas soluções radicais de geração de energia entrarão no mercado.

Em 2040, o petróleo precisa estar prestes a sair do leque energético mundial. Vários países de vanguarda (como Noruega, Dinamarca e Suécia) devem ter completado a eletrificação de todos os setores e estarem totalmente isentos de emissões ou muito próximo a isso. Motores de combustão interna para transporte pessoal terão se tornado raros em estradas em todo o mundo. O combustível de aeronaves deve ser totalmente neutro em carbono. Combustíveis sintetizados, bio-metano e hidrogênio serão alternativas já estabelecidas.

2040-2050: Revise, reforce

Com base em ações bem-sucedidas – e aprendendo com os erros das etapas anteriores –, certas estratégias de mitigação serão abandonadas e outras refinadas e ampliadas. No início da década de 2040, todos os principais países europeus devem estar próximos do estado de carbono zero. A dinâmica do mercado leva as Américas e a maior parte da Ásia e da África para esse mesmo objetivo até o final da década. O gás natural ainda fornece alguma energia de reserva, mas a pegada de carbono é limitada. Em 2050, o mundo terá atingido a emissão de CO2 líquida zero, com uma economia global alimentada por energia livre de carbono pela agricultura sustentável que sequestra o carbono.

Os autores deixam claro que é impossível prever como estará a civilização em meados do século, mas uma escalada global baseada em leis sobre o uso do carbono, se adotada amplamente, pode fornecer condições econômicas essenciais para um futuro inevitável de zero emissões:

“Na governança global, a estabilização climática deve ser colocada à altura do desenvolvimento econômico, dos direitos humanos, da democracia e da paz. A concepção e a implementação do roteiro de carbono devem, portanto, ocupar um lugar central no Conselho de Segurança da ONU, uma vez que estes objetivos por excelência interagem cada vez mais, influenciando a estabilidade e a resiliência das sociedades e do sistema do planeta”, exalta o artigo.

Fonte: The City Fix Brasil



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