COMENTÁRIO DE AXEL GRAEL:
SALVAR O SISTEMA LAGUNAR E INTEGRA-LO AO COTIDIANO DA CIDADE
Um dos maiores sonhos dos ambientalistas e moradores de Niterói sempre é ver as lagoas de Piratininga e Itaipu recuperadas. Com o PRO-SUSTENTÁVEL, programa estruturado pela Prefeitura de Niterói e que agora começa a ser implementado, esse sonho estará cada vez mais perto. Mas, como diz a matéria de Raiana Collier, de O Fluminense, reproduzida abaixo, recuperar um ecossistema "tão maltratado por anos" não é uma tarefa fácil. Mas, o desafio será enfrentado!
"O excesso de nutrientes causou a eutrofização daqueles corpos hídricos e a aceleração do depósito de lodo no fundo das lagoas".
Como afirma o meu amigo, o ambientalista Mário Moscatelli, as lagoas da Região Metropolitana do Rio de Janeiro foram "transformadas em latrinas". Foi também o caso das Lagoas de Itaipu e Piratininga, que por muitos anos foram vítima de um crescimento urbano sem infraestrutura de saneamento, o que fez com que uma elevada carga de nutrientes, trazidas pelo esgoto chegasse diretamente às lagoas. O excesso de nutrientes causou a eutrofização daqueles corpos hídricos e a aceleração do depósito de lodo no fundo das lagoas. Além do lodo, o carreamento de sedimentos para as lagoas é uma outra consequência do processo de urbanização. Esse problema está sendo controlado agora com as iniciativas de pavimentação de vias, uma vez que a erosão das ruas ainda é a maior fonte de sedimentos que chegam às lagoas, transportados pelos rios. (saiba mais sobre o problema do assoreamento das lagoas aqui).
No caso de Piratininga e Itaipu estamos a frente na luta pela despoluição, uma vez que temos um sistema de saneamento muito melhor do que os demais municípios vizinhos da Região metropolitana. A Região Oceânica, por exemplo, já é praticamente toda coberta por redes de esgoto e estações de tratamento.
Ocorre que, apesar de ser fundamental, contar com rede de esgoto e tratamento só não basta, pois não resolve completamente a agenda do saneamento. Sempre cito o exemplo da Baía de Chesapeake (na costa leste dos EUA), que iniciou um programa de despoluição na mesma época do Programa de Despoluição da Baía de Guanabara - PDBG. Apesar de simultâneos, os programas tiveram pontos de partida em patamares bem diferentes no que se refere ao saneamento. Enquanto a região de Chesapeake já tinha superado o problema do saneamento básico e tinha o seu foco nas fontes não pontuais e drenagem (non-point sources), o PDBG nasceu tentando resolver um problema do século XIX: tratar esgoto.
É importante destacar, portanto, que na Chesapeake, já haviam resolvido o tratamento de esgoto e COMEÇARAM um programa de despoluição. Isso mostra o quanto ainda temos pela frente!
PRIORIDADE
Para salvar as lagoas é preciso estancar o processo de assoreamento, controlando as fontes de sedimento, ou seja, dar continuidade à pavimentação de ruas. Além disso, é preciso intensificar o programa "Se Liga", promovido através de uma parceria entre a Prefeitura de Niterói e o INEA, que notifica donos de imóveis para que providenciem a conexão de suas propriedades à rede de esgoto.
Uma vez controlado o processo de assoreamento, a prioridade passa a ser o desassoreamento. No passado, priorizaram-se dragagens. Hoje, acreditamos em alternativas mais eficientes e menos impactantes do que as primitivas dragagens, práticas muito impactantes e que demandam solução para o material dragado. Por falta de espaço e pelos danos causados pelo depósito de sedimentos dragados, essas soluções estão se tornando quase inviáveis.
Um dos componentes do Pro-Sustentável é a elaboração de um Plano de Gestão Ambiental para o Sistema Lagunar de Piratininga e Itaipu, com medidas de curto, médio e longo prazo. Um grande avanço neste sentido foi obtido em 2015, com a elaboração dos documentos:
- "Estratégia para Gerenciamento Ambiental Compartilhado dos Ecossistemas Lagunares de Itaipu e Piratininga e da Região Hidrográfica", elaborado pelo Subcomitê do Sistema Lagunar Itaipu-Piratininga (CLIP), com apoio do Instituto Estadual do Ambiente, da Prefeitura de Niterói e da empresa Águas de Niterói,
- "Gerenciamento Ambiental Integrado da Bacia Hidrográfica dos Ecossistemas Lagunares de Piratininga e Itaipu: Plano de Ação", da Prefeitura de Niterói, através do qual converte em politica pública municipal as ações estabelecidas no documento anterior.
Sabemos que a missão que temos pela frente é complexa. Os problemas do sistema lagunar é diversificado e cada parte do espelho d`água tem singularidades. Em certos locais há o problema de assoreamento, noutros a preocupação está na presença dos bancos de macroalgas (Chara sp.) etc. Portanto, estamos certos que não haverá uma "bala de prata" e o trabalho demanda bom planejamento e já estamos trabalhando nisso.
Como a matéria informa, mais uma vez, a Prefeitura vai buscar apoio da Universidade Federal Fluminense (UFF) e outras instituições acadêmicas para subsidiar o planejamento das intervenções a serem feitas no sistema lagunar.
Enfim, a hora é de arregaçar as mangas para transformar a Região Oceânica de Niterói numa referência de sustentabilidade urbana e a recuperação do sistema lagunar de Piratininga e Itaipu numa inspiração para que outras cidades também recuperem as suas lagoas e os seus ecossistemas costeiros.
Axel Grael
Engenheiro Florestal
Secretário Executivo
Prefeitura de Niterói
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Conjunto de medidas para salvar a Lagoa de Piratininga
Especialistas divergem sobre possíveis soluções definitivas para o sistema lagunar, mas entram em consenso sobre a urgência de acabar com o depósito de esgoto. Foto: Evelen Gouvêa |
Raiana Collier
Implantação de ciclovias e obras de pavimentação e drenagem são algumas das intervenções programadas
Maltratada por anos, a Lagoa de Piratininga aguarda a entrada em uma nova fase de sua história. Para 2017, está no planejamento uma série de medidas que prometem melhora na conjuntura do entorno, como implantação de ciclovias e obras de pavimentação e drenagem. No ano passado, foi aprovada emenda que dedica R$ 450 mil especificamente para recuperação e estudo do sistema lagunar. Especialistas divergem sobre possíveis soluções definitivas para o sistema lagunar, mas entram em consenso sobre uma urgência: acabar com o depósito de esgoto nas lagoas.
Moradora do entorno da Lagoa de Piratininga, Alzira Paraquett lamenta a situação. Ela reflete o desespero dos moradores do bairro, que assistem a Lagoa definhar ano após ano. “Moro próximo ao DPO e é vergonhoso o que se vê por lá, esgotos na ciclovia, galinheiros gigantescos na orla, mato, entulhos”, comentou.
O biólogo Mário Moscatelli relata que, em sua última visita à região, no ano passado, viu de perto um panorama que vem se perpetuando há anos. “Os problemas históricos da região continuam: esgoto e assoreamento da Lagoa de Piratininga. Infelizmente, em pleno século 21, os problemas do século 20 continuam atingindo a população. Em toda a Região Metropolitana, nós vemos as lagoas sendo transformadas em latrinas”, avaliou.
O especialista aponta que é “fundamental” parar de jogar esgoto nas lagoas e executar um trabalho de desassoreamento visando dar sobrevida ao ecossistema. Ele sugere que seja feita avaliação de todos os estudos já elaborados sobre o assunto. O secretário-executivo de Niterói e engenheiro florestal, Axel Grael, defende que desde que começou-se a fazer um planejamento para estabelecer as prioridades em relação à gestão do sistema lagunar e da bacia hidrográfica em questão, houve um avanço no caminho de um programa de recuperação ambiental para a região. Ele conta, ainda, que o foco principal dessas melhoras está em Piratininga, que apresenta caráter mais emergencial.
Para Axel, a Lagoa de Itaipu passou pelo caos, mas se estabilizou. Na de Piratininga, isso ainda não aconteceu. Ele defende que lá existe uma quantidade maior de lodo (provocado pelo esgoto que, durante anos, foi depositado na Lagoa), agravada por sérios problemas de circulação da água. A oxigenação no interior da Lagoa de Piratininga é um tópico de discussão. Para ele, a falta de oxigênio não é um problema que acontece durante todo o ano. “A Lagoa tem problema de oxigênio em determinados períodos, por volta de maio e junho. Existe uma macroalga chamada ‘Cara’ (Chara sp.) que cresce muito rápido e em seu próprio processo de fotossíntese solta oxigênio na água. Só que quando ela morre, consome oxigênio. O que estamos planejando é montar uma rotina em que, quando chegar abril, retirarmos a alga. Assim, evitamos o processo de decomposição da alga. O ideal é que a gente consiga mecanizar isso. Teremos que inventar um manejo para resolver os problemas da Lagoa. É preciso ver uma forma de consumir o lodo”, detalhou.
Axel adianta que, essa semana, se reúne com o reitor da Universidade Federal Fluminense, Sidney Mello, para estudar soluções para o sistema lagunar. “O nosso maior problema é que não conhecemos os problemas da Lagoa. Por isso vamos trazer a universidade para nos ajudar. Temos muito mais perguntas do que respostas. Até hoje, muito se falou sobre a Lagoa, mas pouco se fez. E queremos fazer a coisa certa”, contou.
"Até hoje, muito se falou sobre a Lagoa, mas pouco se fez. E queremos fazer a coisa certa". Axel Grael
O Subcomitê do Sistema Lagunar de Itaipu/Piratininga (Clip) - que reúne representantes do poder público e da sociedade civil - continua se articulando para melhorar a situação no local. Para esse ano, a verba inicial é de R$ 450 mil que serão dedicados às duas lagoas. O geógrafo Luciano Paez foi escolhido para a gerência do Sistema Lagunar. A engenheira e coordenadora do Clip, Leila Heizer, afirmou que, para 2017, o subcomitê espera melhoras na conjuntura atualmente caótica que cerca a Lagoa. “Estamos com expectativa positiva porque existe uma perspectiva de obras boas para a região. A ciclovia, por exemplo, deve passar pela marginal da Lagoa, e vai funcionar como uma barreira. Isso vai impedir, por exemplo, que construções invadam esse espaço. Também deve colaborar em relação ao lixo. Muita gente deixa, por exemplo, entulho de obras no entorno da Lagoa. Isso deve diminuir”, disse.
Leila faz coro a Axel em relação à necessidade de estudos e implantação de medidas que, de fato, sejam capazes de resolver os problemas do sistema lagunar Itaipu-Piratininga como um todo. “Estamos acompanhando, junto à UFF, estudos para a melhoria da qualidade da água. Queremos buscar tecnologias que realmente funcionem, e não nos interessa só as lagoas limpas, mas também os rios, que são patrimônio inestimável”, detalhou.
"...não nos interessa só as lagoas limpas, mas também os rios, que são patrimônio inestimável". Leila Heizer
Parque Orla - Com perspectiva de começo de obras este ano, o Parque Orla Piratininga - área de lazer náutico, pista de jogging, academias para terceira idade, adequação das ruas no entorno (infraestrutura de acesso), quiosques, banheiros e tratamento paisagístico - deve alterar o panorama no local. A expectativa é que problemas como descarte de lixo em pontos irregulares seja minimizado. “Toda aquela faixa de terra entre a ciclovia e o espelho d’água da Lagoa será o Parque Orla. Hoje, as pessoas vão lá e jogam lixo. Com o Parque, isso vai mudar. Até lá, precisamos contar com a colaboração das pessoas. As equipes da Clin vão lá, tiram, um mês depois está tudo de novo”, lamenta Axel.
O projeto deve exigir investimento de R$ 25 milhões. A Lagoa deve passar a ser pensada como ativo para a economia, utilidade para esportes náuticos e, consequentemente, turismo.
Fonte: O Fluminense
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Boa tarde, sr. Axel Schmidt Grael,
ResponderExcluirPara nós não ficou Claro se as construções irregulares (favelização) serão tratadas como tal, ou se seja, ocupação irregular de área pública e de preservação e, como consequência, REMOVIDAS. Em especial no entorno do antigo IATE CLUBE PIRATININGA!
Agradecido
Ingo Engelhardt