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sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Apreensão de aves em cativeiro bate recorde este ano em Niterói



Combate. Policia ambiental faz apreensão no Tibau, em Piratininga, na Região Oceânica; operação encontrou mais de 30 gaiolas com pássaros em uma residência - Felipe Queiroz / Divulgação


Resgates feitos até agosto superam o total dos últimos dois anos

Renan Almeida

NITERÓI - No mês em que o pássaro Barulhento (Euscarthmus meloryphus) foi catalogado como a 200ª espécie do gênero a viver na área do Parque Estadual da Serra da Tiririca (Peset), o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) alcançou também a marca de 220 aves apreendidas este ano em gaiolas no entorno do parque. O número de resgates de animais em cativeiro feitos até agosto já supera o total dos últimos dois anos, segundo levantamento feito pelo instituto — foram 175 em 2015 e 148 em 2014. O número é reflexo de um aumento da fiscalização do Peset, com apoio de outros órgãos ambientais (Comando de Policiamento Ambiental, Ibama), sobre traficantes de animais e também em cima de pequenos criadores ilegais. O objetivo é enfraquecer a cultura de criar ilegalmente os pássaros confinados e combater a caça de animais silvestres, prática que traz prejuízos às vezes irreparáveis à biodiversidade.

As espécies mais apreendidas foram o trinca-ferro, o tico-tico, o canário-da-terra, o coleirinho e o tiziu. Também constam na lista dos mais capturados espécies ameaçadas de extinção como o pixoxó e o coleiro-do-brejo. Normalmente, os animais são recolhidos em operações nas feiras livres, através de denúncias, ou em rondas simples, uma vez que os animais costumam ser exibidos ao ar livre. Além do sofrimento provocado ao bicho, que é mantido em espaços minúsculos, há o agravante de se remover uma espécie do habitat natural, o que prejudica a interação de todos os seres vivos do ecossistema. Sávio Freire, professor de Zoologia e Medicina de Animais Silvestres da Universidade Federal Fluminense (UFF), explica que quando se reduz muito a população de uma espécie, ou se acaba com ela, formam-se lacunas na cadeia alimentar que podem ferir o equilíbrio dinâmico da natureza. Como consequência, pode haver alterações como proliferações de insetos que costumavam servir de alimentos para determinadas espécies de pássaros.

— O tiê-sangue, que é uma ave endêmica daqui, que representa a Mata Atlântica, tinha no passado uma população extremamente expressiva e hoje é um animal que não é mais comum de se ver. Não é só pelo desmatamento, mas porque ele foi muito capturado por sua beleza. É um exemplo claro de uma espécie que foi perseguida e teve a população muito reduzida. Uma das reconhecidas vítimas do tráfico e da captura de animais — cita Freire.


Caboclinho, um dos representantes da fauna silvestre - Felipe Queiroz


DEPOIS DO RESGATE, REABILITAÇÃO
Depois de recolhidos, os animais passam por exames para verificar se estão em condições de serem devolvidos à natureza. Nos casos onde o laudo é negativo, por motivo de saúde ou por já estarem demasiadamente domesticados nas gaiolas, são levados para reabilitação no Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do Ibama ou para outros criadores autorizados. E a fauna agradece as operações: dos 220 pássaros apreendidos, 205 eram espécies locais e foram reinseridos no meio ambiente. Um eles morreu, cinco foram para o Ceta e nove para criadores.

— O parque vai continuar atuando e intensificando a fiscalização contra essa ação predatória, com apoio da Polícia Ambiental — lembra o chefe do Peset, Jonathan Ferrarez, que diz que denúncias podem ser feitas no telefone 2638-4411.

Enquanto uns encontram no pássaro domesticado uma forma de contato com a natureza, outros preferem sair de casa para encontrá-los livres. A chamada observação de pássaros é uma modalidade de ecoturismo que ganha cada vez mais adeptos. Para estimular a prática, o Inea realiza o projeto Vem Passarinhar, com saídas guiadas para a atividade, cada mês em um parque estadual diferente. No Peset, o programa ocorrerá nos dias 26 e 27 de novembro.

— Nas gerações passadas, era comum ter uma gaiola em casa, mas isso foi diminuindo muito. Ultimamente, surpreendentemente, tem crescido novamente. A gente tenta conscientizar as pessoas a buscarem o contato com a espécie no seu ambiente natural, que é uma experiência muito mais enriquecedora — conta o coordenador de Pesquisa, Monitoramento e Manejo de Ecossistemas do Peset, Felipe Queiroz.


Grupo em atividade de observação de pássaros no entorno da Lagoa de Itaipu


A agrônoma Beatriz Sombra começou esse hobby há pouco mais de um ano. Sempre que pode, tira um dia no fim de semana e sai com sua câmera para registrar os animais.

— É muito prazeroso observar o animal com seu comportamento natural, ver a harmonia entre as espécies e compartilhar esses momentos com amigos. Esses pássaros todos que vemos em gaiolas por aí podemos encontrar soltos na natureza — diz Beatriz, que dá a dica de um bom lugar na cidade para observar. — Na margem da Lagoa de Itaipu, na saída do Rio João Mendes, sempre tem boa variedade de pássaros.

Capturar qualquer animal silvestre na natureza é crime e nenhuma ave obtida dessa forma pode ser posteriormente regularizada. É importante lembrar, entretanto, que a criação de aves em gaiolas é autorizada, desde que o pássaro e o criador sejam registrados no Ibama. Segundo o órgão, a licença deve ser adquirida antes da aquisição do pássaro, através de inscrição no Sistema de Cadastro de Criadores Amadoristas de Passeriformes (Sispass). Já os animais devem ser comprados ou trocados em criadouros comerciais legalizados, que emitem nota fiscal e o registro.

De acordo com o artigo 29 da Lei 9.605/98, matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização do órgão competente é crime ambiental. A multa para a prática varia de R$ 500 a R$ 5 mil, dependendo da espécie. Denúncias também podem ser feitas anonimamente através do Linha Verde, no telefone 0300-253-1177.

Fonte: O Globo Niterói











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