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sábado, 31 de outubro de 2015

ECONOMIA DA PRAIA - Orla carioca gera 20 mil empregos diretos e fatura R$ 1,4 bi por ano


A matéria foi publicada pelo O Globo em 19/11/2012 e espelhava uma economia em condições muito diferentes da atual, mas, no início da temporada de verão, é um interessante registro para que se tenha ideia da dimensão e do potencial dos negócios que giram em torno da praia e da orla.

Axel Grael

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Orla carioca gera 20 mil empregos diretos e fatura R$ 1,4 bi por ano

Lucros à beira-mar. Vendedores de cangas, biquínis e mate percorrem a areia oferecendo seus produtos aos banhistas: mais de mil ambulantes trabalham em cerca de 70 praias cariocas, movimentando a economia - Pedro Kirilos

Elenilce Bottari

Mercado alavanca os lucros de bares, restaurantes, hotéis e até mesmo de indústrias

RIO - A economia bronzeada do Rio já mostrou seu valor. Com 20 mil empregos diretos e um faturamento em torno de R$ 1,4 bilhão por ano, diversificado e bem distribuído por 90 quilômetros de praias, a orla carioca é hoje o maior centro de comércio e serviços a céu aberto da cidade. Negócio que parece impulsionado pelas correntes do mar e alcança mercados para além da areia, alavancando os lucros de bares, restaurantes, hotéis e até mesmo de indústrias do país. Só na rede hoteleira da Zona Sul e da Barra, a maré boa rendeu, nos últimos quatro anos, uma arrecadação de R$ 229 milhões em ISS.

Por trás desse sucesso, está o encantamento exercido pelas praias do Rio. Segundo dados da Riotur, elas são o principal destino de turistas brasileiros e estrangeiros que chegam à cidade. Trata-se de uma multidão ávida por consumir. Na última temporada de verão, de dezembro do ano passado a maio deste ano, foram 3,017 milhões de visitantes que deixaram por aqui uma renda de US$ 2,2 bilhões (R$ 4,5 bilhões). Os estudiosos do mercado estão de olho nesse filão.

— O perfil do turismo no Rio vem mudando. Sem estações definidas, turistas chegam durante todo o ano, e a economia das praias se mantém aquecida mesmo fora da alta temporada. A sazonalidade do Rio depende diretamente do tempo — explica a pesquisadora Margareth Carvalho, gestora de um projeto do Sebrae criado para capacitar esses novos empreendedores que nascem nas areias quentes do Rio.

Internet na divulgação e ‘frete’ de avião

O mercado das praias chega a reunir um milhão de consumidores nos fins de semana. É o tempo que vai definir, muitas vezes, as ondulações do negócio. Dele depende, por exemplo, a produção diária de uma fábrica do Centro do Rio que detém a marca do biscoito de polvilho mais famoso, o Globo. Em dias de sol, são produzidos 15 mil saquinhos.

— Praticamente tudo vai para a orla — diz Francisco Torrão, um dos sete sócios da empresa, fundada em São Paulo, em 1953, mas que logo veio para o Rio.

Empreendimento enxuto, mas bem-sucedido. São 22 funcionários preparando os biscoitos que saem da Rua do Senado por R$ 0,80 e são vendidos por até R$ 3 à beira-mar.

A economia legalizada da orla é movimentada por 1.079 ambulantes que trabalham em mais de 70 praias, além de 1.123 barraqueiros e 820 auxiliares.

— Nós preferimos ser chamados de empreendedores — afirma o presidente da Associação do Comércio Legalizado da Praia (Ascolpra), Paulo Joarez, ex-sacoleiro, hoje proprietário de uma barraca na Praia de Copacabana, na altura da Rua Santa Clara, onde fica a sede da associação. — Saí do Sul sem qualquer perspectiva e acabei na praia como ambulante em 1985. Depois montei uma tenda para atender o pessoal de uma rede de vôlei, mas vivia perdendo para o rapa. Em 1996, iniciamos um movimento pela legalização e, no primeiro cadastramento em 1998, conseguimos as licenças provisórias e criamos a associação.

Hoje, Joarez é patrocinado por uma cervejaria que lhe fornece duas caixas térmicas, 30 barracas de sol e 60 cadeiras que ele aluga para os frequentadores. Se saísse do seu bolso, a infraestrutura lhe custaria R$ 9 mil. Bom para os barraqueiros e lucro para a indústria de bebidas. Segundo a associação dos ambulantes legalizados, só as barracas vendem, em média, cem caixas de cerveja por semana no verão carioca, o que dá mais de 1,3 milhão de latinhas. Isso sem contabilizar os ambulantes e os quiosques.

Há 30 anos vendendo empadinhas nas praias, Denílson Guedes, o Bandeirinha de Copacabana, mantém blog e perfil no Facebook para promover o negócio. Já Luís Fernando Barbosa de Oliveira, que revende toalhas trazidas de Natal, faz viagens de avião frequentes para buscar o produto e manter o calor das vendas:

— De ônibus não dá. A firma quebra.

O vendedor de chapéus Manoel Inácio da Conceição compra seus produtos mais perto, na Saara, mas mesmo assim não tem vida fácil:

— É sol e peso no lombo de 7h às 15h todos os dias e quilômetros de areia para atravessar.

Em frente ao Othon Palace, em Copacabana, Leilamar de Oliveira Rodrigues serve quentinhas. Ou melhor: comanda o mais conhecido serviço de almoço executivo da região.

— Acordo às 5h para começar fazer as três receitas do dia, que seguem rigorosamente as regras da fiscalização sanitária — garante.

Por dia são até 150 quentinhas, a R$ 10 cada.


Fonte: O Globo, publicado em / Atualizado


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