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quinta-feira, 28 de maio de 2015

TORBEN GRAEL: Soberano do Mar




*Por Caroline Domingues

O vento batia forte no Rio de Janeiro quando barcos, vindos de 34 nações diferentes, deram início à Regata Internacional da Vela — o primeiro evento-teste dos Jogos Rio 2016, que aconteceu nas cinco inéditas raias instaladas na Baía de Guanabara em pleno inverno da cidade carioca.

Realizada em agosto do ano passado, a competição deu aos 326 atletas (entre eles, 32 medalhistas olímpicos) a oportunidade de se familiarizarem com as condições do vento e o local, escolhido como o palco oficial da modalidade da Olimpíada no ano que vem. De fora da água, o iatista Torben Grael observava atentamente cada movimento. Conhecido como um dos maiores (e mais vitoriosos) atletas brasileiros dos últimos tempos, ele encara desde 2013 a missão de atuar como treinador-chefe da seleção brasileira de vela.

Torben compartilha, então, um pouco da sua imensa experiência com os atletas, decidido a concluir com sucesso seu próximo desafio: ajudar no desenvolvimento da modalidade até a realização da competição, que acontecerá em 2016.



DE PÓDIO ELE ENTENDE

Poucos têm tanto peso para falar sobre vela e sucesso quanto Torben. Ele já esteve no lugar mais alto do pódio em duas das regatas mais desafiadoras do mundo, Volvo Ocean Race e Louis Vuitton Cup, e pendura na estante de sua casa cinco medalhas olímpicas (2 de ouro, 1 de prata e 2 de bronze), seis mundiais e nada menos que 45 campeonatos brasileiros — em oito categorias diferentes. Além, é claro, do título de melhor velejador do mundo, conquistado em 2009.

“A vela tem tradição de trazer medalhas e temos uma turma jovem e promissora chegando”, comenta o experiente chefe da equipe brasileira de vela. Trabalho é o que não falta para Torben, que diz ter tido um início cheio de resoluções importantes e muitas tarefas para organizar a seleção de vela do Brasil.

Mas em 2015, já com o barco velejando de vento em popa, o campeão iniciou o ano cheio de esperanças em relação à participação do Brasil nos Jogos de 2016. Ao todo, são dez classes olímpicas de vela e teremos representantes em todas elas! E o melhor: atletas com chances reais de medalhas.

Na lista de apostas do campeão figuram nomes de peso como Robert Scheidit, da classe Laser (bicampeão olímpico e dono de 15 títulos mundiais); Jorge Zariff, da classe Finn; Isabel Swan e Fernanda de Oliveira, da classe 470 (que conquistaram, juntas, a medalha de bronze em Pequim, e hoje disputam com parceiras diferentes); Ricardo Winicki Santos (Bimba), da classe RS:X; e, claro, a dupla Kahena Kunze e Martine Grael (filha de Torben, que, aliás, foi eleita a melhor velejadora do mundo em 2014 e é a atual campeã mundial da classe 49erFX).

A verdade é que a família Grael tem sido fiel ao ditado popular “Filho de peixinho, peixinho é”. E o treinador-chefe acompanha, além de Martine, os resultados animadores do filho Marco, outra promessa olímpica da classe 49er. Tantos talentos e qual o conselho do mestre dos mares?

“Não podemos afirmar números de medalhas. Todos precisam treinar bastante até 2016 e manter o foco para atingir bons resultados”, pondera. Se ele diz, é bom mesmo que os jovens velejadores escutem, porque Torben fala com experiência de campeão e vivência de atleta, já que segue competindo a todo vapor nas classes Oceano e Star.

Em março, ele foi para Miami, velejar na Bacardi Cup, importante prova da classe Star. Incansável, batalhador e cheio de confiança, o velejador alerta sobre outro assunto de movimentar os mares: a degradação ambiental que cerca as águas do Rio de Janeiro. “Quando eu era pequeno, tomava banho de mar em frente ao Iate Clube. Hoje em dia é impossível. A água tem cor de café e o lixo flutuante é absurdo”, lamenta, e explica que esse problema impacta de maneira notável o desempenho do barco e pode causar uma diminuição na performance do atleta, suficiente até para alguém perder uma regata.

“Se a Olimpíada fosse hoje, apresentaríamos a raia mais poluída da história dos Jogos Olímpicos”, afirma. “No entanto, cabe às autoridades aproveitar essa oportunidade de limpeza da baía para estender o programa de despoluição para além dos Jogos. Que esse compromisso se torne um legado para o Rio de Janeiro e para o Brasil”, diz.

PRECOCE NO ESPORTE

Nascido há 54 anos em São Paulo, ele se mudou para Niterói aos 3 anos de idade, onde cresceu e foi criado com seus dois irmãos. Aos 5, já velejava ao lado de seu avô materno, o dinamarquês Preben Schmidt (pioneiro da vela brasileira), pela Baía de Guanabara a bordo do Aileen — um barco da extinta classe de 6 metros.

Incentivado pelo pai (um militar do Exército) e pela mãe (uma velejadora), ele e seu irmão mais novo, Lars, demonstraram cedo o interesse na vela. Em 1983, os irmãos Grael conquistaram o primeiro campeonato mundial de suas carreiras, durante uma disputa realizada no Porto, em Portugal.

Mais conhecido entre seus colegas como “turbina” (parece mesmo que seus barcos contam com a força extra de motores), Torben é famoso pela gana em vencer. Talvez por essa característica o atleta seja um dos brasileiros com o maior número de medalhas olímpicas.

Foi com essa mesma garra que corre no sangue que, em 2005, Torben liderou o histórico Brasil 1, um barco conhecido por possuir uma tripulação quase toda nacional e por ter sido construído no próprio país, para participar da Volvo Ocean Race.

Considerada a mais luxuosa regata volta ao mundo, costuma ter nove meses de duração, passar por 11 países e percorrer quase 72 mil quilômetros.

A equipe brazuca conquistou o terceiro lugar daquela edição. “O mais complicado é obter a primeira experiência nesse tipo de regata e os brasileiros tiveram. As equipes internacionais são formadas geralmente por indicação ou levando em conta a experiência do velejador”, explica ele sobre a importância do feito.

Experiência é mesmo o que não falta a Torben, que retornou à Volta ao Mundo em 2008. Desta vez para comandar a equipe sueca Ericsson 4. A bordo desse veleiro, ele não só venceu a Volvo Ocean Race como estabeleceu logo durante a primeira etapa da competição (que foi de Alicante, na Espanha, a São Petersburgo, na Rússia) um novo recorde de distância.

FUTUROS MEDALHISTAS

O sobrenome do iatista representa ainda uma organização não governamental: o Projeto Grael. Criada há 17 anos, por iniciativa dos irmãos e velejadores Torben e Lars Grael e do amigo e parceiro Marcelo Ferreira, funciona como uma escola de vela para jovens carentes. O projeto possui uma equipe de competição e promove ações ambientais, como a coleta de lixo flutuante.

Além da importância social, os trabalhos têm contribuído para preparar futuras promessas do esporte. O ex-aluno Samuel Gonçalves, por exemplo, é hoje o proeiro do também campeão Lars Grael (na classe Star). E, quando não está trabalhando ou treinando, Torben gosta mesmo é de dar um rolê de barco pela Baía de Guanabara. Sempre que pode, então, ele veleja a bordo do clássico Aileen (aquele barco antigo de seu avô onde tudo começou). Com o vento batendo forte no rosto, ele se sente feliz e agradece sempre poder viver fazendo o que mais gosta.

Fonte: Body Tech





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