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quinta-feira, 14 de novembro de 2013

As escolhas de Lars Grael para serem realizadas na carreira e na vida pessoal


Amor pelo mar e pela vida


Texto Giovanna Tavares

Fascínio, mistério, desafio, liberdade. O mar, com todos os seus encantos e perigos, poderia ser o lar de muita gente que é apaixonada pela imensidão azul – não fosse a necessidade de, de vez em quando, criar raízes em terra firme. E quando o mar vira, além de uma paixão, o seu trabalho? Lars Grael, velejador brasileiro de 49 anos, sabe bem como é essa realidade.

Desde que nasceu, ele esteve ligado ao esporte, mas a paixão por vela só se concretizou na família por influência do avô, Preben Schmidt, um dos precursores do esporte no país. Sendo assim, Lars cresceu ao lado dos tios Axel e Erik, os Gêmeos do Mar, que foram tricampeões mundiais de vela. As mulheres da família também tinham o amor pelo mar no sangue: Magrete, tia de Lars, foi pioneira da vela feminina no Brasil.
Seguir em uma carreira longe do esporte e do mar? Isso nunca passou pela cabeça do velejador. “A vela sempre foi muito presente na minha vida, velejávamos juntos quando eu ainda era um bebê, então seguir essa profissão foi natural”, conta ele.

Mesmo estando inseridos nessa realidade desde muito cedo, Lars e o irmão Torben Grael enfrentaram algumas dificuldades nos primeiros tempos de vela profissional, como em qualquer outra profissão.

“A maior dificuldade era custear os campeonatos, que envolvem viagens, hospedagem e transporte dos barcos. Nunca foi fácil para a gente também”, relembra. A superação aconteceu um dia após o outro, com vitórias e derrotas.
“A vela sempre foi muito presente na minha vida, velejávamos juntos quando eu ainda era um bebê, então seguir essa profissão foi natural”




Os dois lados

 Quem opta por seguir uma carreira esportiva sabe dos sacrifícios que devem ser feitos para garantir uma boa performance, como substituir algumas horinhas de lazer pelos treinos. Mas nada que um bom planejamento e uma dose de paixão não deem conta. “Quando você escolhe seguir por esse sentimento de amor, por mais que os desafios surjam, é sempre um esforço positivo”, afirma o esportista. Desse jeito, Lars não consegue enxergar um lado ruim em seu trabalho. Outra vantagem, segundo ele, é o contato libertador com a natureza. “O vento, o mar, os peixes, as aves, tudo isso equilibra a complexidade que é velejar”, completa.

Ainda assim, a trajetória de Lars Grael
teve altos e baixos. Em 1998, durante uma competição em Vitória, no Espírito Santo,
o atleta sofreu um acidente e teve sua perna direita amputada. O que se seguiu foi uma confusão de sentimentos: choque, medo, angústia e, por fim, gratidão e contentamento. “Recebi uma lição de vida de pessoas que ha- viam passado por situações semelhantes à minha. Tirei, dessa experiência e do carinho da família e de amigos, uma vontade de viver inacreditável”, revela.

Por isso, Lars não conseguiu ficar muito tempo parado. Assim que saiu do hospital, ganhou do irmão Torben um barco de presente, de seis metros de comprimento, como um incentivo para que ele voltasse a velejar. Funcionou.


Compromisso com hora marcada: fazer o bem

 Hoje, a vida profissional de Lars não se limita apenas ao esporte. Por conta da rotina atribulada, não é possível treinar todos os dias, mas Lars e Samuel Gonçalves, seu proeiro, tentam manter uma rotina constante de treinos de vela. Isso porque, além de competir nas classes Star e Oceano, o velejador realiza palestras pelo Brasil sobre superação e coordena o Projeto Grael, uma ação social que tem por objetivo incluir crianças no esporte.

Em 1996, após retornarem dos Jogos de Atlanta com suas respectivas medalhas olímpicas, Lars, seu irmão Torben e o velejador Marcelo Ferreira tiveram a ideia de criar um projeto social que funcionasse como uma escola de vela para as crianças carentes de Niterói, além de desmitificar a ideia de que esse esporte é uma atividade exclusivamente elitista.

A principal dificuldade no começo do Projeto Gael foi justamente essa, mudar a visão preconceituosa que muitos tinham da vela, considerado um esporte de gente rica. “Hoje, após 15 anos de existência, ganhamos reconhecimento regional, nacional e até mesmo internacional, com a chancela da Unesco.
É muito gratificante ver alguns dos nossos ex-alunos despontando na vida profissional, principalmente na área náutica. O meu proeiro, por exemplo, é um ex-aluno do projeto”, conta Lars.

As palestras são outro tipo de atividade social que o velejador faz questão de se envolver, tendo realizado mais de 400 sessões em diversos estados do país. Os temas são variados, mas todos abordam a questão da superação de dificuldades, uma realidade muito presente na vida de Lars Grael. Poder dividir isso com a sociedade é impagável para ele. “Fazer o bem e poder acrescentar algo de bom na vida das pessoas é muito gratificante. Com o acidente, aprendi a dar valor a pequenas coisas, descobri que a felicidade é muito mais do que ganhar prêmios e ser reconhecido”, revela.

Além de compartilhar suas experiências e desafios nas palestras, Lars também é o autor do livro A Saga de Um Campeão, lançado em 2001, que traz um relato sobre sua trajetória de vida como cidadão, atleta olímpico e velejador, além de contar todas as mudanças que aconteceram na vida de Lars após o acidente. “Pensei também que poderia ser útil a outras pessoas dessa maneira”, afirma ele.


Um dia de cada vez

 Lars não abre mão de aproveitar os pequenos prazeres da vida, como curtir a família e os momentos de lazer com os amigos. Para ele, ser feliz é poder saborear cada dia na companhia da família, tendo a chance de acompanhar o crescimento de seus filhos.

Fica difícil conciliar tudo isso com uma agenda de compromissos tão apertada? Nem tanto. “Tenho sorte por ter me envolvido com uma série de atividades que seguem no mesmo rumo. Hoje, posso dizer que vivo do vento e pelo vento, seja em regatas, palestras e lazer. Não é difícil porque minha vida está e sempre esteve ligada ao mar”, observa. Uma prova disso é que, nas horas livres, o passatempo preferido de Lars e sua família é velejar.

Essa mania de ter fé na vida é o que motiva o velejador todos os dias, que segue sua carreira com uma paixão insaciável e com a certeza de que nada é tão recompensador quanto ser solidário com os demais. Para Lars Grael, ter qualidade de vida é mais do que estar contente consigo mesmo: é poder ser referência de força e superação para outras pessoas, todos os dias.


Fonte: One Step Mag



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