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quarta-feira, 3 de julho de 2013
Equívocos de redação prejudicam trabalhos científicos brasileiros
Avaliação é de Gilson Volpato, professor da Unesp de Botucatu e especialista em redação científica, que lança o Dicionário crítico para redação científica
Por Elton Alisson
Agência FAPESP – Os pesquisadores brasileiros têm se esforçado para melhorar suas habilidades em redação, mas ainda cometem erros ao escrever uma tese ou artigo, segundo Gilson Volpato, especialista em redação e publicação científica.
Para Volpato, professor do Departamento de Fisiologia do Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista (Unesp), isso ocorre porque muitos pesquisadores não dominam ainda conceitos básicos da redação científica.
“Temos boas pesquisas no Brasil que, muitas vezes, são poucos citadas porque os resultados são mal apresentados. Isso se deve a uma série de equívocos sobre conceitos fundamentais na redação de um texto científico, que precisam ser corrigidos”, disse Volpato, à Agência FAPESP.
De acordo com o autor – que dá cursos sobre o tema e já auxiliou pesquisadores a reescreverem mais de 250 artigos em humanas, exatas e biológicas –, um dos conceitos relacionados à estrutura e apresentação dos textos utilizado de maneira equivocada está na introdução.
É comum, segundo ele, alguns pesquisadores erroneamente apenas discorrerem nessa parte fundamental de um texto científico sobre a literatura científica que leram, sem fundamentarem as bases e os objetivos da pesquisa.
“Esse é um vício observado nas introduções de algumas teses e dissertações, onde se inclui a chamada ‘revisão da literatura’, por exemplo, e tenta-se replicar essa mesma estrutura de texto nos artigos submetidos às revistas científicas. Porém, essa estrutura acaba não sendo publicada porque os artigos científicos internacionais seguem a lógica científica que é adotada por todas as boas revistas científicas no mundo e não se pode querer fazer algo diferente”, disse Volpato.
Outro conceito errado é sobre artigo de revisão científica. A ideia é que tal trabalho contribua para o avanço do conhecimento, mas, de acordo com Volpato, muitos artigos do tipo costumam apenas resumir as pesquisas em suas respectivas áreas.
“Há pesquisadores que coletam uma série de dados da literatura recente em suas áreas, fazem um resumo de todo o material coletado e acham que fizeram um artigo de revisão. Mas o artigo de revisão tem que avançar, tem que trazer novas conclusões”, afirmou.
Reavaliação de conceitos
Volpato, em parceria com mais cinco pesquisadores, acaba de lançar o Dicionário crítico para redação científica, com o intuito de contribuir para corrigir e balizar conceitos utilizados erroneamente por pesquisadores brasileiros.
O livro reúne definições de 750 termos utilizados em várias áreas, relacionados à publicação, redação, Filosofia da Ciência, Ética, Lógica, Administração, Estatística, Metodologia, Biblioteconomia e Cientometria, entre outras.
Entre os conceitos definidos pelos autores estão os de autoria, fator de impacto, método lógico e metanálise.“O livro reúne conceitos úteis a cientistas de qualquer área, que são definidos com clareza para nortear a construção de uma ciência que seja de alto nível e que atenda aos padrões internacionais de publicação”, afirmou Volpato.
Segundo ele, a publicação leva o nome de dicionário crítico porque muitas definições atuais utilizadas de forma corrente precisam ser reavaliadas. “O dicionário apresenta definições mais ousadas e também faz críticas a alguns conceitos mais tradicionais que já não fazem mais sentido no universo atual da ciência e da redação científica”, disse.
De acordo com Volpato, há poucos exemplos desse tipo de publicação, a maioria voltada para áreas específicas, como o Critical Dictionary of Sociology e o Critical Dictionary of Art, Image, Language and Culture.
A ideia é que a publicação brasileira chegue a ter mais de 5 mil palavras nas próximas edições. Para isso, já está sendo formada uma equipe com especialistas em diversas áreas, e os autores estão solicitando sugestões de novos termos para serem inseridos.
“As pessoas podem sugerir termos ou fazer críticas aos conceitos já definidos, para que possamos revê-los”, disse Volpato. Os interessados em dar sugestões devem enviar e-mail para dcrc2013@gmail.com. Os nomes dos autores das sugestões aceitas serão mencionados nas respectivas edições nas quais suas contribuições forem publicadas.
Além do novo dicionário, Volpato também é autor dos livros Método lógico para a redação científica, Bases teóricas da redação científica, Publicação científica, Administração da vida científica, Pérolas da redação científica, Dicas para redação científica, Ciência: da filosofia à publicação e Estatística sem dor!.
O professor também divulga seu trabalho no site www.gilsonvolpato.com.br , que oferece artigos, dicas e reflexões sobre redação científica, educação e ética na ciência. O site dá acesso a aulas on-line do curso “Bases teóricas para redação científica”, apresentado por Volpato na Unesp.
Dicionário crítico para redação científicaLançamento: 2013
Preço: R$ 60
Páginas: 216
Mais informações: www.bestwriting.com.br
Fonte: Agência FAPESP
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