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segunda-feira, 25 de junho de 2012
A redução dos peixes e pães em Jurujuba
Na cidade com a maior concentração de ricos e renda per capita mais alta do Brasil, o maior bolsão de pobreza está numa comunidade cuja população é formada por pescadores e seus familiares. Bairro com menor renda de Niterói, Jurujuba reflete o empobrecimento de quem tira o sustento do mar. Dados do último Censo do IBGE revelaram que 51% dos 2.797 moradores ganham menos do que um salário-mínimo. Pescador e morador do bairro há 30 anos, Adílson Costa, de 63, está entre os que terminam o mês sem ganhar R$ 600. Mesmo sofrendo de vitiligo e fortes dores na coluna, ele enfrenta uma rotina de trabalho que inclui duas saídas diárias para o mar. A pescaria, quase sempre parca, garante o sustento da mulher e de três netos que moram com eles.
— Trabalho com mais dois no barco. Por isso, o ganho é dividido por três. Cada um tira mais ou menos R$ 15 por dia. Mas tem vezes que volto para casa sem dinheiro para comprar um pão. Quando vim morar em Jurujuba, a pesca rendia uns três salários-mínimos. Consegui comprar minha casinha e reformar. Mas, hoje, o dinheiro é só para comer. A casa está caindo, mas não tenho condições de consertar — diz Costa, que contribuiu com a Previdência Social durante 15 anos e agora luta para conseguir se aposentar. — Tentei, por causa do vitiligo, mas não consegui. Quando vou pescar em dia de sol, o corpo inteiro queima.
Filho e neto de pescadores, Costa será provavelmente o último da família na pesca. Os dois netos, Gabriel, de 15 anos, e Júlio César, de 12, sonham com outra vida:
— O mais velho pesca comigo, mas eu brigo para ele estudar. Não quero que eles sigam essa vida. O pescador não consegue mais viver com dignidade. A gente é visto quase como mendigo pela sociedade.
A família de Costa não é a única em que filhos não querem levar adiante a herança. Um dos pescadores mais antigos de Jurujuba, Sebastião Umbelino da Silva, de 74 anos, emociona-se ao falar sobre a extinção gradual da atividade que sustentou quatro gerações.
— Eu e meu irmão fomos os últimos. Acabou a tradição na família. Trabalhei 40 anos, mas só tive carteira assinada um ano e meio. Hoje, ganho um salário-mínimo. Conto apenas com a ajuda de São Pedro — diz ele, referindo-se ao padroeiro da categoria, que será homenageado com uma barqueata em seu dia, na próxima sexta-feira.
‘Pescador não tem reconhecimento’
O presidente da Colônia de Pescadores Z-8, Gilberto Alves, diz que, apesar de legislação que classifica o pescador como segurado especial da Previdência Social — o que garante benefícios como o auxílio financeiro durante o período de defeso de algumas espécies de pescado —, a categoria conta com pouco apoio governamental.
— Recentemente, anunciaram que os catadores que trabalhavam no lixão de Gramacho seriam indenizados pelo fechamento do local. O pescador não tem esse reconhecimento. Falta apoio. Muitos não conseguem receber os benefícios a que teriam direito — diz Alves.
Ele acredita que o empobrecimento dos pescadores é consequência da decadência das condições de trabalho:
— Aqui, em Niterói, estamos perdendo tudo. O mar está cada vez mais poluído e sitiado, cheio de áreas de exclusão, onde não se pode pescar. Além disso, muitos profissionais estão tendo seus registros suspensos. Estamos esquecidos, lutando sozinhos para não desaparecer.
Fonte: O Globo Niterói
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