Rio+20: oásis espalhados pela selva de concreto
RIO - Famoso pela beleza de suas praias, o Rio não tem apenas o sol e o mar entre seus melhores atributos. A cidade conta com mais de 20 mil hectares (200 milhões de metros quadrados) de área verde, espalhados por 21 parques naturais e 22 urbanos: Chico Mendes, da Chacrinha, Quinta da Boa Vista, Tom Jobim, Nacional da Tijuca... Uma mancha verde que, segundo a prefeitura, será ampliada até a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), já que o Parque Madureira acaba de engrossar essa lista.
Construído numa área de 109 mil metros quadrados, o estreante Parque Madureira está sendo apresentado como exemplo de obra sustentável: o centro de visitantes usará iluminação gerada por energia solar, terá um sistema de irrigação que evita desperdícios, reutilizará água da chuva e terá cerca de 400 lâmpadas LED, que consomem de 45% a 50% menos energia do que as comuns. A área será administrada pela Fundação Parques e Jardins, responsável pela gestão dos parques que têm um perfil mais voltado para o lazer, os chamados parques urbanos.
— O Parque Madureira pretende ser modelo: um local de lazer e de educação ambiental. É o primeiro parque com certificado ecológico do país, o selo Aqua (Alta Qualidade Ambiental) — cita o engenheiro Mauro Bonelli, um dos responsáveis pelo projeto.
Segundo a Fundação Parques e Jardins, nos últimos 20 anos, ou seja, desde a Rio 92, foram criados dez parques urbanos no Rio. A lista inclui o Tom Jobim, na Lagoa, implantado em 1995. Em seus 219 mil metros quadrados, ele oferece, além da visão incomparável do espelho d'água da Lagoa Rodrigo de Freitas, quadras para jogos, ciclovia, playground e espaço para cães, o ParCão.
Outro que surgiu depois da conferência de 1992 é o Parque dos Atletas, espaço de 125 mil metros quadrados aberto ao público em março, em frente ao Riocentro, em Jacarepaguá. Mas que nenhum visitante pense que vai achar ali um cenário de contemplação. É, como o nome sugere, lugar para quem quer suar a camisa: há quadras poliesportivas; de vôlei, de tênis e de futebol de salão, um campo de grama sintética; muros de escalada; playground; academias de ginástica e vestiários. Sem contar a pista de 1.420 metros, usada para corridas e ciclismo. O local, que sediou o Rock in Rio 2011, terá, durante a Rio+20, exposições dos países que participarão do evento. A organização da conferência permitirá a entrada do público no setor de exposições entre os dias 13 e 19 de junho.
Também cresceu o número de parques naturais, que abrigam unidades de conservação com remanescentes de vegetação nativa e são administrados por órgãos municipais, estaduais e federais de meio ambiente. Antes de julho de 1992, havia 11 desses parques no Rio. Hoje, são 21. Na avaliação de David Lessa, presidente da Fundação Parques e Jardins, atualmente os parques urbanos recebem mais atenção do poder público do que há vinte anos.
— Há uma estrutura para cuidar deles, uma Secretaria de Conservação, que atua junto com a Fundação Parques e Jardins e a Secretaria municipal de Meio Ambiente. Mais importante do que contar o número de parques inaugurados é percebermos uma mudança de cultura na cidade. Na época da Rio 92, temas como efeito estufa e aquecimento global ainda eram desconhecidos da maioria dos cariocas — afirma Lessa
Na região de Jacarepaguá, Barra da Tijuca e Recreio dos Bandeirantes, quatro parques (Bosque da Barra, Marapendi, Bosque da Freguesia e Chico Mendes) somam mais de 283 hectares. Um dos mais visitados é o Parque Chico Mendes, criado em 1989 numa área de restinga. Ali, já foram catalogadas mais de cem espécies de borboletas. Numa caminhada, é possível ainda ter a companhia de preguiças, gambás e capivaras. O lugar também é endereço de jacarés-de-papo-amarelo.
Espécie de joia da Coroa, o Parque Nacional da Tijuca — área de proteção ambiental que completou 50 anos em 2011 e abrange cerca de 3,5% do município do Rio — é o mais visitado do Brasil, recebendo mais de dois milhões de pessoas por ano. Não é para menos: em seus domínios estão monumentos e construções que já foram estampados em milhares de cartões-postais, como o Cristo Redentor, a Pedra da Gávea, a Vista Chinesa, a Capela Mayrink , a Mesa do Imperador e o Parque Lage.
O parque é dividido em quatro setores. No da Floresta da Tijuca, estão o centro de visitantes, a Capela Mayrink e o Pico da Tijuca (com 1.021 metros). No da Serra da Carioca, ficam a Vista Chinesa, o Mirante Dona Marta e o Parque Lage. O da Pedra Bonita/Pedra da Gávea, próximo ao Itanhangá, tem a rampa de voo livre de São Conrado. O setor Pretos-Forros/Covanca, cuja maior parte fica em Jacarepaguá, é fechado ao público.
Floresta da Tijuca terá novos circuitos
Localizada dentro do parque, a Floresta da Tijuca é constituída de vegetação secundária. A área tinha sido desmatada para o plantio de café. Há 150 anos, o major da PM Manuel Gomes Archer recebeu a missão de reflorestá-la, iniciando o trabalho com seis escravos. Foram plantadas cem mil mudas em 13 anos, principalmente espécies nativas da Mata Atlântica.
O Parque Nacional da Tijuca está em obras desde o mês passado, quando foram iniciados trabalhos de contenção de encosta, replantio com espécies nativas e recuperação de atrações e de vias de circulação interna afetadas pelas chuvas de abril de 2010. O serviço deve durar pelo menos dez meses, mas, segundo a direção do parque, “muitos pontos serão inaugurados até a Rio+20”. Durante o evento, haverá esquema especial de visitas guiadas (informações pelo site www.parquedatijuca.com.br). Ainda este mês, serão abertos dois circuitos, batizados de Major Archer, com 20 quilômetros de extensão, e Castro Maya, de 12 quilômetros, com percursos que formam um roteiro circular.
Dentro da Floresta da Tijuca, os novos circuitos vão usar dezenas de trilhas existentes. E servirão de teste para uma nova sinalização, que, se aprovada, será levada para outras unidades de conservação do país. Árvores e rochas receberão setas com tinta reflexiva nas cores amarela e vermelha, além de placas de madeira com indicação de destino.
Com aleias de palmeiras, lagos com vitórias-régias e coleções de bromélias, orquídeas e plantas insetívoras, o Jardim Botânico é uma das áreas verdes que devem atrair a atenção de visitantes durante a Rio+20. No embalo da conferência da ONU, o lugar vai sediar este mês eventos ligados ao meio ambiente.
O Jardim Botânico foi criado pelo príncipe regente dom João (mais tarde, dom João VI) em 13 de junho de 1808. Ele reúne mais de dez mil exemplares de plantas de médio e grande portes, algumas ameaçadas de extinção. As mais antigas têm quase 190 anos, revela o diretor de Ambiente e Tecnologia do Jardim Botânico, Guido Gelli.
A partir do dia 13, o visitante terá um motivo a mais para ir ao parque. Após obras de remodelação, o Museu do Ambiente, fechado desde 2010, reabre as portas com exposições, palestras e debates.
— O museu foi todo reformado para que possa receber exposições internacionais. Criamos um ambiente seguro, climatizado, com janelas duplas. O piso do segundo andar recebeu reforço estrutural. O subsolo também passou por uma ampla reforma — conta Guido.
Para o ambientalista Axel Grael, que na época da Rio 92 presidia o Instituto Estadual de Florestas, com a criação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Snuc), em 2000, a situação dos parques naturais, ao menos do ponto de vista financeiro, melhorou:
— A implantação do sistema trouxe orientação e um mecanismo de financiamento dos parques, já que todo empreendimento que é licenciado com estudo de impacto ambiental é obrigado a repassar até 1% do valor de seu custo para ser reinvestido em unidades de conservação — disse Axel Grael. — Na época da Rio 92, os parques não tinham dinheiro para nada. Eram vistos como sorvedouros de verba.
Segundo Axel, o desafio atual é saber usar o dinheiro para transformar os parques em locais atraentes, em pontos de ecoturismo:
— Há dinheiro, mas ainda é preciso melhorar a gestão. Nos Estados Unidos, os parques e todos os produtos ligados a esse tipo de turismo representam 3% do PIB americano. E não estou falando de dinheiro vindo de bilheteria, mas de todos os negócios: desde a venda de mapas até a imagem do Zé Colmeia na TV. Isso no Brasil está longe de ocorrer.
Rogério Zouein, diretor do Grupo Ação Ecológica (GAE), defende a adoção de uma política mais agressiva visando à criação de novas áreas verdes, especialmente nas regiões mais quentes da cidade. Zouein acha fundamental ainda haver uma preocupação maior com a manutenção e a preservação da cobertura dos parques municipais:
— Há alguns dias, estive no Campo de Santana, que eu não visitava há dez anos. Fiquei chocado. A vegetação frondosa, que conheci, não existe mais. Algumas árvores morreram. Outras sofreram grandes podas.
Uma das mais importantes áreas verdes da cidade, o Parque do Flamengo (oficialmente, Brigadeiro Eduardo Gomes) perdeu cinco mil das 17 mil árvores plantadas na época de sua inauguração, em 1965. Já a última grande reforma no lugar foi feita há 12 anos. O projeto paisagístico desse jardim monumental — composto por plantas do mundo todo e com vista para a Baía de Guanabara — leva a assinatura de Roberto Burle Marx. E os de urbanização e equipamentos são de Affonso Eduardo Reidy.
— Não tenho visitado o Parque do Flamengo nos últimos meses. Sempre que ia, ficava revoltado e triste ao ver o seu estado de abandono — lamenta o arquiteto Haruyoshi Ono, responsável pelo escritório Burle Marx.
Apesar das deficiências, Haruyoshi está vendo luz no fim do túnel:
— O pessoal do escritório que vai ao parque tem visto funcionários da Fundação Parques e Jardins repondo a vegetação em algumas áreas, com base no nosso projeto. Espero que consigam recuperar o Parque do Flamengo, que é um patrimônio da cidade.
Fonte: Caderno Rio+20, O Globo
Concordo com você quando se refere a gestão de diversas UC's. A formação de conselhos gestores e a elaboração de planos de manejo sustentáveis do ponto de vista turístico e socioambiental não garantem a sustentabilidade econômica. Geralmente esbarram em ambições pessoais de grupos que se julgam únicos defensores, quase donos dos ambientes protegidos, porém mal administrados. Falta transparência do poder público na concessão de serviços que possam contribuir para a manutenção dessas áreas.
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