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domingo, 25 de março de 2012

Número de navios na Baía de Guanabara cresce 146% em três anos e preocupa ambientalistas

Navio abandonado na Baía de Guanabara. Foto de Urbano Erbiste.

Por Simone Candida (simone.candida@oglobo.com.br) 

RIO - Quem tem o costume de contemplar o mar quando passa pela Ponte Rio-Niterói já deve ter percebido que não é só em terra que o tráfego tem andado engarrafado no Rio de Janeiro. Ultimamente, um grande movimento de navios - principalmente cargueiros, movidos pelo aquecimento do mercado de petróleo e gás no estado - vem mudando o cenário das águas da Baía de Guanabara. De acordo a Companhia Docas do Rio de Janeiro, somente nos últimos três anos houve um aumento de 146% na quantidade de embarcações que chegam ao Porto carioca. E a estimativa da autoridade portuária é que este ano o fluxo seja ainda maior: dez mil embarcações, em sua maioria navios que transportam contêineres, devem aportar por aqui. Esse "congestionamento" na Baía - que pode ser visto não só da Ponte, como de praias do Rio e de Niterói - preocupa pescadores e ambientalistas, que temem um aumento do número de acidentes.


O maior fluxo de navios estaria tendo reflexos até no trânsito de barcas e catamarãs que transportam passageiros. Segundo a Barcas S/A, devido ao tráfego intenso no mar, entre outubro de 2011 e janeiro deste ano, foi registrada uma média de 5,5 atrasos por mês nas quatro linhas que opera. De acordo com a superintendência da Companhia Docas, as boas condições do Porto (que após uma dragagem ganhou mais três metros de profundidade), a localização estratégica (perto de aeroportos), os atrativos da Cidade Maravilhosa e o aquecimento da economia são os principais motivos da "invasão" de embarcações.

Porto pode abrigar até 60 navios

Em 2009, o Porto do Rio recebeu 1.568 navios. Em 2010, o número cresceu para 2.374. E, em 2011, foram 3.861 atracações, segundo estatísticas da Companhia Docas.

- Não existe apenas um fator, mas um conjunto de motivos para essa explosão de navios. Sem dúvida, o Porto do Rio tem muitas vantagens, como a presença de estaleiros na região, a abundância de mão de obra e a proximidade com os dois aeroportos. Para as empresas, é vantajoso enviar o barco para cá e fazer a troca de tripulação, porque tanto o Santos Dumont quanto o Galeão ficam muito perto. E, se uma embarcação precisa de reparo, há grande oferta de estaleiros - explica o superintendente do Porto do Rio, Adácio Carvalho. - Sem contar que muitos tripulantes preferem o Rio pela beleza da cidade.

Na manhã do dia 7 deste mês, havia 68 navios ancorados na Baía de Guanabara. De acordo com o site da Companhia Docas, de sexta-feira passada até 4 de abril, estão programadas 37 chegadas de navios ao Porto do Rio - do total, só três são embarcações de passageiros. Apenas em janeiro passado, 405 grandes embarcações aportaram na cidade. Já pelos números da Capitania dos Por$, este ano já foram concedidas 945 autorizações para a entrada de navios na Baía de Guanabara.

Mas por que tantas embarcações? Segundo a Companhia Docas, a explicação é que nem todas aportam no chamado "cais de pedra".

- Em média, o Porto do Rio tem capacidade para receber 60 navios. Mas as pessoas acham que o Porto se resume ao cais de pedra. Nossa operação acontece também nas áreas de fundeio, onde as grandes embarcações ficam ancoradas - explica o superintendente do Porto. - A maioria dos navios (45%) é de apoio a plataformas (supply boats), 28% de porta-contêineres, 14% de petroleiros, 5% de passageiros, 3% de cargueiros e os restantes 5% distribuídos por tanqueiros, graneleiros e porta-automóveis (roll-on roll-off).

As embarcações de grande porte costumam ancorar numa das 15 áreas de fundeio da Baía de Guanabara sob responsabilidade do Porto. E há ainda as que ficam do lado de fora da Baía, aguardando instruções de suas empresas ou autorização da Capitania dos Portos para entrar.

Esse trânsito intenso de navios vem preocupando pescadores e ambientalistas, entre eles o velejador e consultor ambiental Axel Grael, que dirige o Instituto Rumo Náutico.

- Está havendo uma mudança rápida no padrão de uso da Baía de Guanabara. Até então, as águas eram usadas para pesca, transporte, atividades portuárias, esportes e lazer, algo que vinha acontecendo desde que a cidade se organizou como cidade. Mas, nos últimos cinco anos, estamos observando uma transição do uso para uma demanda de logística offshore - diz Grael, que foi presidente da Feema (órgão estadual sucedido pelo Instituto Estadual do Ambiente).

A presença dos navios também gera conflitos. O espaço para regatas, por exemplo, ficou mais restrito. Na regata "Paquetá sustentável", ano passado, alguns participantes tiveram de driblar navios, segundo os organizadores. Há atritos ainda com os pescadores, porque o aumento da quantidade de estaleiros e de instalações portuárias limita a área para pesca.

- Os grandes barcos chegam e, com eles, vêm vários pequenos estaleiros e oficinas. O movimento é grande. Muitos colocam tubulações e fios no fundo da Baía. Com isso, estamos ainda mais excluídos. A toda hora há pescadores perdendo rede e material - diz Gilberto Alves, presidente da Federação de Pescadores do Rio.

O aumento do vaivém de navios, garante a Capitania dos Portos, ainda não causou um crescimento do nú$de acidentes. De acordo com o órgão, "não há registro de nenhum abalroamento entre navios mercantes de carga e barcos de pesca ou traineiras no último ano" na região.

Biólogos que pesquisam a população de cerca de 70 botos da Baía de Guanabara já relataram ao Instituto Rumo Náutico que está cada vez mais difícil trabalhar naquelas águas.

- Esses biólogos usam em suas pesquisas a bioacústica, que consiste em pôr um microfone na água para ouvir os sons dos golfinhos. Cada vez que um navio liga um duto, o barulho é enorme e atrapalha o estudo. Interfere na pesquisa, pode estar estressando os animais e até interferindo no ciclo biológico deles - diz Axel, acrescentando que a presença de tantos barcos aumenta o risco de acidentes ambientais.

O secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, admite que o tráfego de navios preocupa. Ele acha que a solução seria a criação de um órgão gestor da Baía de Guanabara.

- Na Baía de Ilha Grande, já vamos criar um centro integrado de monitoramento da região. Nossa prioridade é fazer o mesmo aqui, no segundo semestre deste ano. A solução seria a criação desse órgão, que unisse Capitania dos Portos, governo do estado e Companhia Docas.

Cemitérios de barcos são outro problema

Um antigo fantasma ambiental ainda assombra a Baía de Guanabara: os cemitérios de barcos espalhados por vários pontos. São pequenas, médias e grandes embarcações, algumas de madeira, a maioria de estrutura metálica, que foram abandonadas pelos proprietários, principalmente no entorno da Ilha da Conceição, perto da Ponte Rio-Niterói. Segundo o secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, há pelo menos 400 barcos, entre navios, traineiras e pequenos pesqueiros, abandonados na Baía. Em novembro de 2011, uma vistoria identificou 36 barcos e carcaças só nas proximidades da Ilha da Conceição.

De acordo com o relatório da inspeção, a maioria dos barcos está em péssimo estado de conservação.

- Há muitos barcos submersos, tombados, largados sobre píeres de concreto, muitos deles sem identificação. Embora não seja atribuição nossa, já que isso tem a ver com o Ibama e a Capitania dos Portos, a secretaria resolveu agir - disse Minc.

Uma das propostas, segundo a Secretaria do Ambiente, é fazer um convênio com alguma siderúrgica, que poderia reciclar o metal dos barcos. A empresa assumiria os custos da retirada das embarcações. De acordo com Minc, já há negociações com a Gerdau Cosigua. Além disso, a Capitania dos Portos está ajudando a identificar os donos dos barcos.
 
Fonte: O Globo

Um comentário:

  1. E a cada mês aumenta o número de navios e plataformas parados próximos, as vezes muito perto mesmo, das praias de Camboinhas e Itacoatiara. Poluem não somente as águas mas as vibrações que emitem, talvez devido a geradores, chegam as casas. Precisamos cuidar da Baia de Guanabara, mas sem transferir o problema para outros lugares, principalmente reservas ambientais.

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