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quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Torben Grael se une novamente a Marcelo Ferreira para buscar a vaga da classe Star em Londres-2012

Torben Grael

Sanny Bertoldo

RIO - Torben Grael está definitivamente de volta à vela olímpica. Após abrir mão de disputar uma vaga nos Jogos Olímpicos de Pequim-2008 para fazer sua segunda Regata Volta ao Mundo, dessa vez como comandante do barco sueco com o qual foi campeão, ele e seu parceiro de sempre, Marcelo Ferreira, iniciam 2011 com os olhos fixos em Londres-2012. Se conseguir se classificar para os Jogos, esta será a sétima Olimpíada do maior velejador da história brasileira, hoje com 50 anos, e dono de cinco medalhas olímpicas, duas delas de ouro.

No caminho até Londres, a dupla terá que enfrentar Robert Scheidt e Bruno Prada, campeões mundiais em 2007, medalhas de prata em Pequim e atuais líderes do ranking mundial de Star. O embate entre as principais duplas de Star do país, tantas vezes adiado, mas agora inevitável, vai definir o representante brasileiro da classe nas Olimpíadas do ano que vem. A caminhada começa na Semana de Vela de Miami, de 23 a 29 deste mês.

Campanha olímpica

"A gente vai ter menos de um ano porque o Mundial, no fim do ano, na Austrália, é classificatório, assim como a Pré-Olímpica, no início de 2012. Esse tempo não é o ideal. No princípio, eu estava meio cético, mas o Marcelo colocou uma pilha bem forte. E no ano passado fomos muito bem, com o terceiro lugar no Mundial e no Sul-Americano, oitavo no europeu, sexto na pré-olímpica. Isso me motivou."

Rivalidade com Scheidt

"Existe uma rivalidade, lógico, porque ele também está na Star. Não somos amigos, mas também não existe uma inimizade. A gente correu junto na Prada (equipe italiana que disputa a America's Cup). Com certeza, ele é o adversário no Brasil mais preparado. E agora está morando na Itália. Esportivamente é o ideal porque a Europa é o maior centro de vela no mundo, com muita gente de alto nível, muitas competições importantes. Robert é focado. Ele se concentra em uma coisa só e vai. Então, se não treinarmos o suficiente, não vai ter como ganhar dele. Ele está na posição que a gente estava antes. Está treinando, competindo, enquanto nós estávamos fazendo outras coisas. Vai ser complicado."

Classificação polêmica

"São duas etapas. No Mundial, classifica a classe. E aí, na Pré-Olímpica, classifica o velejador. Isso é uma coisa excludente porque não é todo mundo que pode correr o Mundial, que é caríssimo. Assim, acaba favorecendo alguns. Se o cara que vencer o Mundial não for o campeão da Pré-Olímpica, haverá uma terceira vaga no exterior para decidir. Tem umas coisas que não ficaram bem resolvidas. Não existe sistema perfeito, mas o que a gente tinha (a Pré-Olímpica definia os classificados para os Jogos) era o mais simples possível e vinha dando certo, o Brasil sempre ganhou medalha assim."

Saída da Star dos Jogos

"Antigamente, as classes eram definidas tecnicamente. Agora, a escolha não tem critério. O asiático acha que não consegue competir na classe, outro acha que é caro, outro diz que é muito técnico, aí, votam para tirar a Star das Olimpíadas. É um absurdo. Não faz sentido ter Laser e Finn. São barcos tecnicamente idênticos. Assim como o 49er e o 470. De Londres, por exemplo, tiraram o Tornado, que é um barco rápido, moderno. Mas nós conversamos com o COB, acho que é interesse deles ter o Star nas Olimpíadas em 2016, no Brasil, já que é a classe que mais trouxe medalha para o país. Eles devem fazer pressão na próxima reunião da Isaf (Federação Internacional de Iatismo), em maio."

Regata Volta ao Mundo

"Tive alguns contatos (a próxima edição será 2011/2012), mas não senti nenhuma firmeza em ter um projeto do nível que foi o do Ericsson (o sueco, da edição 2008/2009). Depois de fazer duas Voltas, ter ganho uma e ter ficado em terceiro em outra (com o Brasil 1, em 2005/2006), não faz sentido fazer só por fazer. É um negócio sacrificante. É bacana pra caramba, mas é duro, e acho que se você atinge um padrão, descer é difícil. Não existe garantia de que se vai ganhar, mas tem que começar com as condições ideais para brigar."

Patrocínio

"Só temos ajuda da Confederação Brasileira. O meu patrocinador olímpico a partir de Sydney sempre foi a Prada, que não é brasileira. Mas patrocínio nunca foi fácil. Hoje eu diria que é melhor porque quando eu comecei não era nem permitido. Mas é um negócio complicado. Normalmente, quem está começando precisa igualmente de patrocínio e é mais difícil para eles. Não só na vela como na maioria dos esportes. Por isso, acho que não é porque vamos ter Olimpíadas aqui é que vai mudar alguma coisa. Falta uma política de esporte. Temos casos esporádicos de sucesso, mas não tem uma estrutura. Só o vôlei."

Confederação Brasileira

"Está insolvente. Ela tem uma dívida que é impagável, feita por uma má administração. E está sob intervenção do COB há quatro anos. E aí, não pode receber patrocínio nem fazer muita coisa. A Confederação teve uma pessoa 17 anos no poder. É um absurdo. No esporte, as pessoas se perpetuam. Quando é para o bem, pode até ser bom. Mas quando é para o mal, como foi na Confederação, pode até acabar com o esporte. Não sei porque nas Confederações e até no COB o dirigente pode ser reeleito indefinidamente se o presidente do Brasil só pode ser reeleito uma vez."

Legado da Volta ao Mundo

"Eu aprendi muito durante a primeira regata, com o Brasil 1. A ideia de competição na vela olímpica e em uma regata oceânica é diferente. Você não pode ter o mesmo nível de cobrança. A competição da vela olímpica dura duas horas. Aí você volta, esfria a cabeça, no dia seguinte vai de novo, e acaba em uma semana. Na Volta ao Mundo, uma etapa dura 20 dias, e você está 24 horas por dia na porrada. Se o negócio começa a degringolar, e você passa a cobrar, a dar bronca, as coisas fogem ao controle."

Depois das Olimpíadas

"Uma Volta ao Mundo bem feita, eu faria de novo. Mas com uma estrutura do tipo da última vez. É uma experiência fantástica. Ali você passa seus piores e melhores momentos. Quando você está lá no meio do nada e a coisa fica estranha, você pensa: 'o que eu estou fazendo aqui? Podia estar em casa, pegando uma piscininha... mas não, estou aqui igual a um pinguim'. Mas tem as compensações também. E é uma coisa grandiosa, uma cachaça. Tem muita gente que, quando acaba, fala: 'nunca mais eu subo num barco desse' e, na próxima, está lá de novo. A gente esquece os maus momentos e só lembrar dos bons."

Fonte: O Globo/Esporte, 18/01/2011

Um comentário:

  1. Robert e Bruno estão muito bem, treinando bastante e bastante focados. Mas o que se pode esperar de uma dupla como Torben e Marcelo, dois gênios da vela? Tudo! Eu desejo muito boa sorte e, sinceramente, ver mais uma medalha olímpica no peito de cada um de vocês. Um abraço Marcelo, um abraço Torben e boa sorte!

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