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quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Verdes ou mimetismo eleitoral?

Estamos presenciando um interessante momento eleitoral, que mostra como os políticos tradicionais são capazes de se mimetizar de acordo com as necessidades impostas pelo meio. O marcante sucesso eleitoral de Marina Silva, que cumpriu o que havia imaginado no início incerto de sua campanha no primeiro turno - "vencer ganhando ou perder ganhando" - está enfim proporcionando um inédito status para a agenda verde neste segundo turno presidencial. De um tema inexistente no primeiro turno, não fosse o mantra da sustentabilidade entoado à exaustão por Marina, vemos um segundo turno em que todos se dizem verdes desde pequenininhos e se esforçando para improvisar discursos ambientais.

Anunciado o resultado da votação do primeiro turno, as páginas dos jornais já começaram a estampar notícias alvissareiras: governo e PT querem rever a sua posição com relação ao esfacelamento do Código Florestal e outros temas ambientais prioritários. Serra quer convencer que sua gestão no governo de São Paulo foi um modelo de ambientalismo.

Diante da cena, é importante enxergar o que realmente há por trás do mimetismo oportunista pintado pelos marqueteiros eleitorais e pelos negociadores partidários. É preciso ver quem é o ser que de fato está por trás do manto midiático e das novas cores exibidas pelos candidatos.

De um lado vemos Dilma, com a sua fama de anti-ecológica, que atazanou a gestão de Marina (obrigando-a a deixar o governo) e de Minc no Ministério do Meio Ambiente, impondo vigorosamente a agenda desenvolvimentista do governo (PAC, Belo Monte, transgênicos, etc) goela abaixo. Junto com Dilma, havia o forte respaldo do presidente Lula que, com paródias de bagres e pererecas, criticou e procurou ridicularizar a ação dos órgãos ambientais e das autoridades responsáveis pelo licenciamento ambiental, até mesmo aqueles que estavam sob o seu comando no governo federal. Nunca antes na história do país, nem mesmo no auge do desenvolvimentismo do regime militar, a área ambiental foi tão diretamente atacada pelo próprio presidente. O desconforto e a estranheza de Dilma com o tema ambiental ficou evidente na sua desastrada participação na Conferência do Clima de Copenhague. Foi uma gafe atrás da outra. De muitos dos presentes na Conferência, tivemos relatos de grosserias da ministra com a sua própria equipe que, no esforço de preservá-la, procurava inutilmente assessorá-la.

Do outro lado está Serra, com quem marcha a maioria dos lobbies anti-meio ambiente, inclusive os ruralistas. É bom ressaltar que os ruralistas também encontram-se em profusão nas trincheiras de Dilma, dentre eles, o maior artífice do atentado contra o Código Florestal, o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Serra apressa-se em mostrar seus feitos ambientais no governo de SP, mas seriam estes realmente relevantes e reais? Grande parte do que é apresentado são canetadas surgidas já sob a influência do processo eleitoral em reação aos tropeços ambientais do governo Lula. De prático, não há muito. E o passado ambiental de Serra e do PSDB?  Há o que se apresentar?

É intrigante pensar também o que deverá estar acontecendo nos bastidores, longe dos olhos do público. Como devem estar reagindo os fortes lobbies anti-ecológicos diante do crescimento da agenda verde neste momento estratégico? O que estarão tramando os adversários do meio ambiente, como os fundamentalistas do ruralismo, certas empreiteiras, os grileiros, os desmatadores, os piromaníacos queimadores das matas do país, os criadores de bois piratas, os poluidores, etc? Essa turma toda está quieta, mas não sumiu e nem deve estar parada!!! E é importante lembrar que a bancada ruralista no Congresso se reelegeu com boa votação e, provavelmente, ampliou-se.

Do ponto de vista pragmático, vive-se um momento único. Nunca o tema ambiental ganhou a relevância que tem no momento e é preciso garantir os compromissos das duas partes. Por isto, espero que Marina e o PV não definam uma posição tão cedo, para que as promessas dos neo-verdes se aprimorem e se tornem compromissos efetivos.

Depois, passadas as eleições, virá o maior desafio: fazer com que as promessas e os compromissos sejam cumpridos na prática. Para isso, como alertamos, na hora de votar lembre-se do animal que há por baixo das cores miméticas. Além disso, que estejamos sempre alertas e vigilantes, como dizem os escoteiros. 

Axel Grael

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