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segunda-feira, 2 de novembro de 2009

"A baía olímpica", texto de Dora Negreiros

 
Reproduzimos, a seguir, artigo publicado hoje, 2 de novembro, no jornal O Globo (Opinião), por Dora Hees de Negreiros, presidente do Instituto Baía de Guanabara e membro do Conselho Diretor do Instituto Rumo Náutico (Projeto Grael).


 

A Baía Olímpica

Fala-se muito em limpar a Baía de Guanabara até as Olimpíadas de 2016. Se ela fosse uma piscina seria uma tarefa fácil: jogavam-se alguns produtos químicos e aspirava-se o fundo. Mas, com a nossa Baía, a coisa é muito mais complicada.

A Guanabara é o ralo para onde escoam as águas das chuvas depois de lavar o chão de 16 municípios do seu entorno. Recebe a sujeira através dos rios que nascem límpidos nas serras e se transformam nos fedidos Sarapuí, Iguaçu, Alcântara ou Bomba, que conhecemos na baixada. Nela vão parar pneus, sofás, sapatos, sacos plásticos, tudo que se pode imaginar. Inclusive a descarga dos verdadeiros “banheiros públicos”, em que estão transformadas muitas das nossas ruas. Nosso grande desafio, mais do que limpá-la, é parar de sujá-la.

Mas as soluções existem e a Olimpíada de 2016 é uma grande oportunidade para nos unirmos e mostrarmos competência. Vamos fazer em sete anos o que outros países levaram 50, como a recuperação do Rio Tâmisa, na Inglaterra, ou da Baía de Tóquio, no Japão.

Considerando que as empresas já cumprem o seu papel - hoje a poluição industrial não é mais a grande vilã da contaminação da Baía de Guanabara -, restam aguardando destino ambientalmente correto o lixo e os esgotos domésticos de quase 10 milhões de pessoas que moram nos municípios do seu entorno. E estes, são assuntos nossos e de nossos governos.

Dos 16 municípios, três registram IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) comparável aos dos países com alto desenvolvimento humano. Niterói, por exemplo, está entre os melhores no ranking brasileiro. Outros, entretanto, situam-se entre os últimos dos 91 municípios do Estado do Rio de Janeiro. Na distribuição de água potável, coleta e tratamento de esgotos sanitários, as disparidades não são menores. Enquanto Rio de Janeiro e Niterói têm quase cem por cento da população dotada de sistemas de abastecimento de água de boa qualidade, há municípios onde somente 30% dos domicílios têm água tratada nas torneiras. A maioria da população se abastece em poços. E se ela não tem água, não tem rede de esgotos. Sistemas de tratamento dos esgotos estão ainda disponíveis só para muito poucos municípios.

Quanto ao lixo dessas 10 milhões de pessoas, muito ainda precisa ser feito. Está na hora de implantarmos a coleta seletiva na origem – nas nossas casas. E de aprendermos a produzir menos lixo. Dos “lixões” serem transformados em “aterros sanitários” e serem retirados das margens da Baía.

Não podemos deixar a responsabilidade desta missão só para o governo, que já anuncia investimentos na área. Como cidadãos, temos que ocupar nossos espaços e exigir, desde já, que o Conselho Gestor da Baía de Guanabara, criado em 2000 através do Decreto 26.174, se reúna, o que não acontece há anos. Na Guanabara, estão portos, aeroportos, estaleiros, refinarias e terminais de petróleo e gás, instalações militares e nela se realizam a pesca, a aquicultura, o transporte de passageiros, atividades turísticas, esportes como a vela e a recreação nas praias. Os representantes de todos estes interesses querem e merecem participar desta virada olímpica.

A Baía de Guanabara precisa da ajuda de todos. E a hora é essa!


DORA HEES DE NEGREIROS é engenheira química, presidente do Instituto Baía de Guanabara – IBG.

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