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domingo, 27 de setembro de 2009

Novos tempos no Parque Estadual da Serra da Tiririca

Pedra de Itaquatiara. Parque Estadual da Serra da Tiririca. Foto Axel Grael.

Lembrando as origens do Parque da Serra da Tiririca

Tenho orgulho de ter participado do grupo de ambientalistas que sonhou e lutou pela criação do Parque, a partir do final da década de 80. Depois, em 1991, eu era o presidente do IEF - Instituto Estadual de Florestas (órgão já extinto e que administrava os parques estaduais), quando conseguimos na ALERJ- Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, a aprovação da Lei que criou o Parque. A história mostra que, quase sempre, a criação das unidades de conservação ocorre por iniciativa governamental. No caso da Serra da Tiririca, a proposta foi uma rara iniciativa de origem comunitária.

Coube a ambientalistas do Movimento Cidadania Ecológica (que eu presidia na ocasião, mas que teve como liderança no projeto “Tiririca”, os biólogos Paulo Bidegain e Alba Simon - que contaram com os trabalhos pioneiros dos também biólogos Jorge Antônio Lourenço Pontes, Paulo Carvalho e do geólogo Cláudio Martins), dar forma ao estudo técnico que embasou a criação do Parque. Do Cidadania Ecológica surgiu até mesmo a minuta de projeto de lei que foi apresentada ao presidente da Comissão de Meio Ambiente da ALERJ, o deputado Carlos Minc (hoje ministro do Meio Ambiente), que, por sua vez, deu prosseguimento à tramitação do Projeto de Lei. Muitas outras pessoas e organizações participaram ativamente do processo, contribuindo, principalmente com a mobilização comunitária e a vigília militante que afastou muitas ameaças, em particular da ação imobiliária que sempre cobiçou as terras da Serra da Tiririca. A aprovação da Lei 1901/91 consolidou a iniciativa destas organizações da sociedade civil de Niterói a Maricá.

De lá para cá, foram muitas lutas coletivas, mas, também, muitas brigas internas na militância. Esse parece ser um mal inevitável nas lutas sociais, tão suscetíveis às naturais divergências de opiniões, mas principalmente às vaidades, “estrelismos”, ambições eleitorais, aparelhamentos partidários, enfim, coisas do mundo real.

Parque avança

Depois de tanta luta, é uma grande satisfação ver o belo trabalho realizado pela atual administração do Parque Estadual da Serra da Tiririca, onde o engenheiro florestal Adriano Melo e sua equipe avançam na proteção do Parque com muita consistência e determinação.

Os tempos agora são outros. O Parque avança ainda com o apoio da comunidade, mas agora também com o respaldo de uma estrutura institucional que se aperfeiçoa, se organiza e mostra resultados. Temos agora com a infraestrutura da Sede do Parque, trilhas com melhores cuidados, uma equipe com um maior número de profissionais, viaturas. Podemos dizer que ainda estamos longe do ideal, mas os avanços são claros e precisam ser reconhecidos e celebrados. Li hoje a notícia da criação de um corpo de voluntários que já chega a 80 pessoas formalmente cadastradas e que passarão por treinamentos para potencializar a sua atuação. Ótima iniciativa. É um grande alento ver se reconstituir em torno do Parque uma nova militância cidadã e voluntária, agora motivada pela própria estrutura administrativa do Parque.

O maior protagonismo governamental na conservação da Serra da Tiririca não é nem melhor, nem pior do que tínhamos antes, é apenas um cenário diferente. Afinal, não era com isso que sonhávamos? Embora, nunca tenha deixado de existir uma militância em torno do parque, esta perdeu contingente, energia e o seu foco com o passar dos anos. A volta de uma militância mais ativa, representativa e independente também seria saudável para que os avanços se consolidem e evitar que se retroceda, hipótese que nunca se pode descartar.

O que aconteceu com os antigos ambientalistas?

A desmobilização não foi um fenômeno específico da luta pela Serra da Tiririca, mas considero que todo o movimento associativista, ambientalista ou comunitário, retrocedeu nos últimos anos. Quem viu a força das associações comunitárias nos anos 80 e início dos anos 90, e vê o que restou agora, não pode ter outra conclusão. De lá para cá, paradoxalmente, enquanto a temática ambiental ganhava gradativamente o grande público, os ambientalistas fluminenses foram saindo de cena. As ONG’s atuais, ou mudaram de forma de atuação (em muitos casos passaram a se assemelhar a escritórios de projetos) ou perderam organicidade e, por conseguinte, a legitimidade. Com a desmobilização, ONGs viraram ING’s (indivíduos não-governamentais) e até IG’s (indivíduos Governamentais). Salvo raras e heroicas excessões, são poucos e abnegados "gatos-pingados" por trás de cada grife associativa. Não desmereço essas iniciativas, muito pelo contrário, até colaboro com algumas, mas o fato é que elas já não conseguem mais a mesma repercussão na sociedade de tempos atrás.

O problema é que fracassamos na renovação de quadros nessas ONG’s. Não sei se podemos culpar a despolitização e o individualismo das novas gerações ou se devemos vestir a carapuça e reconhecer que menosprezamos a importância da atração de novos militantes. As longas e intermináveis brigas nas trincheiras ambientalistas podem também ter afastado essa nova militância, desinteressada em atuar em campo tão deteriorado por conflitos pessoais menores.

Axel Grael

2 comentários:

  1. Grael, é com triste pesar que vejo o Parque Estadual da Serra da Titirica ser ocupado por construções irregulares. Hoje mesmo descobri a existência de duas construções novas dentro do parque, ao lado de uma placa do INEA que proíbe tais constuções, no bairro Engenho do Mato,Rua 44, s/nº, com acesso pela Avenida das Esmeraldas, no antigo Sítio Rubília.

    SDS.

    Leandro Lessa

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  2. Oi Leandro,
    Obrigado pela denúncia. Encaminhei para os responsáveis pela gestão do Parque Estadual da Serra da Tiririca. Gostaria que me informasse se algo for feito...ou não for feito, para que possamos reiterar o pedido de ação por parte do INEA.
    Axel Grael

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